Ida Lupino, cineasta
Por Matheus Cartaxo
|
13.maio.2022
Midle Dot

Nascida na Inglaterra em 1918, Ida Lupino começou a trabalhar no cinema ainda adolescente.

Na década de 1930, após figurar em algumas comédias, ela se transfere para Hollywood, onde se torna uma das mais icônicas atrizes do seu tempo, estrelando filmes de grandes diretores como Robert Aldrich, Nicholas Ray e Fritz Lang.

Ao longo de sua carreira, Lupino atuou em 59 filmes. Além disso, ela e seu marido, Collier Young, fundaram uma produtora independente de cinema, chamada The Filmakers, por meio da qual Lupino se tornou também diretora, numa época em que não era comum ter mulheres exercendo esse papel.

Ida Lupino

Embora sua obra não seja vasta — ao todo, Lupino assinou oito longas-metragens —, ela ficou notabilizada por algumas características importantes.

Os temas dos filmes de Ida Lupino

Em primeiro lugar, os temas abordados. Ao fundar a The Filmakers, um dos objetivos de Ida Lupino era realizar filmes de pequeno orçamento que contemplassem alguns assuntos importantes do seu tempo. Assim, em Quem ama não teme (“Never Fear”, 1950), a poliomielite, doença que assolava os Estados Unidos na época; em O mundo é o culpado (“Outrage”, 1950), o estupro; em Mãe solteira (“Not Wanted”, 1949), a gravidez indesejada; em O mundo odeia-me (“The Hitch-Hiker”, 1953), a violência nas estradas do país; e em O bígamo (“The Bigamist”, 1953), a traição no casamento.

No entanto, e este é o segundo aspecto a ser ressaltado, seus filmes não se limitam aos temas. Nas joias esculpidas por Lupino, percebemos uma capacidade de observação que revela as ambiguidades e vacilações existentes na alma dos seres humanos.

Cena do filme O mundo odeia-me (1953)

Em O bígamo, um dos personagens diz para o outro, que cometeu traições e leva uma vida dupla: “Não consigo definir meus sentimentos por você. Eu o desprezo, e me compadeço por você. Não quero apertar tua mão, e quase lhe desejo boa sorte.” Uma frase sintomática do interesse da cineasta em não simplificar os dramas que tem em mãos, mas sim mergulhar neles e registrá-los quase à queima-roupa.

Tudo isso é alcançado, não haveria de ser diferente, pela forma como Lupino filma essas histórias. No conjunto restrito de filmes que compõem sua filmografia, notamos como ela absorveu os códigos dos gêneros cinematográficos (o noir, o melodrama, o suspense) e as lições dos gigantes com quem trabalhou na indústria de Hollywood, ao mesmo tempo que adicionava um realismo, uma centelha documental, capaz de dotar sua obra de uma modernidade que a desloca em relação à de seus pares.

Características formais dos filmes

Nos filmes de Lupino, cenários e objetos enchem de força as cenas. O  mundo em volta dos personagens aparece vivo, pulsante e integrado às tramas que se desenrolam sobre ele e que ali se projetam. O que há de mais profundo parece ser trazido à superfície.

Por exemplo, no final de Mãe solteira: a protagonista corre desesperada e a estrutura de ferro do túnel que atravessa parece aprisionar o destino dela e do homem que a ama.

Cena do filme Mãe solteira (1949)

Essa espacialidade dos sentimentos marca toda a trajetória de Lupino como cineasta, do começo até o final. No seu último filme, Anjos rebeldes (“The Trouble with Angels”, 1966), que conta a história das melhores amigas Mary e Rachel, alunas bagunceiras de um colégio religioso, notamos a utilização dos mesmos recursos na encenação.

Quando as amigas devem se separar após Mary, para a surpresa de todos, tomar a decisão de seguir a vida religiosa, Rachel não aceita, e ameaça não se despedir. Aqui, novamente, Lupino usa os cenários para contar a história. A cineasta filma de uma distância em que cada personagem ocupa um lado do quadro.

Além disso, a sombra dos vagões parece destacar a separação.

Essa organização se mantém, até o momento em que as amigas não resistem ao sentimento que toma conta delas e correm para se abraçar. Elas então ocupam juntas o centro da tela com um abraço que sela a amizade de ambas para sempre.

Para o crítico Pierre Rissient, o principal na obra de Ida Lupino é “a atenção conferida aos personagens, o impulso, a generosidade, a ternura, a vulnerabilidade que transparece nos filmes”. Dona de uma carreira curta como cineasta, porém marcada por um talento raramente visto na história do cinema, é um nome a ser cada vez mais conhecido e valorizado.

***

Assista a alguns dos principais filmes de Ida Lupino na Lumine.

Assine agora para ter acesso aos maiores clássicos do cinema.

Icone

Receba nossos e-mails

Novos artigos, recomendações de filmes, trailers, lançamentos e muito mais. Não muito — apenas o suficiente.

Nascida na Inglaterra em 1918, Ida Lupino começou a trabalhar no cinema ainda adolescente.

Na década de 1930, após figurar em algumas comédias, ela se transfere para Hollywood, onde se torna uma das mais icônicas atrizes do seu tempo, estrelando filmes de grandes diretores como Robert Aldrich, Nicholas Ray e Fritz Lang.

Ao longo de sua carreira, Lupino atuou em 59 filmes. Além disso, ela e seu marido, Collier Young, fundaram uma produtora independente de cinema, chamada The Filmakers, por meio da qual Lupino se tornou também diretora, numa época em que não era comum ter mulheres exercendo esse papel.

Ida Lupino

Embora sua obra não seja vasta — ao todo, Lupino assinou oito longas-metragens —, ela ficou notabilizada por algumas características importantes.

Os temas dos filmes de Ida Lupino

Em primeiro lugar, os temas abordados. Ao fundar a The Filmakers, um dos objetivos de Ida Lupino era realizar filmes de pequeno orçamento que contemplassem alguns assuntos importantes do seu tempo. Assim, em Quem ama não teme (“Never Fear”, 1950), a poliomielite, doença que assolava os Estados Unidos na época; em O mundo é o culpado (“Outrage”, 1950), o estupro; em Mãe solteira (“Not Wanted”, 1949), a gravidez indesejada; em O mundo odeia-me (“The Hitch-Hiker”, 1953), a violência nas estradas do país; e em O bígamo (“The Bigamist”, 1953), a traição no casamento.

No entanto, e este é o segundo aspecto a ser ressaltado, seus filmes não se limitam aos temas. Nas joias esculpidas por Lupino, percebemos uma capacidade de observação que revela as ambiguidades e vacilações existentes na alma dos seres humanos.

Cena do filme O mundo odeia-me (1953)

Em O bígamo, um dos personagens diz para o outro, que cometeu traições e leva uma vida dupla: “Não consigo definir meus sentimentos por você. Eu o desprezo, e me compadeço por você. Não quero apertar tua mão, e quase lhe desejo boa sorte.” Uma frase sintomática do interesse da cineasta em não simplificar os dramas que tem em mãos, mas sim mergulhar neles e registrá-los quase à queima-roupa.

Tudo isso é alcançado, não haveria de ser diferente, pela forma como Lupino filma essas histórias. No conjunto restrito de filmes que compõem sua filmografia, notamos como ela absorveu os códigos dos gêneros cinematográficos (o noir, o melodrama, o suspense) e as lições dos gigantes com quem trabalhou na indústria de Hollywood, ao mesmo tempo que adicionava um realismo, uma centelha documental, capaz de dotar sua obra de uma modernidade que a desloca em relação à de seus pares.

Características formais dos filmes

Nos filmes de Lupino, cenários e objetos enchem de força as cenas. O  mundo em volta dos personagens aparece vivo, pulsante e integrado às tramas que se desenrolam sobre ele e que ali se projetam. O que há de mais profundo parece ser trazido à superfície.

Por exemplo, no final de Mãe solteira: a protagonista corre desesperada e a estrutura de ferro do túnel que atravessa parece aprisionar o destino dela e do homem que a ama.

Cena do filme Mãe solteira (1949)

Essa espacialidade dos sentimentos marca toda a trajetória de Lupino como cineasta, do começo até o final. No seu último filme, Anjos rebeldes (“The Trouble with Angels”, 1966), que conta a história das melhores amigas Mary e Rachel, alunas bagunceiras de um colégio religioso, notamos a utilização dos mesmos recursos na encenação.

Quando as amigas devem se separar após Mary, para a surpresa de todos, tomar a decisão de seguir a vida religiosa, Rachel não aceita, e ameaça não se despedir. Aqui, novamente, Lupino usa os cenários para contar a história. A cineasta filma de uma distância em que cada personagem ocupa um lado do quadro.

Além disso, a sombra dos vagões parece destacar a separação.

Essa organização se mantém, até o momento em que as amigas não resistem ao sentimento que toma conta delas e correm para se abraçar. Elas então ocupam juntas o centro da tela com um abraço que sela a amizade de ambas para sempre.

Para o crítico Pierre Rissient, o principal na obra de Ida Lupino é “a atenção conferida aos personagens, o impulso, a generosidade, a ternura, a vulnerabilidade que transparece nos filmes”. Dona de uma carreira curta como cineasta, porém marcada por um talento raramente visto na história do cinema, é um nome a ser cada vez mais conhecido e valorizado.

***

Assista a alguns dos principais filmes de Ida Lupino na Lumine.

Assine agora para ter acesso aos maiores clássicos do cinema.

Icone

Receba nossos e-mails

Novos artigos, recomendações de filmes, trailers, lançamentos e muito mais. Não muito — apenas o suficiente.

Mais Artigos

|
20.set.2024

O esperado pronunciamento da Igreja sobre Medjugorje

Padre Francisco Amaral comenta o pronunciamento da Igreja Católica a respeito de Medjugorje.

Por Padre Francisco Amaral

Ler artigo
|
13.set.2024

Arte e civilidade: você precisa ler isso

De como a arte é essencial para as nossas noções de moral e de civilidade.

Por Matheus Bazzo

Ler artigo
|
06.set.2024

Beatas, mártires e brasileiras: descubra quem elas são

Conheça a história de três jovens brasileiras que sofreram martírio e foram beatificadas pela Igreja Católica.

Por Redação Lumine

Ler artigo