Imagem de Charlie Chaplin em cena do filme "Luzes da cidade"

15 filmes essenciais para conhecer o cinema clássico

Embora o cinema seja uma das artes mais recentes na história do mundo, os filmes parecem “envelhecer” rápido demais na apreciação do público.

Se compararmos o cinema com a literatura, por exemplo, veremos que os livros têm um poder de permanência maior dentro da cultura.

É comum haver inúmeras reedições de livros clássicos — Homero, Dante, Shakespeare, Cervantes —, mas o mesmo não acontece com os filmes.

No cinema, o público parece estar sempre em busca de novidades, dos últimos lançamentos, das maiores bilheterias.

Contudo, em sua breve história, o cinema nos legou filmes que se tornaram clássicos, que atingiram um alto nível de qualidade artística e acabaram por adquirir um valor universal.

Como acontece na literatura, a história do cinema também tem o seu cânone: um conjunto de obras que, a partir de um consenso criado entre o público, a crítica e os artistas, foram tendo o seu valor reconhecido.

Mas é preciso fazer um pequeno esforço para descobrir esse valor.

Há uma beleza que precisa ser redescoberta nos filmes em preto e branco, nos filmes silenciosos, nos filmes com um ritmo mais lento e contemplativo.

Ao entrar em contato com essas obras, além de estar aumentando o seu repertório cultural, o espectador também estará passando por uma experiência artística transformadora.

Pensando nisso, elaboramos uma lista com 15 clássicos essenciais da história do cinema. Todos os filmes estão disponíveis no catálogo da Lumine.

São obras que contemplam diferentes épocas, gêneros e nacionalidades.

Confira abaixo.

1. Nosferatu (1922, dir. F. W. Murnau)

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Em um castelo isolado, numa terra distante, habita o misterioso Conde Orlock, um vampiro milenar que espalha o terror por toda a região.

Nosferatu é uma livre adaptação do livro Drácula, de Bram Stoker.

Na história, acompanhamos Hutter, um jovem agente imobiliário que precisa entrar em contato com o conde Orlock para adquirir uma de suas propriedades. O jovem viaja até o castelo do conde e acaba envolvido em seu mundo sombrio. Orlock, por sua vez, apaixona-se pela esposa de Hutter e decide viajar até a Inglaterra para possuí-la.

Produzido com grande imaginação visual e com recursos técnicos inovadores para sua época, o filme se transformaria num modelo para todos os filmes de vampiro posteriores.

2. Aurora (1927, dir. F. W. Murnau)

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Na iminência de cometer um crime contra sua esposa, um homem se arrepende e passa a tentar reconquistar o amor daquela que, por pouco, não se tornou sua vítima fatal.

Aurora é uma fábula moral que fala de culpa, reconciliação, destino e das contradições que existem no coração das pessoas.

Ponto culminante da filmografia do alemão F. W. Murnau, um dos principais nomes da era silenciosa do cinema, o filme se tornou um marco ainda à época do seu lançamento. 

O cineasta francês François Truffaut, por exemplo, chegou a declarar: “Aurora é o filme mais belo já feito”.

3. Luzes da cidade (1931, dir. Charlie Chaplin)

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Um dos filmes mais aclamados da brilhante carreira de Charlie Chaplin, Luzes da cidade é a última história produzida pelo cineasta em que aparece a figura do vagabundo Carlitos.

No filme, a história de amor entre Carlitos e uma florista cega que o confunde com um milionário é contada por Chaplin com muita graça e ternura, revelando a grande habilidade que o ator e cineasta demonstrava na comédia física e nas expressões dramáticas.

Luzes da cidade foi produzido depois do advento do som no cinema. Mas Chaplin preferiu fazer um filme silencioso, pois acreditava no potencial dessa forma de expressão.

O resultado demonstrou que o cineasta estava certo, pois, até hoje, o filme mantém o seu poder de encantar e de emocionar os mais diferentes públicos.

4. Jejum de amor (1940, dir. Howard Hawks)

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Dirigido por Howard Hawks, Jejum de amor é uma ágil e empolgante comédia romântica, com um entrelaçamento incansável de situações inusitadas.

Após saber que sua ex-esposa e colega de profissão Hildy Johnson está para se casar com outro homem, o jornalista Walter Burns fará de tudo para reconquistá-la.

Em menos de 24 horas, Walter precisará convencê-la a retornar para ele, assim como para a rotina movimentada dos jornais, habitat típico dos dois personagens.

A dupla formada por Cary Grant e Rosalind Russell sustenta o ritmo do filme, marcado por diálogos velozes que mais parecem uma dança com as palavras.

Em meio a muitas reviravoltas, o casal tenta reaprender os passos um do outro.

5. Cidadão Kane (1941, dir. Orson Welles)

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Todos que já se interessaram pela história do cinema já ouviram falar de Cidadão Kane, o filme de estreia do ator e cineasta Orson Welles.

Parte da crítica o considera como o primeiro filme do cinema moderno, pois, à época de seu lançamento, o filme funcionava como uma síntese das possibilidades formais do cinema.

Com uma narrativa não linear aliada a usos inovadores de recursos como a profundidade de campo e a cinematografia, a história do magnata Charles Foster Kane (livremente inspirada na vida de William Randolph Hearst) se transformaria numa referência incontornável para várias gerações de artistas do cinema e de espectadores.

O cineasta polonês Krzysztof Kieslowski, por exemplo, dizia ter assistido mais de 60 vezes ao filme de Welles, ao ponto de ter decorado suas falas e até mesmo a sequência das imagens.

6. Interlúdio (1946, dir. Alfred Hitchcock)

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Estrelado por Ingrid Bergman e Cary Grant, Interlúdio, de Alfred Hitchcock, é uma cativante trama de suspense, amor e espionagem.

Curiosamente ambientada no Rio de Janeiro, a narrativa envolve a filha de um espião morto, recrutada para se aproximar e descobrir os segredos de um amigo do seu pai.

Em meio a investigações e ao despertar amoroso do casal principal, Hitchcock constrói cenas memoráveis, conduzindo com controle e precisão o olhar do espectador.

Destaca-se a presença marcante de objetos. A habilidade do diretor transforma uma chave, garrafas de vinho e uma xícara de café em artefatos de imensa importância.

Interlúdio é um dos grandes filmes da carreira de Hitchcock e um dos filmes mais importantes da Hollywood clássica.

7. Ladrões de bicicletas (1948, dir. Vittorio de Sica)

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Um dos grandes filmes do movimento que ficou conhecido como neorrealismo italiano, Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica, é um título que aparece com bastante frequência nas listas dos melhores filmes já feitos.

Na Roma do pós-guerra, onde a pobreza e o desemprego são generalizados, vemos a história do trabalhador Antonio e do seu pequeno filho Bruno.

Antonio consegue um emprego para o qual é necessário ter uma bicicleta. Mas, no primeiro dia de trabalho, a sua bicicleta é roubada. 

A partir desse acontecimento, acompanhamos a jornada de Antonio e de Bruno em busca da bicicleta perdida.

Com uma construção simples e com um profundo senso de humanidade, Ladrões de bicicleta é um filme triste, belo e emocionante.

8. Diário de um pároco de aldeia (1951, dir. Robert Bresson)

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Um padre recém ordenado chega ao vilarejo francês de Ambricourt para servir em sua primeira paróquia.

Mas os paroquianos são quase indiferentes à sua chegada — alguns são até hostis.

O pároco inicia então a escrita de um diário, no qual ele relata os seus sofrimentos e a crise de fé contra a qual ele luta e que ameaça afastá-lo daquele vilarejo e de Deus.

Diário de um pároco de aldeia é o quarto filme de Robert Bresson. Foi nessa obra que o cineasta francês começou a implementar a sua filosofia particular da arte do cinema. Bresson retira todos os elementos que não são essenciais às imagens: as atuações são contidas; a música e o diálogo são mínimos, pois o diretor buscava por uma pureza na imagem e no som.

Essa busca resultou em um dos filmes mais belos de sua filmografia e da história do cinema.

9. Era uma vez em Tóquio (1953, dir. Yasujiro Ozu)

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Uma das várias obras-primas produzidas pelo japonês Yasujiro Ozu, Era uma vez em Tóquio é um filme ao mesmo tempo belo e melancólico.

Na trama, acompanhamos um casal de idosos que vão visitar os seus filhos na cidade de Tóquio.

Mas, ao chegar na cidade, o casal não é tão bem recebido quanto imaginava: seus filhos estão tão envolvidos com as suas próprias preocupações cotidianas que acabam por não lhes dedicar tanta atenção.

Como em outros filmes de sua obra, Ozu aborda com muita delicadeza e grande agudeza de percepção o choque entre as gerações no Japão do pós-guerra, retratando a perda de alguns valores morais e as novas formas de comportamento surgidas após o conflito.

10. O intendente Sansho (1954, dir. Kenji Mizoguchi)

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No Japão feudal, a família de um governador é separada após ele sofrer perseguições políticas. Seus dois filhos pequenos, Zushiô e Anju, são feitos prisioneiros e enviados a um campo de trabalho escravo comandado pelo temido intendente Sansho.

Os anos passam e a rotina de violência a que são submetidos consome suas almas, apagando quase por completo o que havia de bom para dar vez ao mal e à desesperança.

Para sobreviver, os irmãos precisam — o mais rápido possível — relembrar quem são.

Dirigido por Kenji Mizoguchi, um dos grandes cineastas japoneses da história, O intendente Sansho é um drama soberbo sobre a busca humana por salvação.

11. Os sete samurais (1954, dir. Akira Kurosawa)

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Os sete samurais, de Akira Kurosawa, é um dos grandes épicos da história do cinema. Ambientado num vilarejo do século XVI, o enredo retrata a luta dos habitantes do vilarejo para se proteger dos bandidos que os atacam continuamente.

Os habitantes contratam um grupo de samurais, que, além de defendê-los, também os treinam nas artes marciais.

O filme tem mais de três horas, mas a sua narrativa repleta de ação faz com que o espectador quase nem perceba a sua duração longa.

Com a presença de grandes lendas do cinema samurai como Toshiro Mifune e Takashi Shimura, os Sete Samurais combina o tratamento de grandes emoções humanas com sequências de ação primorosas, criando um belo conto sobre coragem e esperança.

12. O mensageiro do diabo (1955, dir. Charles Laughton)

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Embora tenha passado despercebido à época de seu lançamento, o público e a crítica viriam a considerar O mensageiro do diabo como uma obra-prima.

Espécie de conto de fadas sombrio, o filme conta a história de uma viúva e seus filhos que confrontam um homem que é a verdadeira encarnação do mal. 

Frente a esse perigo, manifesta-se uma força, na forma de uma mulher bondosa, que dedica a vida a cuidar de crianças e sacrificar-se por elas, tratando a todos com benevolência e verdadeira misericórdia. Com elementos poéticos e sombrios, e com um pequeno toque de humor negro, o único filme dirigido por Charles Laughton se tornaria um dos grandes clássicos do cinema americano.

13. 12 homens e uma sentença (1957, dir. Sidney Lumet)

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Indicado a 3 prêmios do Oscar, incluindo o de melhor filme, 12 homens e uma sentença é a brilhante estreia do diretor Sidney Lumet em longas-metragens.

A trama acompanha os jurados de um caso de homicídio, nas horas em que passam reunidos para decidir o veredicto que pode condenar um homem à morte.

Todos os presentes estão convencidos da culpa do réu, à exceção de um, que tentará convencer os outros a mudarem de ideia, para que nenhuma injustiça seja cometida.

Ambientado em um mesmo cenário, o filme compõe um microcosmo da sociedade a partir da presença dos doze homens, de profissões e personalidades diferentes.

12 homens e uma sentença é uma aula de ritmo e condução narrativa, possuindo a beleza de um teorema sendo resolvido. Atentos, vamos assistindo a uma verdade que vai sendo revelada aos poucos.

14. Oito e meio (1963, dir. Federico Fellini)

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Após os sucessos de filmes como A estrada da vida e A doce vida, o italiano Federico Fellini efetua um ponto de virada em sua carreira.

O título Oito e meio vem do fato de esse ser o seu oitavo trabalho, após sete longas-metragens e um episódio em um filme coletivo.

Essa informação revela algumas de suas intenções com a obra. Trata-se de um filme autobiográfico e metalinguístico, no qual Fellini fala de si e do mundo do cinema.

Assim como ele, o protagonista Guido é um diretor. Guido está enfrentando uma crise de inspiração, alavancada pela pressão exercida por todas as pessoas à sua volta.

Nesse processo, ele revisita, em sonhos e memórias, inúmeros episódios de sua biografia, entendendo como cada um deles moldou o artista e o homem que ele é.

Indicado na lista de filmes recomendados pelo Vaticano, Oito e meio é uma investigação sobre os caminhos pelos quais a arte e a vida se alimentam mutuamente.

15. Andrei Rublev (1966, dir. Andrei Tarkovski)

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Considerado por muitos críticos como o melhor filme já produzido na Rússia, Andrei Rublev é o retrato da vida do renomado pintor de ícones medieval.

É o segundo longa-metragem dirigido por Andrei Tarkovski, fruto de uma extensa pesquisa sobre a vida de Rublev e a circunstância histórica na qual o pintor vivera.

Além de revelar, em sua segunda produção, um nível de maturidade artística muito raro, Tarkovski já empregava aí as características que fariam com que ele ficasse conhecido no mundo todo: composições visuais únicas, planos longos e uma abordagem do tempo e do espaço completamente integrada à narrativa.

No centro do filme está a luta de Rublev para manter a sua integridade espiritual no meio de um mundo tomado pelo caos.

Andrei Rublev é um filme belo e poético, uma profunda meditação sobre a fé e sobre o poder da arte.

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