A história de conversão de Bartolo Longo (1841-1926) foi uma das mais complexas e dramáticas da Igreja Católica. Ele não foi um santo que cresceu numa linha ascendente de piedade, mas um homem que desceu ao abismo mais profundo da escuridão espiritual para, a partir daí, emergir como um dos mais luminosos apóstolos marianos da era moderna. Bartolo viveu uma história poderosa de redenção, que ressoa com particular força nos dias de hoje, em que somos marcados pela dúvida constante e pela necessidade de manifestações tangíveis da fé.
A complexidade da sua biografia reside na transformação de um autoproclamado “sacerdote satânico” a “Apóstolo do Rosário”. Com a intercessão da Virgem Maria, Bartolo deixou de ser um dos maiores inimigos da Santa Igreja para se tornar um grande propagador da fé católica.
Com a sua canonização marcada para 19 de outubro de 2025, a Igreja apresenta Bartolo Longo como um santo vital para os nossos tempos. A sua vida oferece um testemunho convincente de que nenhuma alma está tão perdida que não possa ser resgatada pela misericórdia divina, e que a fé, quando unida à caridade, possui o poder de transformar qualquer deserto num jardim cheio de flores.
Neste artigo, você irá descobrir as entrelinhas da vida de Bartolo Longo, examinando a sua queda, a sua conversão e o seu legado duradouro.
Bartolo Longo nasceu a 10 de fevereiro de 1841, em Latiano, perto de Brindisi, no seio de uma família abastada e profundamente católica. A sua infância foi marcada por uma piedade genuína; ele próprio recordaria mais tarde como, ao ouvir o sino do Angelus, interrompia imediatamente qualquer brincadeira para correr e rezar com a sua mãe. Esta formação inicial incutiu-lhe uma base espiritual sólida, um alicerce que, embora mais tarde viesse a ser abalado até quase à destruição, nunca se desintegrou completamente.
No entanto, a Itália em que Bartolo atingiu a maioridade era uma nação em convulsão. O movimento de unificação, conhecido como Risorgimento, embora politicamente bem-sucedido, era frequentemente animado por um forte sentimento anticlerical. A Igreja Católica era vista por muitos nacionalistas e intelectuais como um obstáculo ao progresso e à unidade nacional. Este clima permeava as instituições de ensino superior. Quando ele, determinado a tornar-se advogado contra a vontade do seu padrasto, partiu para a Universidade de Nápoles em 1861 , deixou para trás o ambiente protetor da sua fé familiar e mergulhou num meio académico dominado pelo racionalismo, positivismo e um ceticismo militante em relação à religião. Este contexto é fundamental para compreender que a sua subsequente perda de fé não foi um mero ato de revolta juvenil, mas uma capitulação às poderosas correntes intelectuais e políticas da sua época.
Na Universidade de Nápoles, a fé de Bartolo Longo desmoronou. Ele não se limitou a tornar-se um católico não praticante; transformou-se num ativista anticlerical, organizando conferências contra a Igreja e elogiando os seus detratores. O vazio espiritual deixado pela perda da fé, um fenômeno comum em almas de grande profundidade, exigia ser preenchido. Longo procurou esse preenchimento não na ausência de espiritualidade, mas em formas alternativas que eram então consideradas a vanguarda do pensamento.
Ele mergulhou de cabeça no espiritismo e no ocultismo, movimentos que gozavam de grande popularidade nos círculos intelectuais europeus do século XIX. A sua participação não foi superficial. As fontes descrevem-no como tendo alcançado o estatuto de “médium de primeiro grau” e “sacerdote espírita”. A sua descida às trevas culminou num ato de rebelião espiritual total: ele se consagrou ao demônio. Algumas fontes em língua inglesa usam a expressão ainda mais contundente de “padre satânico”, sugerindo uma inversão deliberada do sacerdócio católico que ele passara a odiar.
A sua crise de fé não foi, portanto, um desvio para o agnosticismo passivo, mas uma jornada ativa em direção a uma filosofia que se opunha diretamente ao cristianismo. Este caminho, longe de lhe trazer a iluminação que procurava, mergulhou-o num “profundo estado de angústia e desespero”. A sua saúde mental e física deterioraram-se, e ele foi atormentado por visões e tormentos espirituais. A sua queda ilustra uma trajetória distintamente moderna: a rejeição da fé revelada em nome da razão, seguida pela busca de significado em espiritualidades esotéricas, culminando não na libertação, mas na desintegração psicológica e espiritual completa.
Neste período de escuridão, persistia um paradoxo surpreendente e, em última análise, salvífico: mesmo no auge da sua rebelião, Bartolo Longo nunca deixou de rezar o Rosário diariamente. Este ato, talvez realizado por hábito ou por uma centelha de fé que se recusava a extinguir, funcionou como uma âncora invisível, uma linha de vida que o ligava à graça da sua infância e que, eventualmente, o puxaria de volta da beira do abismo.
A saída de Bartolo Longo do abismo foi tão dramática quanto a sua descida. Os instrumentos humanos da graça divina foram um amigo devoto, o professor Vincenzo Pepe, e um frade dominicano de grande sabedoria, o Padre Alberto Radente. Foi Pepe quem, preocupado com o estado desesperado do seu amigo, o persuadiu a procurar a orientação do Padre Radente. O clímax da sua conversão ocorreu no dia da festa do Sagrado Coração de Jesus, em 1865. Aos 24 anos, atormentado e desesperado, Longo procurou o Padre Radente na Igreja do Rosário, em Nápoles, para fazer uma confissão que mudaria a sua vida.
A profundidade da renovação espiritual que ele experimentou é captada nas suas próprias palavras: “Foi como reviver a minha Primeira Comunhão, como se eu tivesse recebido um segundo batismo”. Esta descrição revela que a sua confissão não foi um mero alívio da culpa, mas uma verdadeira recriação ontológica, uma restauração completa da graça batismal que ele havia rejeitado. A prudência pastoral do Padre Radente é notável; reconhecendo a gravidade da situação espiritual de Longo, ele exigiu um mês de encontros para direção espiritual antes de lhe conceder a absolvição, garantindo que a sua conversão estivesse firmemente enraizada.
A graça da conversão de Bartolo manifestou-se imediatamente na sua necessidade de agir. Ele não se retirou para viver uma vida privada, mas sentiu um impulso irresistível de reparar o mal que havia cometido. A sua vida pós-conversão pode ser entendida como uma missão contínua de reparação. Em 1871, formalizou o seu novo caminho tornando-se Terciário Dominicano, adotando o nome de “Irmão Rosário”, alinhando-se assim com a ordem historicamente encarregada de propagar a devoção que se tornara a sua tábua de salvação.
O seu ato mais corajoso e significativo deste período inicial foi um confronto direto com o seu passado. Movido por um “desejo de reparar as suas transgressões passadas”, ele regressou uma última vez ao seu antigo círculo ocultista. Em vez de participar nos seus rituais, ele ergueu-se no meio deles e começou a pregar o Evangelho, a proclamar as glórias do Rosário e a falar da verdadeira felicidade que se encontra em Cristo. Após cumprir esta tarefa, deixou aquele lugar para nunca mais voltar. Este ato não foi apenas uma tentativa de converter os seus antigos companheiros; foi uma renúncia pública e catártica do seu próprio passado. Ao confrontar a escuridão de frente, ele quebrou os laços que o prendiam e libertou-se para abraçar a sua nova vida na graça. Este primeiro ato de apostolado foi o microcosmo da sua futura missão: levar a luz do Rosário aos lugares de maior escuridão. A propagação do Rosário tornou-se a contrapartida positiva da sua anterior propagação de filosofias anticatólicas, e a construção de uma “cidade da caridade” seria a resposta tangível às forças destrutivas que ele outrora servira.
As suas obras de caridade eram notáveis pela sua visão e compaixão, visando os mais marginalizados da sociedade:
Em 1872, a vida de Bartolo Longo tomou um rumo decisivo. Foi enviado ao Vale de Pompéia para administrar as propriedades da Condessa Marianna de Fusco, uma viúva piedosa que ele conhecera através dos seus novos círculos católicos. O que ele encontrou chocou-o profundamente. O vale, situado à sombra do Vesúvio e perto das ruínas da antiga cidade pagã, era um lugar de extrema miséria material e espiritual. A terra estava “marcada pela miséria, pela malária e pelo abandono”, e os seus habitantes, na sua maioria camponeses analfabetos, viviam num estado de profunda ignorância religiosa, com a Igreja da paróquia em ruínas.
Foi neste cenário de desolação que Bartolo recebeu o seu chamado definitivo. Um dia, em outubro de 1872, enquanto caminhava pelos campos, ele foi assaltado por uma profunda angústia, atormentado pela memória dos seus pecados passados e duvidando da sua própria salvação. Nesse momento de desespero, ouviu uma voz interior clara e insistente: “Se queres salvar-te, propaga a devoção do Rosário. É uma promessa da Virgem Maria”. Esta voz foi o estopim que deu um propósito e uma direção a toda a sua vida a partir daquele ponto. Ele se ajoelhou, chorou de alegria e prometeu não deixar Pompeia sem ter estabelecido ali a devoção ao Rosário.
O evento que cumpriu os requisitos para a beatificação de Bartolo Longo foi a cura cientificamente inexplicável de Carmen Rocco Câmera, em 1943. Este milagre, aprovado décadas mais tarde, forneceu a confirmação divina necessária para que o Papa São João Paulo II o proclamasse “Beato” , no dia 26 de outubro de 1980.
Carmen Rocco Câmera era uma mulher que enfrentava uma condição médica terminal em 1943. O relatório do seu médico assistente, Dr. Matteo Petraroia, documentou um quadro clínico devastador, descrito como um “estado geral grave e preocupante”. O diagnóstico incluía uma série de patologias graves e progressivas: ela teve hipertensão severa, estomatite, problemas no fígado e uma anemia fortemente acentuada. No dia 28 de março de 1943, o seu estado deteriorou-se ainda mais, com o aparecimento de paralisia nos membros superiores e inferiores. O prognóstico era sombrio; o seu caso era considerado verdadeiramente desesperador e acreditava-se que estava prestes a morrer.
No meio desta situação desesperada, a família de Carmen Rocco Câmera voltou-se para a intercessão do Servo de Deus Bartolo Longo. Um padre chamado Spreafico, ao tomar conhecimento da sua doença, escreveu-lhe duas cartas, encorajando-a a recorrer especificamente à intercessão de Bartolo Longo. Juntamente com as cartas, enviou-lhe uma imagem de Longo com uma relíquia de segunda classe. A sua cura foi instantânea. O seu testemunho, decisivo:
“Eu tinha a imagem do Servo de Deus debaixo da minha almofada. Não invoquei outros santos, beatos ou servos de Deus”.
Esta cura milagrosa foi o elemento final necessário para o avanço da causa de Bartolo Longo. A sua vida de virtude heróica já tinha sido formalmente reconhecida pelo Papa Paulo VI, no dia 3 de outubro de 1975, conferindo-lhe o título de Venerável. A aprovação da cura de Carmen Rocco Câmera como um milagre autêntico forneceu o selo divino que a Igreja exigia.
A cerimônia de beatificação, realizada no dia 26 de outubro de 1980, na Praça de São Pedro, foi um evento monumental, com a participação de 150.000 fiéis. Presidida pelo Papa São João Paulo II, a cerimónia elevou oficialmente Bartolo Longo à honra dos altares como “Beato”, permitindo o seu culto público.
O percurso de Bartolo Longo para a canonização, agendada para 19 de outubro de 2025, representa um capítulo extraordinário na história da sua causa, respondendo à segunda metade da questão sobre os milagres. Ao contrário do caminho padrão, que exige um segundo milagre médico ocorrido após a beatificação, a sua elevação à santidade procede por uma via excepcional. A Igreja, através da autoridade do Sumo Pontífice, reconheceu que a totalidade da obra da sua vida constitui um testemunho miraculoso tão poderoso que justifica a sua canonização.
Conheça os outros santos que serão canonizados pelo Papa Leão XIV.
A cerimônia será transmitida ao vivo diretamente do Vaticano. Agora, se você está se perguntando onde assistir à canonização do Carlo Acutis em português, a resposta é simples: nós preparamos uma cobertura especial, gratuita e acessível para todos os fiéis e você poderá acompanhar cada detalhe no Youtube da Lumine — o maior streaming católico da América Latina.
A história de conversão de Bartolo Longo (1841-1926) foi uma das mais complexas e dramáticas da Igreja Católica. Ele não foi um santo que cresceu numa linha ascendente de piedade, mas um homem que desceu ao abismo mais profundo da escuridão espiritual para, a partir daí, emergir como um dos mais luminosos apóstolos marianos da era moderna. Bartolo viveu uma história poderosa de redenção, que ressoa com particular força nos dias de hoje, em que somos marcados pela dúvida constante e pela necessidade de manifestações tangíveis da fé.
A complexidade da sua biografia reside na transformação de um autoproclamado “sacerdote satânico” a “Apóstolo do Rosário”. Com a intercessão da Virgem Maria, Bartolo deixou de ser um dos maiores inimigos da Santa Igreja para se tornar um grande propagador da fé católica.
Com a sua canonização marcada para 19 de outubro de 2025, a Igreja apresenta Bartolo Longo como um santo vital para os nossos tempos. A sua vida oferece um testemunho convincente de que nenhuma alma está tão perdida que não possa ser resgatada pela misericórdia divina, e que a fé, quando unida à caridade, possui o poder de transformar qualquer deserto num jardim cheio de flores.
Neste artigo, você irá descobrir as entrelinhas da vida de Bartolo Longo, examinando a sua queda, a sua conversão e o seu legado duradouro.
Bartolo Longo nasceu a 10 de fevereiro de 1841, em Latiano, perto de Brindisi, no seio de uma família abastada e profundamente católica. A sua infância foi marcada por uma piedade genuína; ele próprio recordaria mais tarde como, ao ouvir o sino do Angelus, interrompia imediatamente qualquer brincadeira para correr e rezar com a sua mãe. Esta formação inicial incutiu-lhe uma base espiritual sólida, um alicerce que, embora mais tarde viesse a ser abalado até quase à destruição, nunca se desintegrou completamente.
No entanto, a Itália em que Bartolo atingiu a maioridade era uma nação em convulsão. O movimento de unificação, conhecido como Risorgimento, embora politicamente bem-sucedido, era frequentemente animado por um forte sentimento anticlerical. A Igreja Católica era vista por muitos nacionalistas e intelectuais como um obstáculo ao progresso e à unidade nacional. Este clima permeava as instituições de ensino superior. Quando ele, determinado a tornar-se advogado contra a vontade do seu padrasto, partiu para a Universidade de Nápoles em 1861 , deixou para trás o ambiente protetor da sua fé familiar e mergulhou num meio académico dominado pelo racionalismo, positivismo e um ceticismo militante em relação à religião. Este contexto é fundamental para compreender que a sua subsequente perda de fé não foi um mero ato de revolta juvenil, mas uma capitulação às poderosas correntes intelectuais e políticas da sua época.
Na Universidade de Nápoles, a fé de Bartolo Longo desmoronou. Ele não se limitou a tornar-se um católico não praticante; transformou-se num ativista anticlerical, organizando conferências contra a Igreja e elogiando os seus detratores. O vazio espiritual deixado pela perda da fé, um fenômeno comum em almas de grande profundidade, exigia ser preenchido. Longo procurou esse preenchimento não na ausência de espiritualidade, mas em formas alternativas que eram então consideradas a vanguarda do pensamento.
Ele mergulhou de cabeça no espiritismo e no ocultismo, movimentos que gozavam de grande popularidade nos círculos intelectuais europeus do século XIX. A sua participação não foi superficial. As fontes descrevem-no como tendo alcançado o estatuto de “médium de primeiro grau” e “sacerdote espírita”. A sua descida às trevas culminou num ato de rebelião espiritual total: ele se consagrou ao demônio. Algumas fontes em língua inglesa usam a expressão ainda mais contundente de “padre satânico”, sugerindo uma inversão deliberada do sacerdócio católico que ele passara a odiar.
A sua crise de fé não foi, portanto, um desvio para o agnosticismo passivo, mas uma jornada ativa em direção a uma filosofia que se opunha diretamente ao cristianismo. Este caminho, longe de lhe trazer a iluminação que procurava, mergulhou-o num “profundo estado de angústia e desespero”. A sua saúde mental e física deterioraram-se, e ele foi atormentado por visões e tormentos espirituais. A sua queda ilustra uma trajetória distintamente moderna: a rejeição da fé revelada em nome da razão, seguida pela busca de significado em espiritualidades esotéricas, culminando não na libertação, mas na desintegração psicológica e espiritual completa.
Neste período de escuridão, persistia um paradoxo surpreendente e, em última análise, salvífico: mesmo no auge da sua rebelião, Bartolo Longo nunca deixou de rezar o Rosário diariamente. Este ato, talvez realizado por hábito ou por uma centelha de fé que se recusava a extinguir, funcionou como uma âncora invisível, uma linha de vida que o ligava à graça da sua infância e que, eventualmente, o puxaria de volta da beira do abismo.
A saída de Bartolo Longo do abismo foi tão dramática quanto a sua descida. Os instrumentos humanos da graça divina foram um amigo devoto, o professor Vincenzo Pepe, e um frade dominicano de grande sabedoria, o Padre Alberto Radente. Foi Pepe quem, preocupado com o estado desesperado do seu amigo, o persuadiu a procurar a orientação do Padre Radente. O clímax da sua conversão ocorreu no dia da festa do Sagrado Coração de Jesus, em 1865. Aos 24 anos, atormentado e desesperado, Longo procurou o Padre Radente na Igreja do Rosário, em Nápoles, para fazer uma confissão que mudaria a sua vida.
A profundidade da renovação espiritual que ele experimentou é captada nas suas próprias palavras: “Foi como reviver a minha Primeira Comunhão, como se eu tivesse recebido um segundo batismo”. Esta descrição revela que a sua confissão não foi um mero alívio da culpa, mas uma verdadeira recriação ontológica, uma restauração completa da graça batismal que ele havia rejeitado. A prudência pastoral do Padre Radente é notável; reconhecendo a gravidade da situação espiritual de Longo, ele exigiu um mês de encontros para direção espiritual antes de lhe conceder a absolvição, garantindo que a sua conversão estivesse firmemente enraizada.
A graça da conversão de Bartolo manifestou-se imediatamente na sua necessidade de agir. Ele não se retirou para viver uma vida privada, mas sentiu um impulso irresistível de reparar o mal que havia cometido. A sua vida pós-conversão pode ser entendida como uma missão contínua de reparação. Em 1871, formalizou o seu novo caminho tornando-se Terciário Dominicano, adotando o nome de “Irmão Rosário”, alinhando-se assim com a ordem historicamente encarregada de propagar a devoção que se tornara a sua tábua de salvação.
O seu ato mais corajoso e significativo deste período inicial foi um confronto direto com o seu passado. Movido por um “desejo de reparar as suas transgressões passadas”, ele regressou uma última vez ao seu antigo círculo ocultista. Em vez de participar nos seus rituais, ele ergueu-se no meio deles e começou a pregar o Evangelho, a proclamar as glórias do Rosário e a falar da verdadeira felicidade que se encontra em Cristo. Após cumprir esta tarefa, deixou aquele lugar para nunca mais voltar. Este ato não foi apenas uma tentativa de converter os seus antigos companheiros; foi uma renúncia pública e catártica do seu próprio passado. Ao confrontar a escuridão de frente, ele quebrou os laços que o prendiam e libertou-se para abraçar a sua nova vida na graça. Este primeiro ato de apostolado foi o microcosmo da sua futura missão: levar a luz do Rosário aos lugares de maior escuridão. A propagação do Rosário tornou-se a contrapartida positiva da sua anterior propagação de filosofias anticatólicas, e a construção de uma “cidade da caridade” seria a resposta tangível às forças destrutivas que ele outrora servira.
As suas obras de caridade eram notáveis pela sua visão e compaixão, visando os mais marginalizados da sociedade:
Em 1872, a vida de Bartolo Longo tomou um rumo decisivo. Foi enviado ao Vale de Pompéia para administrar as propriedades da Condessa Marianna de Fusco, uma viúva piedosa que ele conhecera através dos seus novos círculos católicos. O que ele encontrou chocou-o profundamente. O vale, situado à sombra do Vesúvio e perto das ruínas da antiga cidade pagã, era um lugar de extrema miséria material e espiritual. A terra estava “marcada pela miséria, pela malária e pelo abandono”, e os seus habitantes, na sua maioria camponeses analfabetos, viviam num estado de profunda ignorância religiosa, com a Igreja da paróquia em ruínas.
Foi neste cenário de desolação que Bartolo recebeu o seu chamado definitivo. Um dia, em outubro de 1872, enquanto caminhava pelos campos, ele foi assaltado por uma profunda angústia, atormentado pela memória dos seus pecados passados e duvidando da sua própria salvação. Nesse momento de desespero, ouviu uma voz interior clara e insistente: “Se queres salvar-te, propaga a devoção do Rosário. É uma promessa da Virgem Maria”. Esta voz foi o estopim que deu um propósito e uma direção a toda a sua vida a partir daquele ponto. Ele se ajoelhou, chorou de alegria e prometeu não deixar Pompeia sem ter estabelecido ali a devoção ao Rosário.
O evento que cumpriu os requisitos para a beatificação de Bartolo Longo foi a cura cientificamente inexplicável de Carmen Rocco Câmera, em 1943. Este milagre, aprovado décadas mais tarde, forneceu a confirmação divina necessária para que o Papa São João Paulo II o proclamasse “Beato” , no dia 26 de outubro de 1980.
Carmen Rocco Câmera era uma mulher que enfrentava uma condição médica terminal em 1943. O relatório do seu médico assistente, Dr. Matteo Petraroia, documentou um quadro clínico devastador, descrito como um “estado geral grave e preocupante”. O diagnóstico incluía uma série de patologias graves e progressivas: ela teve hipertensão severa, estomatite, problemas no fígado e uma anemia fortemente acentuada. No dia 28 de março de 1943, o seu estado deteriorou-se ainda mais, com o aparecimento de paralisia nos membros superiores e inferiores. O prognóstico era sombrio; o seu caso era considerado verdadeiramente desesperador e acreditava-se que estava prestes a morrer.
No meio desta situação desesperada, a família de Carmen Rocco Câmera voltou-se para a intercessão do Servo de Deus Bartolo Longo. Um padre chamado Spreafico, ao tomar conhecimento da sua doença, escreveu-lhe duas cartas, encorajando-a a recorrer especificamente à intercessão de Bartolo Longo. Juntamente com as cartas, enviou-lhe uma imagem de Longo com uma relíquia de segunda classe. A sua cura foi instantânea. O seu testemunho, decisivo:
“Eu tinha a imagem do Servo de Deus debaixo da minha almofada. Não invoquei outros santos, beatos ou servos de Deus”.
Esta cura milagrosa foi o elemento final necessário para o avanço da causa de Bartolo Longo. A sua vida de virtude heróica já tinha sido formalmente reconhecida pelo Papa Paulo VI, no dia 3 de outubro de 1975, conferindo-lhe o título de Venerável. A aprovação da cura de Carmen Rocco Câmera como um milagre autêntico forneceu o selo divino que a Igreja exigia.
A cerimônia de beatificação, realizada no dia 26 de outubro de 1980, na Praça de São Pedro, foi um evento monumental, com a participação de 150.000 fiéis. Presidida pelo Papa São João Paulo II, a cerimónia elevou oficialmente Bartolo Longo à honra dos altares como “Beato”, permitindo o seu culto público.
O percurso de Bartolo Longo para a canonização, agendada para 19 de outubro de 2025, representa um capítulo extraordinário na história da sua causa, respondendo à segunda metade da questão sobre os milagres. Ao contrário do caminho padrão, que exige um segundo milagre médico ocorrido após a beatificação, a sua elevação à santidade procede por uma via excepcional. A Igreja, através da autoridade do Sumo Pontífice, reconheceu que a totalidade da obra da sua vida constitui um testemunho miraculoso tão poderoso que justifica a sua canonização.
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