O Encontro no Encontro
Por Francisco Escorsim
|
17.abr.2025
Midle Dot

Um pouco de bastidores. Meses atrás, Gustavo Leite, roteirista e co-diretor da mais nova produção da Lumine, O Encontro, enviou-me o roteiro do curta que faz parte do filme. Queria saber o que eu achava, se tinha alguma sugestão ou mesmo crítica. Fiquei impressionado, parecendo perfeito. Não havia nada a sugerir ou questionar, nada. 

A partir dali, fiquei receoso. Entre o roteiro e o resultado final de um filme há uma distância imensa. Tanto a obra pode salvar um mau roteiro como desperdiçar um bom. Em qualquer dos casos, faz parte do processo. Cinema é uma obra coletiva e por melhor que seja o trabalho, no fim das contas o resultado pode ficar aquém do esforço meritório.

Meu maior temor era com o trabalho dos atores. O roteiro não tinha diálogos, o curta seria um Evangelho em imagens, o que obrigaria os atores a entregarem um trabalho mais do que consistente de expressão corporal, especialmente facial. Não seria fácil, nem simples.

Ainda mais quando se tem o exemplo de Jim Caviezel no A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. A interpretação de Jesus feita pelo ator, ouso dizer, é miraculosa. O medo, a dor, a compaixão profunda sem nenhum resquício de raiva, mágoa ou ódio, tudo transborda da expressão corporal dele, especialmente do seu olhar.

A interpretação é tão notável que é impossível não lembrar (e comparar) quando assistimos outros no mesmo papel, como Jonathan Roumie em The Chosen, que fica a léguas de distância da profundidade espiritual que Caviezel conseguiu representar.

Enfim, veio o filme e, graças a Deus, os parágrafos acima podem ser ignorados. O resultado final do curta ficou excelente, com boas atuações catalisadas por uma montagem de cenas muito bem feita, com escolhas de ângulos de câmera e enquadramentos que realçam o drama retratado, nele absorvendo o espectador que silencia interiormente diante do que vê e sofre com o gotejar do sangue, o arrastar da cruz, os gemidos de dor. 

E o fato de não ter falas acaba servindo ao espectador para fazer um diagnóstico de a quantas andam seus encontros com Cristo. Se ficou meio perdido, sem saber direito do que se tratava, é sinal claro de falta de leitura dos Evangelhos e de pouca oração do Santo Rosário, cujo hábito não demora a gravar na alma as passagens e falas que não são citadas, mas estão presentes no curta.

Se o leitor ainda não assistiu, pode aproveitar que a Lumine o disponibilizou gratuitamente no seu canal no YouTube, porém, contudo, entretanto, todavia, eu fortemente recomendo que assista o filme completo na plataforma, do qual o curta é uma de suas partes e se torna muito mais significativo se assistido neste contexto.

Sem medo de spoilers, explico por que acho isso. Se no curta não há falas, várias das vozes dos entrevistados nas demais partes não são acompanhadas de suas imagens, salvo as dos religiosos (padres, bispos, freiras). A maioria das falas são relatos de seus encontros com Jesus, e foram coletadas de todas as partes do mundo. Entremeadas às vozes temos as imagens de cidades e da natureza, com a câmera procurando por Aquele a quem quer encontrar. Onde Ele está?

Os sinais de sua presença estão por toda parte, a criação O manifesta e testifica e mesmo nos lugares em que a criação humana se sobrepõe, como nas cidades. Lá Ele também está, como o filme descobre nas inúmeras cruzes que encontra, voluntárias ou não. Até na degradação urbana sua presença é sentida, justamente como o que está faltando, exilada pelos nossos desencontros.

Mas o filme é sobre o encontro com Cristo, que é uma pessoa. Este encontro específico é diferente. Até alguém como o padre Paulo Ricardo, como revela em sua fala no filme, não O encontrou quando quis e porque quis. As falas servem para iluminar quem seria Aquele que desejamos encontrar, ensinar como é possível encontrá-Lo e traz diversos testemunhos deste encontro acontecido. 

É aí que o curta entra. Ele vai se insinuando durante o filme até calar todas as vozes com sua presença, que é a Dele porque as imagens são fiéis aos Evangelhos, onde está o Verbo que estava no princípio de tudo, estava com Deus e era Deus e se encarnou como um ser humano chamado Jesus. 

As cenas de sua Paixão se tornam um lugar de encontro para o espectador, da forma como o citado padre Paulo Ricardo falou, a partir da cruz que se impõe, cujo sofrimento então se transfigura, fazendo da morte uma passagem para a vida, não o seu fim. Não há domingo de ressurreição sem a morte na sexta-feira santa. Não há encontro com Jesus sem a aceitação da cruz de cada dia.   

O que a Lumine conseguiu com seu Encontro não é pouco. É para se guardar com carinho, revisitando toda semana Santa e em todas aquelas em que a cruz parece estar pesada demais para ser carregada. É quando Ele mais nos espera, aliás.


“O Encontro” e centenas de filmes com bons valores disponíveis para você, com 35% de desconto para sempre. Libere o seu acesso agora:

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Um pouco de bastidores. Meses atrás, Gustavo Leite, roteirista e co-diretor da mais nova produção da Lumine, O Encontro, enviou-me o roteiro do curta que faz parte do filme. Queria saber o que eu achava, se tinha alguma sugestão ou mesmo crítica. Fiquei impressionado, parecendo perfeito. Não havia nada a sugerir ou questionar, nada. 

A partir dali, fiquei receoso. Entre o roteiro e o resultado final de um filme há uma distância imensa. Tanto a obra pode salvar um mau roteiro como desperdiçar um bom. Em qualquer dos casos, faz parte do processo. Cinema é uma obra coletiva e por melhor que seja o trabalho, no fim das contas o resultado pode ficar aquém do esforço meritório.

Meu maior temor era com o trabalho dos atores. O roteiro não tinha diálogos, o curta seria um Evangelho em imagens, o que obrigaria os atores a entregarem um trabalho mais do que consistente de expressão corporal, especialmente facial. Não seria fácil, nem simples.

Ainda mais quando se tem o exemplo de Jim Caviezel no A Paixão de Cristo, de Mel Gibson. A interpretação de Jesus feita pelo ator, ouso dizer, é miraculosa. O medo, a dor, a compaixão profunda sem nenhum resquício de raiva, mágoa ou ódio, tudo transborda da expressão corporal dele, especialmente do seu olhar.

A interpretação é tão notável que é impossível não lembrar (e comparar) quando assistimos outros no mesmo papel, como Jonathan Roumie em The Chosen, que fica a léguas de distância da profundidade espiritual que Caviezel conseguiu representar.

Enfim, veio o filme e, graças a Deus, os parágrafos acima podem ser ignorados. O resultado final do curta ficou excelente, com boas atuações catalisadas por uma montagem de cenas muito bem feita, com escolhas de ângulos de câmera e enquadramentos que realçam o drama retratado, nele absorvendo o espectador que silencia interiormente diante do que vê e sofre com o gotejar do sangue, o arrastar da cruz, os gemidos de dor. 

E o fato de não ter falas acaba servindo ao espectador para fazer um diagnóstico de a quantas andam seus encontros com Cristo. Se ficou meio perdido, sem saber direito do que se tratava, é sinal claro de falta de leitura dos Evangelhos e de pouca oração do Santo Rosário, cujo hábito não demora a gravar na alma as passagens e falas que não são citadas, mas estão presentes no curta.

Se o leitor ainda não assistiu, pode aproveitar que a Lumine o disponibilizou gratuitamente no seu canal no YouTube, porém, contudo, entretanto, todavia, eu fortemente recomendo que assista o filme completo na plataforma, do qual o curta é uma de suas partes e se torna muito mais significativo se assistido neste contexto.

Sem medo de spoilers, explico por que acho isso. Se no curta não há falas, várias das vozes dos entrevistados nas demais partes não são acompanhadas de suas imagens, salvo as dos religiosos (padres, bispos, freiras). A maioria das falas são relatos de seus encontros com Jesus, e foram coletadas de todas as partes do mundo. Entremeadas às vozes temos as imagens de cidades e da natureza, com a câmera procurando por Aquele a quem quer encontrar. Onde Ele está?

Os sinais de sua presença estão por toda parte, a criação O manifesta e testifica e mesmo nos lugares em que a criação humana se sobrepõe, como nas cidades. Lá Ele também está, como o filme descobre nas inúmeras cruzes que encontra, voluntárias ou não. Até na degradação urbana sua presença é sentida, justamente como o que está faltando, exilada pelos nossos desencontros.

Mas o filme é sobre o encontro com Cristo, que é uma pessoa. Este encontro específico é diferente. Até alguém como o padre Paulo Ricardo, como revela em sua fala no filme, não O encontrou quando quis e porque quis. As falas servem para iluminar quem seria Aquele que desejamos encontrar, ensinar como é possível encontrá-Lo e traz diversos testemunhos deste encontro acontecido. 

É aí que o curta entra. Ele vai se insinuando durante o filme até calar todas as vozes com sua presença, que é a Dele porque as imagens são fiéis aos Evangelhos, onde está o Verbo que estava no princípio de tudo, estava com Deus e era Deus e se encarnou como um ser humano chamado Jesus. 

As cenas de sua Paixão se tornam um lugar de encontro para o espectador, da forma como o citado padre Paulo Ricardo falou, a partir da cruz que se impõe, cujo sofrimento então se transfigura, fazendo da morte uma passagem para a vida, não o seu fim. Não há domingo de ressurreição sem a morte na sexta-feira santa. Não há encontro com Jesus sem a aceitação da cruz de cada dia.   

O que a Lumine conseguiu com seu Encontro não é pouco. É para se guardar com carinho, revisitando toda semana Santa e em todas aquelas em que a cruz parece estar pesada demais para ser carregada. É quando Ele mais nos espera, aliás.


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