As sete dores de Nossa Senhora no cinema contemporâneo
Por Redação Lumine
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15.set.2025
Midle Dot

A devoção a Nossa Senhora das Dores remonta ao século XI.

É uma devoção que nos faz relembrar das sete maiores dores que Maria sofreu durante a sua vida e a de seu filho, Jesus Cristo. São elas:

1. A profecia de Simeão sobre a vida de Cristo (Lc. 2, 34-35).

2. A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mt. 2,13-21).

3. A perda do menino Jesus e o reencontro com Ele no templo (Lc. 2, 41-51).

4. O encontro com Cristo no caminho do Calvário (Lc. 23, 27-31).

5. A contemplação do sofrimento e da morte de Cristo na Cruz (Jo. 19, 25-27).

6. O recebimento do corpo de Cristo tirado da Cruz (Mt. 27, 55-61).

7. A contemplação do sepultamento de Cristo no Santo Sepulcro (Lc. 23:55-56).

A devoção se desenvolveu e passou a ser cada vez mais difundida, até a celebração ser inserida no calendário litúrgico da Igreja.

No século XVII, a memória era celebrada no terceiro domingo de setembro. No século XVIII, ela foi transferida para a sexta-feira antes do Domingo de Ramos. Mais tarde, no século XIX, foi novamente transferida para o terceiro domingo de setembro. Até que, em 1914, por determinação do papa Pio X, ficou estabelecida a celebração no dia 15 de setembro, um dia depois da festa da “Exaltação da Santa Cruz”.

A devoção às sete dores de Maria deu origem ao título de Nossa Senhora das Dores, geralmente representada ajoelhada aos pés da Cruz, sentada, com o corpo de Cristo nos braços (Pietá), ou olhando para o céu com uma expressão dolorosa e o coração exposto transpassado por uma espada — ou por sete, simbolizando cada uma das dores.

Algumas representações de Nossa Senhora das dores e da pietá

As dores de Nossa Senhora no cinema

A vida e da paixão de Cristo é um dos principais temas da história do cinema.

No entanto, na maior parte dos filmes mais conhecidos, a figura de Nossa Senhora não é tão enfatizada.

Uma das exceções mais célebres é A paixão de Cristo, de Mel Gibson, produzido em 2004.

O filme de Mel Gibson foi concebido a partir de uma perspectiva explicitamente católica e, por isso, enfatiza as dores de Nossa Senhora e explora o seu papel como corredentora na salvação da humanidade.

Mas, além desse retrato direto das dores de Nossa Senhora, existem filmes nos quais o conflito principal da narrativa dialoga com os sofrimentos de Maria.

Filmes que não fazem nenhuma menção direta à religião mas que, por meio do retrato dos sofrimentos humanos, ligam-se aos sofrimentos de Nossa Senhora e nos convidam a uma reflexão a respeito do sofrimento em nossas próprias vidas.

É certo que, como disse uma vez Santo Ildefonso, “Dizer que as dores de Maria foram maiores do que os tormentos enfrentados por todos os mártires da história é muito pouco.” No entanto, um dos grandes frutos das meditações presentes na devoção a Nossa Senhora das Dores é justamente a compreensão de sua universalidade.

Pensando nisso, elaboramos uma lista de filmes contemporâneos que, além de sua qualidade artística, podem servir como um exercício para nos aproximar das meditações sobre as dores de Maria.

1ª Dor de Nossa Senhora – a profecia de Simeão

Filme A estrada (2009, dir. John Hillcoat)

Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, A estrada nos faz acompanhar um pai e um filho que atravessam um mundo pós-apocalíptico devastado pela miséria e pela violência. Na passagem bíblica em que a Sagrada Família leva Jesus recém-nascido para ser apresentado no templo, eles encontram com o velho Simeão que diz à Maria: “uma espada transpassará o seu coração” (imagem que, como vimos, foi adotada pela iconografia de Nossa Senhora das Dores).

Da mesma maneira, em A Estrada, os pais do menino sabem que amar um filho em um mundo em ruínas é conviver com a iminente possibilidade da tragédia. No entanto, em meio a esse cenário de desolação, é justamente este amor que indica a possibilidade de esperança e de redenção.

2ª Dor de Nossa Senhora – a fuga para o Egito

Filme Filhos da esperança (2006, dir. Alfonso Cuáron)

Filhos da Esperança também nos apresenta um cenário distópico: a humanidade está ameaçada, pois já não existem mais mulheres férteis. Nessa circunstância, uma jovem chamada Kee engravida de modo inexplicável. Sua gravidez é um verdadeiro milagre, mas, na circunstância em que ela ocorre, é ameaçada por forças políticas e pela brutalidade de grupos revolucionários.

Kee precisa encontrar um lugar seguro onde possa dar à luz e, depois do nascimento, precisa proteger o seu filho das ameaças que o cercam. Simbolicamente, o filho de Kee representa a última esperança da humanidade (como Cristo). Concretamente, Kee experimenta a mesma angústia vivida no episódio da fuga da Sagrada Família para o Egito: a necessidade de proteger uma criança indefesa — que salvará o mundo — contra inimigos hostis; o exílio, a insegurança e a vulnerabilidade. E, acima de tudo, precisa enfrentar o terror da possibilidade de que a violência possa destruir a semente da salvação antes que ela tenha florescido.  

3ª Dor de Nossa Senhora – a perda do menino Jesus

Filme A troca (2008, dir. Clint Eastwood).

A Troca narra a história real de Christine Collins. Em 1928, na cidade de Los Angeles, o filho de Christine desapareceu de modo misterioso. Ela aciona a polícia que, depois de algumas investigações, encontra uma criança e a leva até ela. No entanto, a criança encontrada não o verdadeiro filho de Christine. Mas ninguém acredita em sua palavra.

Os três dias que decorrem desde a perda do menino Jesus até o seu reencontro prefiguram os três dias que se passarão entre a sua morte e a sua ressureição. Metaforicamente, é a dor sentida por todos os seres humanos que vivem afastados de Cristo.

Da mesma forma, a dor dilacerante sentida por Christine Collins na ausência do filho é um eco da dor sentida por Nossa Senhora quando percebeu que Jesus não estava mais ao seu lado na peregrinação. Ao mesmo tempo, a esperança demonstrada por Christine no filme é um símbolo da fé inabalável que é necessária para atravessar o “vale de lágrimas” da vida.

4ª Dor de Nossa Senhora – o encontro no caminho do Calvário

Filme Dívida de honra (2014, dir. Tommy Lee Jones)

Em Dívida de Honra, o espectador não acompanha, necessariamente, a história de uma mãe e de um filho, mas é confrontado com uma circunstância em que a personagem principal testemunha inúmeros sofrimentos e humilhações inevitáveis.

Em um vilarejo distante do Nebraska, no ano de 1854, um grupo de mulheres é acometido pela “loucura das pradarias”, um tipo de demência adquirido devido a fatores como o isolamento social, o clima severo, a monotonia do ambiente, o trabalho árduo e a mortalidade infantil. Nessa situação, Mary Bee Cuddy, uma piedosa professora aposentada, toma para si a missão de levar as mulheres enlouquecidas até uma sociedade de proteção às mulheres mantida por uma igreja metodista. A jornada é longa e, naquele ambiente inóspito, Mary Bee enfrentará uma série de obstáculos — naturais e humanos, pois, além dos estigmas sociais trazidos pela demência, as mulheres também são altamente vulneráveis.

A tradição de Igreja diz que, no episódio do encontro de Maria com Cristo no caminho do Calvário, qualquer um que olhasse para ela poderia ver, como em um reflexo, o sofrimento de toda a humanidade, pois, naquele momento, Cristo não estava sofrendo apenas das dores físicas infligidas pelos soldados romanos, Ele tinha consciência dos pecados dos homens.

Assim, em Dívida de honra, ao assumir a missão de salvar as mulheres doentes, Mary Bee encarna a figura mariana: ela testemunha o sofrimento, a condenação social e a hostilidade sofridos por aquelas mulheres, e decide se doar por elas até as últimas consequências.

5ª Dor de Nossa Senhora – a morte na Cruz

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é QUO-VADIS-AIDA.webp

Filme Quo Vadis, Aida? (2020, dir. Jasmila Zbanic)

Assim como A Troca, de Clint Eastwood, Quo Vadis, Aida? também é um filme baseado em uma história real.

Embora a protagonista do filme, a tradutora da ONU Aida, não seja uma figura real, ela sintetiza as inúmeras mães, esposas e irmãs tiveram seus filhos, esposos, irmãos, etc. mortos no massacre de Srebrenica, durante a guerra da Bósnia, no final dos anos 90.

Aida não testemunha de forma ocular o sacrifício de seus filhos, mas seu sofrimento ecoa o de Maria aos pés da Cruz: a despeito de todos os seus esforços, ela não pode fazer nada para impedir a morte eminente de seus entes queridos.

A tradição da Igreja diz que, no momento da crucificação, o sofrimento de Maria foi tão grande que é como se ela também houvesse sido martirizada. Sentimento que ecoa, ainda que em menor nível, em toda mãe que perde seu filho de modo trágico.

6ª Dor de Nossa Senhora – a descida da Cruz

Filme O Filho de Saul (2015, dir. Lászlo Nemes)

Por ser uma das grandes manchas da história moderna, o Holocausto é um dos temas mais abordados pelo cinema. Por isso, é difícil de abordá-lo de uma forma inventiva. Mas o filme O Filho de Saul foi bem sucedido em tratar desse tema com criatividade.

No campo de concentração de Auschwitz, acompanhamos a história de um prisioneiro húngaro que pensa ter reconhecido o seu filho em um dos cadáveres retirados da câmara de gás. Fiel aos princípios de sua religião, Saul fica determinado a dar um enterro digno para o seu filho, custe o que custar.

Assim como na icônica imagem da Pietá, Saul trata o corpo morto do filho amado com toda a honra merecida. É um gesto de preservação da dignidade humana frente à toda humilhação sofrida, um ato supremo de amor frente ao horror físico da morte provocado pela maldade deliberada dos homens.

7ª Dor de Nossa Senhora – o sepultamento

Filme O quarto do filho (2001, dir. Nani Moretti)

O quarto do filho retrata o luto de uma família após a morte acidental do seu filho adolescente. A princípio, e de modo perfeitamente natural, o pai e a mãe sentem um profundo vazio em suas vidas, pois não conseguem aceitar aquela ausência inesperada.

É um filme muito singelo, no qual, além das palavras, os gestos das personagens e os sons são altamente significativos. A cena do sepultamento é uma cena chave dentro da narrativa, pois o som dos parafusos que cerram o caixão do filho são reproduzidos em outros momentos, invadindo outras realidades espaciais para simbolizar, assim, a permanência daquela memória dolorosa.

Assim como Maria acompanhou o corpo de Jesus até o sepulcro, sentindo a dura concretude de sua morte física, os pais do filme, confrontados com essa realidade, precisam enterrar seu filho morto e sofrer a dor da despedida inevitável.

Por outro lado, o desenvolvimento narrativo mostra como a família aprende a conviver com aquela ausência e passa a aceitar a perda. Como Maria, que embora tenha sofrido todas as dores possíveis com a morte de Seu Filho, também pôde testemunhar, com a ressurreição, a realidade da vida eterna.  

Filme extra: Ecce Homo, original Lumine

Ecco Homo, um Original Lumine, é uma representação poética e profundamente comovente dos últimos momentos da Paixão de Cristo — do julgamento por Pilatos à Crucificação. Ao assistir, é impossível não lembrar das dores de Nossa Senhora, que acompanhou cada uma dessas cenas com o coração transpassado.

Se a reflexão sobre as dores de Maria falou ao seu coração, dê o próximo passo: mergulhe nessa experiência de fé e assista Ecco Homo, vencedor no Dubai Festival, e muitos outros filmes cuidadosamente selecionados.

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A devoção a Nossa Senhora das Dores remonta ao século XI.

É uma devoção que nos faz relembrar das sete maiores dores que Maria sofreu durante a sua vida e a de seu filho, Jesus Cristo. São elas:

1. A profecia de Simeão sobre a vida de Cristo (Lc. 2, 34-35).

2. A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mt. 2,13-21).

3. A perda do menino Jesus e o reencontro com Ele no templo (Lc. 2, 41-51).

4. O encontro com Cristo no caminho do Calvário (Lc. 23, 27-31).

5. A contemplação do sofrimento e da morte de Cristo na Cruz (Jo. 19, 25-27).

6. O recebimento do corpo de Cristo tirado da Cruz (Mt. 27, 55-61).

7. A contemplação do sepultamento de Cristo no Santo Sepulcro (Lc. 23:55-56).

A devoção se desenvolveu e passou a ser cada vez mais difundida, até a celebração ser inserida no calendário litúrgico da Igreja.

No século XVII, a memória era celebrada no terceiro domingo de setembro. No século XVIII, ela foi transferida para a sexta-feira antes do Domingo de Ramos. Mais tarde, no século XIX, foi novamente transferida para o terceiro domingo de setembro. Até que, em 1914, por determinação do papa Pio X, ficou estabelecida a celebração no dia 15 de setembro, um dia depois da festa da “Exaltação da Santa Cruz”.

A devoção às sete dores de Maria deu origem ao título de Nossa Senhora das Dores, geralmente representada ajoelhada aos pés da Cruz, sentada, com o corpo de Cristo nos braços (Pietá), ou olhando para o céu com uma expressão dolorosa e o coração exposto transpassado por uma espada — ou por sete, simbolizando cada uma das dores.

Algumas representações de Nossa Senhora das dores e da pietá

As dores de Nossa Senhora no cinema

A vida e da paixão de Cristo é um dos principais temas da história do cinema.

No entanto, na maior parte dos filmes mais conhecidos, a figura de Nossa Senhora não é tão enfatizada.

Uma das exceções mais célebres é A paixão de Cristo, de Mel Gibson, produzido em 2004.

O filme de Mel Gibson foi concebido a partir de uma perspectiva explicitamente católica e, por isso, enfatiza as dores de Nossa Senhora e explora o seu papel como corredentora na salvação da humanidade.

Mas, além desse retrato direto das dores de Nossa Senhora, existem filmes nos quais o conflito principal da narrativa dialoga com os sofrimentos de Maria.

Filmes que não fazem nenhuma menção direta à religião mas que, por meio do retrato dos sofrimentos humanos, ligam-se aos sofrimentos de Nossa Senhora e nos convidam a uma reflexão a respeito do sofrimento em nossas próprias vidas.

É certo que, como disse uma vez Santo Ildefonso, “Dizer que as dores de Maria foram maiores do que os tormentos enfrentados por todos os mártires da história é muito pouco.” No entanto, um dos grandes frutos das meditações presentes na devoção a Nossa Senhora das Dores é justamente a compreensão de sua universalidade.

Pensando nisso, elaboramos uma lista de filmes contemporâneos que, além de sua qualidade artística, podem servir como um exercício para nos aproximar das meditações sobre as dores de Maria.

1ª Dor de Nossa Senhora – a profecia de Simeão

Filme A estrada (2009, dir. John Hillcoat)

Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, A estrada nos faz acompanhar um pai e um filho que atravessam um mundo pós-apocalíptico devastado pela miséria e pela violência. Na passagem bíblica em que a Sagrada Família leva Jesus recém-nascido para ser apresentado no templo, eles encontram com o velho Simeão que diz à Maria: “uma espada transpassará o seu coração” (imagem que, como vimos, foi adotada pela iconografia de Nossa Senhora das Dores).

Da mesma maneira, em A Estrada, os pais do menino sabem que amar um filho em um mundo em ruínas é conviver com a iminente possibilidade da tragédia. No entanto, em meio a esse cenário de desolação, é justamente este amor que indica a possibilidade de esperança e de redenção.

2ª Dor de Nossa Senhora – a fuga para o Egito

Filme Filhos da esperança (2006, dir. Alfonso Cuáron)

Filhos da Esperança também nos apresenta um cenário distópico: a humanidade está ameaçada, pois já não existem mais mulheres férteis. Nessa circunstância, uma jovem chamada Kee engravida de modo inexplicável. Sua gravidez é um verdadeiro milagre, mas, na circunstância em que ela ocorre, é ameaçada por forças políticas e pela brutalidade de grupos revolucionários.

Kee precisa encontrar um lugar seguro onde possa dar à luz e, depois do nascimento, precisa proteger o seu filho das ameaças que o cercam. Simbolicamente, o filho de Kee representa a última esperança da humanidade (como Cristo). Concretamente, Kee experimenta a mesma angústia vivida no episódio da fuga da Sagrada Família para o Egito: a necessidade de proteger uma criança indefesa — que salvará o mundo — contra inimigos hostis; o exílio, a insegurança e a vulnerabilidade. E, acima de tudo, precisa enfrentar o terror da possibilidade de que a violência possa destruir a semente da salvação antes que ela tenha florescido.  

3ª Dor de Nossa Senhora – a perda do menino Jesus

Filme A troca (2008, dir. Clint Eastwood).

A Troca narra a história real de Christine Collins. Em 1928, na cidade de Los Angeles, o filho de Christine desapareceu de modo misterioso. Ela aciona a polícia que, depois de algumas investigações, encontra uma criança e a leva até ela. No entanto, a criança encontrada não o verdadeiro filho de Christine. Mas ninguém acredita em sua palavra.

Os três dias que decorrem desde a perda do menino Jesus até o seu reencontro prefiguram os três dias que se passarão entre a sua morte e a sua ressureição. Metaforicamente, é a dor sentida por todos os seres humanos que vivem afastados de Cristo.

Da mesma forma, a dor dilacerante sentida por Christine Collins na ausência do filho é um eco da dor sentida por Nossa Senhora quando percebeu que Jesus não estava mais ao seu lado na peregrinação. Ao mesmo tempo, a esperança demonstrada por Christine no filme é um símbolo da fé inabalável que é necessária para atravessar o “vale de lágrimas” da vida.

4ª Dor de Nossa Senhora – o encontro no caminho do Calvário

Filme Dívida de honra (2014, dir. Tommy Lee Jones)

Em Dívida de Honra, o espectador não acompanha, necessariamente, a história de uma mãe e de um filho, mas é confrontado com uma circunstância em que a personagem principal testemunha inúmeros sofrimentos e humilhações inevitáveis.

Em um vilarejo distante do Nebraska, no ano de 1854, um grupo de mulheres é acometido pela “loucura das pradarias”, um tipo de demência adquirido devido a fatores como o isolamento social, o clima severo, a monotonia do ambiente, o trabalho árduo e a mortalidade infantil. Nessa situação, Mary Bee Cuddy, uma piedosa professora aposentada, toma para si a missão de levar as mulheres enlouquecidas até uma sociedade de proteção às mulheres mantida por uma igreja metodista. A jornada é longa e, naquele ambiente inóspito, Mary Bee enfrentará uma série de obstáculos — naturais e humanos, pois, além dos estigmas sociais trazidos pela demência, as mulheres também são altamente vulneráveis.

A tradição de Igreja diz que, no episódio do encontro de Maria com Cristo no caminho do Calvário, qualquer um que olhasse para ela poderia ver, como em um reflexo, o sofrimento de toda a humanidade, pois, naquele momento, Cristo não estava sofrendo apenas das dores físicas infligidas pelos soldados romanos, Ele tinha consciência dos pecados dos homens.

Assim, em Dívida de honra, ao assumir a missão de salvar as mulheres doentes, Mary Bee encarna a figura mariana: ela testemunha o sofrimento, a condenação social e a hostilidade sofridos por aquelas mulheres, e decide se doar por elas até as últimas consequências.

5ª Dor de Nossa Senhora – a morte na Cruz

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é QUO-VADIS-AIDA.webp

Filme Quo Vadis, Aida? (2020, dir. Jasmila Zbanic)

Assim como A Troca, de Clint Eastwood, Quo Vadis, Aida? também é um filme baseado em uma história real.

Embora a protagonista do filme, a tradutora da ONU Aida, não seja uma figura real, ela sintetiza as inúmeras mães, esposas e irmãs tiveram seus filhos, esposos, irmãos, etc. mortos no massacre de Srebrenica, durante a guerra da Bósnia, no final dos anos 90.

Aida não testemunha de forma ocular o sacrifício de seus filhos, mas seu sofrimento ecoa o de Maria aos pés da Cruz: a despeito de todos os seus esforços, ela não pode fazer nada para impedir a morte eminente de seus entes queridos.

A tradição da Igreja diz que, no momento da crucificação, o sofrimento de Maria foi tão grande que é como se ela também houvesse sido martirizada. Sentimento que ecoa, ainda que em menor nível, em toda mãe que perde seu filho de modo trágico.

6ª Dor de Nossa Senhora – a descida da Cruz

Filme O Filho de Saul (2015, dir. Lászlo Nemes)

Por ser uma das grandes manchas da história moderna, o Holocausto é um dos temas mais abordados pelo cinema. Por isso, é difícil de abordá-lo de uma forma inventiva. Mas o filme O Filho de Saul foi bem sucedido em tratar desse tema com criatividade.

No campo de concentração de Auschwitz, acompanhamos a história de um prisioneiro húngaro que pensa ter reconhecido o seu filho em um dos cadáveres retirados da câmara de gás. Fiel aos princípios de sua religião, Saul fica determinado a dar um enterro digno para o seu filho, custe o que custar.

Assim como na icônica imagem da Pietá, Saul trata o corpo morto do filho amado com toda a honra merecida. É um gesto de preservação da dignidade humana frente à toda humilhação sofrida, um ato supremo de amor frente ao horror físico da morte provocado pela maldade deliberada dos homens.

7ª Dor de Nossa Senhora – o sepultamento

Filme O quarto do filho (2001, dir. Nani Moretti)

O quarto do filho retrata o luto de uma família após a morte acidental do seu filho adolescente. A princípio, e de modo perfeitamente natural, o pai e a mãe sentem um profundo vazio em suas vidas, pois não conseguem aceitar aquela ausência inesperada.

É um filme muito singelo, no qual, além das palavras, os gestos das personagens e os sons são altamente significativos. A cena do sepultamento é uma cena chave dentro da narrativa, pois o som dos parafusos que cerram o caixão do filho são reproduzidos em outros momentos, invadindo outras realidades espaciais para simbolizar, assim, a permanência daquela memória dolorosa.

Assim como Maria acompanhou o corpo de Jesus até o sepulcro, sentindo a dura concretude de sua morte física, os pais do filme, confrontados com essa realidade, precisam enterrar seu filho morto e sofrer a dor da despedida inevitável.

Por outro lado, o desenvolvimento narrativo mostra como a família aprende a conviver com aquela ausência e passa a aceitar a perda. Como Maria, que embora tenha sofrido todas as dores possíveis com a morte de Seu Filho, também pôde testemunhar, com a ressurreição, a realidade da vida eterna.  

Filme extra: Ecce Homo, original Lumine

Ecco Homo, um Original Lumine, é uma representação poética e profundamente comovente dos últimos momentos da Paixão de Cristo — do julgamento por Pilatos à Crucificação. Ao assistir, é impossível não lembrar das dores de Nossa Senhora, que acompanhou cada uma dessas cenas com o coração transpassado.

Se a reflexão sobre as dores de Maria falou ao seu coração, dê o próximo passo: mergulhe nessa experiência de fé e assista Ecco Homo, vencedor no Dubai Festival, e muitos outros filmes cuidadosamente selecionados.

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