10 princípios obrigatórios para entender um filme de verdade
Por Redação Lumine
|
26.jul.2025
Midle Dot

Assistir a um filme pode ser apenas entretenimento ou uma verdadeira experiência de descoberta do mundo e de si mesmo. Mas o que separa o espectador comum daquele que realmente entende o que vê?

A capacidade de ver filmes como filmes, e não como meros discursos. 

O teórico do cinema David Bordwell, um dos maiores críticos da modernidade,  nos dá o caminho para que possamos entender um filme de verdade, analisando não só a técnica ou a história, mas também a mensagem que o diretor quis passar com ele. 

Veja a seguir os 10 princípios obrigatórios para entender um filme de verdade e nunca mais depender de resenhas rasas: 

1. Todo filme é uma construção formal

O cinema vai muito além da contação de histórias. Um filme é feito de imagens, sons, cortes, movimentos e silêncios que se organizam de modo intencional. Esta intencionalidade se chama forma, e ela é tão importante quanto o que está sendo contado. Isso acontece porque partimos do princípio de que cada elemento do filme foi posto seguindo uma lógica que contribui para a sua totalidade. Cada detalhe influencia na mensagem final. Entender um filme, portanto, é julgá-lo como uma obra de arte, que tem a suas características próprias, não apenas como uma sequência de falas.

2. A narrativa é baseada em causa e efeito

Você já deve ter percebido que, nos filmes, um evento nunca acontece por acaso. Em cada cena existe uma cadeia de causas e consequências, que nos situa no universo dos personagens. Afinal, o maior objetivo do diretor é reter a atenção do espectador até o fim da história, e todo elemento, ainda que pareça insignificante, contribui para o nosso envolvimento com o que está sendo contado. 

Por isso, sempre desconfie dos detalhes. Existem vários jeitos de desenvolver uma narrativa: de forma linear, através de um sonho, com flashbacks, entrevistas… A forma que o diretor escolhe mostrar ou esconder os fatos também determina o sentido da história. 

3. Personagens são motores da história

Você pode amar ou odiar um personagem, mas o que importa é o que ele faz pela história. Bordwell nos mostra que personagens são agentes de ação: eles desejam algo, tomam decisões e enfrentam suas consequências.

Na linguagem do cinema, o personagem é quem ativa a narrativa. Ele tem uma função dramática. E entender essa função é essencial para compreender por que a história se move.

4. Forma gera expectativa, e joga com ela

Quando você assiste a um filme, você desenvolve esperanças sobre o que vai acontecer, como os personagens agirão e quais emoções serão despertadas. E é justamente nesse terreno que o cinema se move. O filme joga com a sua expectativa. Ele pode entregá-la exatamente como você imaginava, pode adiá-la para gerar tensão, ou pode frustrá-la e surpreender.

Esse jogo, além de ser deliberado, é um mecanismo essencial da linguagem cinematográfica. Os cortes, a música, a atuação, a iluminação — tudo pode ser usado para sugerir algo que está por vir.

Quando você observa a forma que essa expectativa, você deixa de ser ativa e consciente.

5. Tudo em cena tem uma função (mise-en-scène)

Cenários, objetos, figurinos, luz, gestos, expressões: tudo o que aparece diante da câmera é cuidadosamente escolhido para compor sua totalidade. A isso damos o nome de mise-en-scène — termo francês que significa literalmente “colocar em cena”.

Na linguagem do cinema, mise-en-scène é a arte de organizar o visível. É como o filme pensa com imagens, expressando ideias e emoções sem precisar de palavras. Observar a mise-en-scène é perceber como cada detalhe da imagem colabora com a narrativa e com o clima da história.

Um figurino desgastado pode revelar a luta interior de um personagem. A luz suave pode sugerir acolhimento; a luz dura, tensão. Um objeto ao fundo pode ter mais significado do que parece.

6. O som é uma ferramenta narrativa

Bordwell nos convida a escutar o filme, não apenas vê-lo. Prestar atenção ao som é perceber como ele nos guia — aumentando a tensão, sugerindo algo que ainda não vemos, ou nos colocando dentro do mundo do personagem.

A trilha sonora pode antecipar um perigo ou intensificar a beleza de um momento. Um silêncio súbito pode dizer mais que um diálogo. Ruídos específicos podem revelar o estado de espírito de um personagem ou dar pistas do que está por vir.

Na linguagem do cinema, falamos de trilha, efeitos sonoros, silêncio e mixagem — elementos que, juntos, fazem do som uma ferramenta narrativa tão poderosa quanto a imagem.

7. Montagem cria sentido pela justaposição

O que acontece entre uma imagem e outra é tão importante quanto o que vemos em cada quadro. A isso chamamos de montagem: a arte de organizar imagens no tempo. Mais do que costurar cenas, a montagem cria significados ao colocar imagens lado a lado. Bordwell mostra que nenhuma imagem isolada carrega o mesmo peso que uma sequência cuidadosamente montada. O sentido nasce da justaposição.

A montagem nos guia pelo tempo, pelo espaço e, principalmente, pela emoção. Ela dita o ritmo, constrói paralelos, destaca contrastes, cria tensão ou alívio. Pode nos fazer saltar anos em segundos ou nos prender a um único instante com intensidade.

8. Cada filme segue (ou quebra) regras

Nenhum filme nasce no vácuo. Todo filme se insere em um universo de regras não ditas, convenções do gênero, da época, da cultura. Bordwell nos lembra que entender essas regras nos permite ver como o filme joga dentro ou fora das linhas.

O espectador atento percebe quando um filme usa clichês ou os subverte, quando obedece a uma estética dominante ou propõe algo radicalmente novo. Isso é parte da linguagem do cinema: saber que há um repertório comum e que filmes dialogam com ele o tempo todo.

9. Significado explícito x implícito

Filmes não dizem tudo. Eles sugerem, insinuam, convidam à leitura entre as linhas. Bordwell nos mostra que um filme comunica em camadas: existe o significado explícito — o que é dito, mostrado, evidente — e o significado implícito — aquilo que está nas entrelinhas, esperando ser descoberto.

Entender um filme de verdade é perceber o que ele nos faz sentir e pensar, sem nos contar diretamente. É captar a emoção contida num olhar, o subtexto de uma conversa, a simbologia de uma imagem.

A linguagem do cinema trabalha com essas camadas usando imagem, som, atuação e montagem. Muitas vezes, é no não-dito que o filme nos impacta mais profundamente.

10. Você também constrói o filme

Filmes não são completos sem o olhar de quem assiste. Bordwell afirma que o espectador constrói sentido junto com o filme. Você percebe, compara, antecipa, interpreta.

Na linguagem do cinema, isso quer dizer que a experiência de ver um filme é ativa. Entender um filme é também entender como você foi guiado a certas emoções e ideias. 

Leia mais em:

5 livros para conhecer mais sobre cinema
O cinema como misericórdia
A elegância no cinema
Como os filmes dialogam com a fé

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Assistir a um filme pode ser apenas entretenimento ou uma verdadeira experiência de descoberta do mundo e de si mesmo. Mas o que separa o espectador comum daquele que realmente entende o que vê?

A capacidade de ver filmes como filmes, e não como meros discursos. 

O teórico do cinema David Bordwell, um dos maiores críticos da modernidade,  nos dá o caminho para que possamos entender um filme de verdade, analisando não só a técnica ou a história, mas também a mensagem que o diretor quis passar com ele. 

Veja a seguir os 10 princípios obrigatórios para entender um filme de verdade e nunca mais depender de resenhas rasas: 

1. Todo filme é uma construção formal

O cinema vai muito além da contação de histórias. Um filme é feito de imagens, sons, cortes, movimentos e silêncios que se organizam de modo intencional. Esta intencionalidade se chama forma, e ela é tão importante quanto o que está sendo contado. Isso acontece porque partimos do princípio de que cada elemento do filme foi posto seguindo uma lógica que contribui para a sua totalidade. Cada detalhe influencia na mensagem final. Entender um filme, portanto, é julgá-lo como uma obra de arte, que tem a suas características próprias, não apenas como uma sequência de falas.

2. A narrativa é baseada em causa e efeito

Você já deve ter percebido que, nos filmes, um evento nunca acontece por acaso. Em cada cena existe uma cadeia de causas e consequências, que nos situa no universo dos personagens. Afinal, o maior objetivo do diretor é reter a atenção do espectador até o fim da história, e todo elemento, ainda que pareça insignificante, contribui para o nosso envolvimento com o que está sendo contado. 

Por isso, sempre desconfie dos detalhes. Existem vários jeitos de desenvolver uma narrativa: de forma linear, através de um sonho, com flashbacks, entrevistas… A forma que o diretor escolhe mostrar ou esconder os fatos também determina o sentido da história. 

3. Personagens são motores da história

Você pode amar ou odiar um personagem, mas o que importa é o que ele faz pela história. Bordwell nos mostra que personagens são agentes de ação: eles desejam algo, tomam decisões e enfrentam suas consequências.

Na linguagem do cinema, o personagem é quem ativa a narrativa. Ele tem uma função dramática. E entender essa função é essencial para compreender por que a história se move.

4. Forma gera expectativa, e joga com ela

Quando você assiste a um filme, você desenvolve esperanças sobre o que vai acontecer, como os personagens agirão e quais emoções serão despertadas. E é justamente nesse terreno que o cinema se move. O filme joga com a sua expectativa. Ele pode entregá-la exatamente como você imaginava, pode adiá-la para gerar tensão, ou pode frustrá-la e surpreender.

Esse jogo, além de ser deliberado, é um mecanismo essencial da linguagem cinematográfica. Os cortes, a música, a atuação, a iluminação — tudo pode ser usado para sugerir algo que está por vir.

Quando você observa a forma que essa expectativa, você deixa de ser ativa e consciente.

5. Tudo em cena tem uma função (mise-en-scène)

Cenários, objetos, figurinos, luz, gestos, expressões: tudo o que aparece diante da câmera é cuidadosamente escolhido para compor sua totalidade. A isso damos o nome de mise-en-scène — termo francês que significa literalmente “colocar em cena”.

Na linguagem do cinema, mise-en-scène é a arte de organizar o visível. É como o filme pensa com imagens, expressando ideias e emoções sem precisar de palavras. Observar a mise-en-scène é perceber como cada detalhe da imagem colabora com a narrativa e com o clima da história.

Um figurino desgastado pode revelar a luta interior de um personagem. A luz suave pode sugerir acolhimento; a luz dura, tensão. Um objeto ao fundo pode ter mais significado do que parece.

6. O som é uma ferramenta narrativa

Bordwell nos convida a escutar o filme, não apenas vê-lo. Prestar atenção ao som é perceber como ele nos guia — aumentando a tensão, sugerindo algo que ainda não vemos, ou nos colocando dentro do mundo do personagem.

A trilha sonora pode antecipar um perigo ou intensificar a beleza de um momento. Um silêncio súbito pode dizer mais que um diálogo. Ruídos específicos podem revelar o estado de espírito de um personagem ou dar pistas do que está por vir.

Na linguagem do cinema, falamos de trilha, efeitos sonoros, silêncio e mixagem — elementos que, juntos, fazem do som uma ferramenta narrativa tão poderosa quanto a imagem.

7. Montagem cria sentido pela justaposição

O que acontece entre uma imagem e outra é tão importante quanto o que vemos em cada quadro. A isso chamamos de montagem: a arte de organizar imagens no tempo. Mais do que costurar cenas, a montagem cria significados ao colocar imagens lado a lado. Bordwell mostra que nenhuma imagem isolada carrega o mesmo peso que uma sequência cuidadosamente montada. O sentido nasce da justaposição.

A montagem nos guia pelo tempo, pelo espaço e, principalmente, pela emoção. Ela dita o ritmo, constrói paralelos, destaca contrastes, cria tensão ou alívio. Pode nos fazer saltar anos em segundos ou nos prender a um único instante com intensidade.

8. Cada filme segue (ou quebra) regras

Nenhum filme nasce no vácuo. Todo filme se insere em um universo de regras não ditas, convenções do gênero, da época, da cultura. Bordwell nos lembra que entender essas regras nos permite ver como o filme joga dentro ou fora das linhas.

O espectador atento percebe quando um filme usa clichês ou os subverte, quando obedece a uma estética dominante ou propõe algo radicalmente novo. Isso é parte da linguagem do cinema: saber que há um repertório comum e que filmes dialogam com ele o tempo todo.

9. Significado explícito x implícito

Filmes não dizem tudo. Eles sugerem, insinuam, convidam à leitura entre as linhas. Bordwell nos mostra que um filme comunica em camadas: existe o significado explícito — o que é dito, mostrado, evidente — e o significado implícito — aquilo que está nas entrelinhas, esperando ser descoberto.

Entender um filme de verdade é perceber o que ele nos faz sentir e pensar, sem nos contar diretamente. É captar a emoção contida num olhar, o subtexto de uma conversa, a simbologia de uma imagem.

A linguagem do cinema trabalha com essas camadas usando imagem, som, atuação e montagem. Muitas vezes, é no não-dito que o filme nos impacta mais profundamente.

10. Você também constrói o filme

Filmes não são completos sem o olhar de quem assiste. Bordwell afirma que o espectador constrói sentido junto com o filme. Você percebe, compara, antecipa, interpreta.

Na linguagem do cinema, isso quer dizer que a experiência de ver um filme é ativa. Entender um filme é também entender como você foi guiado a certas emoções e ideias. 

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