A cerimônia do Oscar de 2025 trouxe à tona discussões profundas sobre as necessidades do espírito humano. O filme Anora, dirigido por Sean Baker, foi o grande destaque da noite, conquistando cinco estatuetas: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Atriz para Mikey Madison.
Anora narra a história de Ani, uma dançarina exótica do Brooklyn que se envolve com o filho de um oligarca russo, mergulhando em um romance que desafia convenções e expectativas sociais. Em seu discurso de aceitação, Mikey Madison expressou gratidão à comunidade de trabalhadoras sexuais, reconhecendo-as como fonte de inspiração para sua performance.
Essa homenagem levanta uma questão crucial: até que ponto a arte está contribuindo para a normalização de práticas como a prostituição, apresentando-as como escolhas profissionais comuns?
Anora pode ser entendido como um filme que contribui para normalizar a cultura do consumo de conteúdo de prostituição na internet. Ao retratar essa prática como algo empoderador e moderno, o filme colabora para a crescente indústria de conteúdo adulto sob demanda.
Essa cultura, em que a sexualidade se torna mercadoria digitalizada e de acesso imediato, alimenta aquilo que alguns especialistas em mídia e internet denominam “goonificação”. O termo “gooning” – termo muito usado pelos gen z – refere-se a um estado de hipnose induzido pelo consumo excessivo de conteúdo altamente estimulante, seja ele pornográfico ou não. Essa obsessão por estímulos extremos não se limita ao consumo de pornografia; ela se manifesta em diversas áreas da cultura moderna, desde vídeos curtos e acelerados nas redes sociais até músicas com ritmos cada vez mais intensos.
O conceito de “goonificação” está intrinsecamente ligado à lógica cultural da internet, que busca prender a atenção do usuário a qualquer custo, oferecendo conteúdo cada vez mais superficial e pornográfico. Essa tendência é resultado de algoritmos que priorizam o engajamento, levando à criação de conteúdos que apelam para os instintos mais básicos e imediatos dos indivíduos. A “goonificação” é, portanto, um fenômeno múltiplo que envolve tanto a necessidade capitalista de gerar consumo instantâneo, os novos recursos de tecnologia e algoritmo das redes sociais e também a tendência à constante devassidão pornografização da cultura.
Porém, não se trata apenas da aceleração no consumo da pornografia, mas em toda a nossa cultura sendo cada vez mais infestada desse fenômeno. Os filmes que vemos tem cortes cada vez mais rápidos, os vídeos de Youtube cada vez mais apelativos, as campanhas publicitárias cada vez mais polêmicas. Tudo isso faz parte desse ciclo de constante extremismo e intensificação na linguagem. De apelo cada vez mais intenso aos sentidos e ao imediato. Portanto, mesmo quem não consome pornografia, acaba sendo negativamente afetado pela cultura da “goonificação” que se espalha por todas as áreas da vida humana.
Um exemplo claro de goonificação são os vídeos curtos do TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts. Essas plataformas são projetadas para oferecer conteúdo acelerado e altamente viciante, onde cada vídeo dura apenas alguns segundos e apresenta os momentos mais estimulantes possíveis. Esse fenômeno também se reflete na música, com faixas sendo usadas somente para trilha sonora de shorts e se tornando famosas por trechos de apenas 30 segundos. Isso também pode ser visto no conteúdo do Youtuber Mr. Beast, cujos vídeos e programas operam com cortes rápidos e temáticas cada vez mais absurdas para garantir o máximo de retenção de audiência.
No contexto de Anora, ao apresentar a prostituição como uma opção profissional legítima e sem ressalvas morais, o filme contribui para a expansão dessa cultura de hiperestimulação sexual. Plataformas como OnlyFans não apenas democratizam o acesso à pornografia, mas também ampliam a disponibilidade de conteúdo que se encaixa na lógica da goonificação: consumo compulsivo, imediato e de alto estímulo. Assim, Anora não só reflete, mas também pode reforçar a cultura da compulsão pornográfica, alimentando um ciclo de consumo insaciável.
A situação é desesperadora e essa espiral de compulsão e consumo parece não ter fim. Porém, ao olhar para cima nesse abismo da devassidão, a Santa Igreja nos oferece uma resposta. Em contraste com a cultura da “goonificação”, que busca constantemente novos estímulos para preencher um vazio existencial, a tradição católica oferece uma prática que é ao mesmo tempo repetitiva e sempre renovada: a Santa Missa. A Missa é a atualização do sacrifício de Cristo, um evento que transcende o tempo e o espaço, tornando-se presente em cada celebração eucarística.
A Santa Missa é vista como a renovação do sacrifício que Jesus Cristo fez no Calvário. Enquanto o sacrifício do Calvário foi realizado de forma cruenta, com derramamento de sangue, na Missa esse mesmo sacrifício é renovado de forma incruenta, ou seja, sem derramamento de sangue. Nesse sentido, a Missa é considerada um sacrifício repetitivo, mas sempre novo, pois cada celebração é uma atualização desse mistério central da fé cristã.
Essa repetição ritualística não leva ao tédio ou à banalização; pelo contrário, ela aprofunda o sentido e a compreensão do mistério divino. Cada Missa é uma oportunidade de renovação espiritual, um convite à contemplação e à comunhão com o sagrado. Ao participar regularmente da Eucaristia, os fiéis são chamados a uma experiência que transcende a busca incessante por novos estímulos, encontrando na constância do rito um caminho para a verdadeira satisfação espiritual.
Quando a sociedade se afasta de práticas que oferecem um sentido profundo e duradouro, como a participação na Santa Missa, é natural que surjam tentativas de preencher esse vazio com estímulos cada vez mais intensos e efêmeros. A cultura da “goonificação” é, em grande parte, uma resposta a essa ausência de significado, uma tentativa de saciar uma sede espiritual com prazeres imediatos e superficiais.
O coração humano possui uma sede infinita, uma busca inerente por propósito e transcendência. Sem a ancoragem em práticas que nutrem essa dimensão espiritual, como a Eucaristia, o indivíduo pode facilmente cair em padrões de comportamento compulsivos, tentando, em vão, preencher o vazio existencial com consumos desenfreados de conteúdo ou experiências.
Portanto, a solução para a crescente pornografização da cultura não reside em meras proibições ou censuras, mas na redescoberta de práticas que oferecem um sentido profundo e duradouro. Ao recentrar a vida em torno da Santa Missa, é possível resgatar a noção de que a repetição pode ser sempre renovada, proporcionando uma satisfação que nenhuma quantidade de estímulos efêmeros pode oferecer.
A cerimônia do Oscar de 2025 trouxe à tona discussões profundas sobre as necessidades do espírito humano. O filme Anora, dirigido por Sean Baker, foi o grande destaque da noite, conquistando cinco estatuetas: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Atriz para Mikey Madison.
Anora narra a história de Ani, uma dançarina exótica do Brooklyn que se envolve com o filho de um oligarca russo, mergulhando em um romance que desafia convenções e expectativas sociais. Em seu discurso de aceitação, Mikey Madison expressou gratidão à comunidade de trabalhadoras sexuais, reconhecendo-as como fonte de inspiração para sua performance.
Essa homenagem levanta uma questão crucial: até que ponto a arte está contribuindo para a normalização de práticas como a prostituição, apresentando-as como escolhas profissionais comuns?
Anora pode ser entendido como um filme que contribui para normalizar a cultura do consumo de conteúdo de prostituição na internet. Ao retratar essa prática como algo empoderador e moderno, o filme colabora para a crescente indústria de conteúdo adulto sob demanda.
Essa cultura, em que a sexualidade se torna mercadoria digitalizada e de acesso imediato, alimenta aquilo que alguns especialistas em mídia e internet denominam “goonificação”. O termo “gooning” – termo muito usado pelos gen z – refere-se a um estado de hipnose induzido pelo consumo excessivo de conteúdo altamente estimulante, seja ele pornográfico ou não. Essa obsessão por estímulos extremos não se limita ao consumo de pornografia; ela se manifesta em diversas áreas da cultura moderna, desde vídeos curtos e acelerados nas redes sociais até músicas com ritmos cada vez mais intensos.
O conceito de “goonificação” está intrinsecamente ligado à lógica cultural da internet, que busca prender a atenção do usuário a qualquer custo, oferecendo conteúdo cada vez mais superficial e pornográfico. Essa tendência é resultado de algoritmos que priorizam o engajamento, levando à criação de conteúdos que apelam para os instintos mais básicos e imediatos dos indivíduos. A “goonificação” é, portanto, um fenômeno múltiplo que envolve tanto a necessidade capitalista de gerar consumo instantâneo, os novos recursos de tecnologia e algoritmo das redes sociais e também a tendência à constante devassidão pornografização da cultura.
Porém, não se trata apenas da aceleração no consumo da pornografia, mas em toda a nossa cultura sendo cada vez mais infestada desse fenômeno. Os filmes que vemos tem cortes cada vez mais rápidos, os vídeos de Youtube cada vez mais apelativos, as campanhas publicitárias cada vez mais polêmicas. Tudo isso faz parte desse ciclo de constante extremismo e intensificação na linguagem. De apelo cada vez mais intenso aos sentidos e ao imediato. Portanto, mesmo quem não consome pornografia, acaba sendo negativamente afetado pela cultura da “goonificação” que se espalha por todas as áreas da vida humana.
Um exemplo claro de goonificação são os vídeos curtos do TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts. Essas plataformas são projetadas para oferecer conteúdo acelerado e altamente viciante, onde cada vídeo dura apenas alguns segundos e apresenta os momentos mais estimulantes possíveis. Esse fenômeno também se reflete na música, com faixas sendo usadas somente para trilha sonora de shorts e se tornando famosas por trechos de apenas 30 segundos. Isso também pode ser visto no conteúdo do Youtuber Mr. Beast, cujos vídeos e programas operam com cortes rápidos e temáticas cada vez mais absurdas para garantir o máximo de retenção de audiência.
No contexto de Anora, ao apresentar a prostituição como uma opção profissional legítima e sem ressalvas morais, o filme contribui para a expansão dessa cultura de hiperestimulação sexual. Plataformas como OnlyFans não apenas democratizam o acesso à pornografia, mas também ampliam a disponibilidade de conteúdo que se encaixa na lógica da goonificação: consumo compulsivo, imediato e de alto estímulo. Assim, Anora não só reflete, mas também pode reforçar a cultura da compulsão pornográfica, alimentando um ciclo de consumo insaciável.
A situação é desesperadora e essa espiral de compulsão e consumo parece não ter fim. Porém, ao olhar para cima nesse abismo da devassidão, a Santa Igreja nos oferece uma resposta. Em contraste com a cultura da “goonificação”, que busca constantemente novos estímulos para preencher um vazio existencial, a tradição católica oferece uma prática que é ao mesmo tempo repetitiva e sempre renovada: a Santa Missa. A Missa é a atualização do sacrifício de Cristo, um evento que transcende o tempo e o espaço, tornando-se presente em cada celebração eucarística.
A Santa Missa é vista como a renovação do sacrifício que Jesus Cristo fez no Calvário. Enquanto o sacrifício do Calvário foi realizado de forma cruenta, com derramamento de sangue, na Missa esse mesmo sacrifício é renovado de forma incruenta, ou seja, sem derramamento de sangue. Nesse sentido, a Missa é considerada um sacrifício repetitivo, mas sempre novo, pois cada celebração é uma atualização desse mistério central da fé cristã.
Essa repetição ritualística não leva ao tédio ou à banalização; pelo contrário, ela aprofunda o sentido e a compreensão do mistério divino. Cada Missa é uma oportunidade de renovação espiritual, um convite à contemplação e à comunhão com o sagrado. Ao participar regularmente da Eucaristia, os fiéis são chamados a uma experiência que transcende a busca incessante por novos estímulos, encontrando na constância do rito um caminho para a verdadeira satisfação espiritual.
Quando a sociedade se afasta de práticas que oferecem um sentido profundo e duradouro, como a participação na Santa Missa, é natural que surjam tentativas de preencher esse vazio com estímulos cada vez mais intensos e efêmeros. A cultura da “goonificação” é, em grande parte, uma resposta a essa ausência de significado, uma tentativa de saciar uma sede espiritual com prazeres imediatos e superficiais.
O coração humano possui uma sede infinita, uma busca inerente por propósito e transcendência. Sem a ancoragem em práticas que nutrem essa dimensão espiritual, como a Eucaristia, o indivíduo pode facilmente cair em padrões de comportamento compulsivos, tentando, em vão, preencher o vazio existencial com consumos desenfreados de conteúdo ou experiências.
Portanto, a solução para a crescente pornografização da cultura não reside em meras proibições ou censuras, mas na redescoberta de práticas que oferecem um sentido profundo e duradouro. Ao recentrar a vida em torno da Santa Missa, é possível resgatar a noção de que a repetição pode ser sempre renovada, proporcionando uma satisfação que nenhuma quantidade de estímulos efêmeros pode oferecer.
Chico Escorsim fala sobre o futuro da inteligência artificial nas artes, na cultura e no mundo.
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