O Encontro é um documentário da Lumine que trás o depoimentos de diversos leigos e importantes figuras da Igreja Católica a respeito de seus encontros pessoais com Deus.
As entrevistas e depoimentos são pontuados por imagens de diferentes lugares do mundo: sugerindo, assim, a presença de Deus em todos os lugares e a possibilidade de nos encontrarmos com Ele a qualquer momento.
Além dessas imagens, vemos, em alguns momentos, algumas inserções de imagens da Paixão de Cristo. Essas imagens sugerem que o martírio de Cristo não foi apenas um acontecimento histórico, mas que ele também permeia a nossa vida presente.
Esses pequenos vislumbres da Paixão de Cristo são presságios do que veremos no final do filme: o curta-metragem Ecce Homo, representação fictícia da Paixão, que abrange os últimos momentos do Calvário: do julgamento de Cristo por Pilatos à crucificação.
As imagens do curta são belas e emocionantes, realizadas com uma qualidade técnica muito rara no cinema nacional. Filmado no formato 4:3 — também conhecido como formato acadêmico, pois foi o formato predominante no cinema desde o seu surgimento até a década de 50 — e em preto-e-branco, o filme nos remete às grandes produções do cinema clássico. As personagens não apresentam falas e o efeito emotivo é provocado apenas pela interação entre as imagens e os sons.
E é justamente no uso de alguns recursos cinematográficos como a montagem e a mixagem de som que está uma de suas maiores qualidades. Analisemos uma das cenas do filme para ver como ele cria um efeito muito impactante mesmo sem nenhuma fala:
Durante o julgamento no palácio de Pilatos, ouvimos os sons da multidão enquanto vemos o rosto de Cristo:
De repente, Ele ergue sua cabeça e olha para o céu. Aí, misturados aos sons da multidão que está no palácio, começamos a ouvir alguns sons de água. Então há um corte que mostra o que Ele está vendo:
Enquanto vemos as nuvens, a luz do sol se intensifica até ofuscar a vista e, depois de um clarão, vemos outro panorama de nuvens:
Agora, os sons de água foram intensificados, mas os sons da multidão cessaram. Embora as imagens sejam parecidas, os sons nos fazem perceber que não estamos mais no mesmo espaço, o que será confirmado pelo próximo corte, que nos revelará a cena do batismo de Cristo por João Batista:
A cena prossegue, mas não de forma “ininterrupta”, os cortes aceleram os acontecimentos e os sons não reproduzem, necessariamente, o que estamos vendo no momento, mas sugerem vários espaços diferentes. Por exemplo: depois do batismo, de ter saído da água — e de ter ouvido as palavras de Deus Pai confirmando que era o “Seu filho amado”, o que não ouvimos efetivamente, mas intuímos que tenha acontecido — o semblante de Cristo se modifica:
Ainda ouvimos os sons das ondas, mas também ouvimos o som de correntes. Depois, um corte nos revela as mãos de Cristo pegando a água. No mesmo ritmo das ondas, ouvimos também os sons das chibatadas que seriam posteriormente recebidas por Ele e a Sua respiração sufocante por causa dos golpes:
Das mãos de Cristo um corte nos leva para as mãos de Pilatos:
Aí, retornamos ao momento em que a sequência teve início. Enquanto vemos e ouvimos Pilatos lavando as mãos, continuamos a ouvir o som das chibatadas. Mas agora eles não são tão nítidos. Estão abafados.
De toda forma, a associação construída por meio do som entre o gesto de Pilatos e o castigo recebido por Cristo é muito significativa: o frade tradicionalista Jean-Dominique O. P. diz que a arma com que Jesus matou Pilatos foi a indiferença, e que essa é uma “arma” comum a todos os tempos e a todas as pessoas. Afinal, Cristo morreu pelos pecados da humanidade inteira. E a indiferença é um pecado contra o primeiro e mais importante dos mandamentos os quais, segundo Ele próprio, Sua vida humana veio confirmar.
Este é apenas um exemplo de como as cenas do curta Ecce Homo foram elaboradas. O filme tem apenas 20 minutos, mas sua construção sintetiza, mesmo em breves instantes como o que analisamos aqui, uma grande profundidade de significados.
Ao unir diferentes momentos do tempo e do espaço por meio dos recursos da linguagem cinematográfica — neste caso, especificamente, um uso muito inventivo do som e da montagem —, o filme coloca os acontecimentos retratados em uma dimensão cosmológica: a Paixão de Cristo foi um evento que aconteceu na história, mas que transcende a própria história — transcende quaisquer tempo e espaço determinados. Ela diz respeito à origem e ao fim de todas as coisas e, como pudemos ver nas entrevistas de O Encontro, diz respeito a cada um de nós.
O Encontro é um documentário da Lumine que trás o depoimentos de diversos leigos e importantes figuras da Igreja Católica a respeito de seus encontros pessoais com Deus.
As entrevistas e depoimentos são pontuados por imagens de diferentes lugares do mundo: sugerindo, assim, a presença de Deus em todos os lugares e a possibilidade de nos encontrarmos com Ele a qualquer momento.
Além dessas imagens, vemos, em alguns momentos, algumas inserções de imagens da Paixão de Cristo. Essas imagens sugerem que o martírio de Cristo não foi apenas um acontecimento histórico, mas que ele também permeia a nossa vida presente.
Esses pequenos vislumbres da Paixão de Cristo são presságios do que veremos no final do filme: o curta-metragem Ecce Homo, representação fictícia da Paixão, que abrange os últimos momentos do Calvário: do julgamento de Cristo por Pilatos à crucificação.
As imagens do curta são belas e emocionantes, realizadas com uma qualidade técnica muito rara no cinema nacional. Filmado no formato 4:3 — também conhecido como formato acadêmico, pois foi o formato predominante no cinema desde o seu surgimento até a década de 50 — e em preto-e-branco, o filme nos remete às grandes produções do cinema clássico. As personagens não apresentam falas e o efeito emotivo é provocado apenas pela interação entre as imagens e os sons.
E é justamente no uso de alguns recursos cinematográficos como a montagem e a mixagem de som que está uma de suas maiores qualidades. Analisemos uma das cenas do filme para ver como ele cria um efeito muito impactante mesmo sem nenhuma fala:
Durante o julgamento no palácio de Pilatos, ouvimos os sons da multidão enquanto vemos o rosto de Cristo:
De repente, Ele ergue sua cabeça e olha para o céu. Aí, misturados aos sons da multidão que está no palácio, começamos a ouvir alguns sons de água. Então há um corte que mostra o que Ele está vendo:
Enquanto vemos as nuvens, a luz do sol se intensifica até ofuscar a vista e, depois de um clarão, vemos outro panorama de nuvens:
Agora, os sons de água foram intensificados, mas os sons da multidão cessaram. Embora as imagens sejam parecidas, os sons nos fazem perceber que não estamos mais no mesmo espaço, o que será confirmado pelo próximo corte, que nos revelará a cena do batismo de Cristo por João Batista:
A cena prossegue, mas não de forma “ininterrupta”, os cortes aceleram os acontecimentos e os sons não reproduzem, necessariamente, o que estamos vendo no momento, mas sugerem vários espaços diferentes. Por exemplo: depois do batismo, de ter saído da água — e de ter ouvido as palavras de Deus Pai confirmando que era o “Seu filho amado”, o que não ouvimos efetivamente, mas intuímos que tenha acontecido — o semblante de Cristo se modifica:
Ainda ouvimos os sons das ondas, mas também ouvimos o som de correntes. Depois, um corte nos revela as mãos de Cristo pegando a água. No mesmo ritmo das ondas, ouvimos também os sons das chibatadas que seriam posteriormente recebidas por Ele e a Sua respiração sufocante por causa dos golpes:
Das mãos de Cristo um corte nos leva para as mãos de Pilatos:
Aí, retornamos ao momento em que a sequência teve início. Enquanto vemos e ouvimos Pilatos lavando as mãos, continuamos a ouvir o som das chibatadas. Mas agora eles não são tão nítidos. Estão abafados.
De toda forma, a associação construída por meio do som entre o gesto de Pilatos e o castigo recebido por Cristo é muito significativa: o frade tradicionalista Jean-Dominique O. P. diz que a arma com que Jesus matou Pilatos foi a indiferença, e que essa é uma “arma” comum a todos os tempos e a todas as pessoas. Afinal, Cristo morreu pelos pecados da humanidade inteira. E a indiferença é um pecado contra o primeiro e mais importante dos mandamentos os quais, segundo Ele próprio, Sua vida humana veio confirmar.
Este é apenas um exemplo de como as cenas do curta Ecce Homo foram elaboradas. O filme tem apenas 20 minutos, mas sua construção sintetiza, mesmo em breves instantes como o que analisamos aqui, uma grande profundidade de significados.
Ao unir diferentes momentos do tempo e do espaço por meio dos recursos da linguagem cinematográfica — neste caso, especificamente, um uso muito inventivo do som e da montagem —, o filme coloca os acontecimentos retratados em uma dimensão cosmológica: a Paixão de Cristo foi um evento que aconteceu na história, mas que transcende a própria história — transcende quaisquer tempo e espaço determinados. Ela diz respeito à origem e ao fim de todas as coisas e, como pudemos ver nas entrevistas de O Encontro, diz respeito a cada um de nós.
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