O que o documentário “A ilha dos monges” nos ensina sobre vocação

A ilha dos monges, documentário dirigido por Anne Christine Girardot, retrata um momento importante na vida de oito monges da Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância, também conhecida como Ordem Trapista.

Incapazes de fazer a manutenção da imponente construção, os monges decidem se mudar para um novo lugar: a remota ilha de Schiermonnikoog, ao norte do país, a qual no passado já fora habitada por monges. Lá, eles esperam fundar um novo mosteiro, mais adequado às suas necessidades.

Eles habitam um antigo mosteiro em Diepenveen, na Holanda. A Abadia de Sion foi originalmente construída para abrigar cento e vinte monges, mas restara apenas o reduzido grupo, alguns em idade avançada.

Incapazes de fazer a manutenção da imponente construção, os monges decidem se mudar para um novo lugar: a remota ilha de Schiermonnikoog, ao norte do país, a qual no passado já fora habitada por monges. Lá, eles esperam fundar um novo mosteiro, mais adequado às suas necessidades.

A mudança

No filme, acompanhamos entrevistas feitas nas semanas em que a mudança transcorre. Os monges refletem sobre o significado daquele momento, da vida monástica e também sobre suas trajetórias pessoais até ali, incluindo a conversão em suas biografias. A partir dos relatos, entendemos como o ato de seguir a vocação religiosa consiste em lidar com uma série de renúncias. 

A saída da Abadia para a ilha de Schiermonnikoog é mais um capítulo em vidas feitas de total abnegação. Como relembra o Irmão Vicentius: “somos pó, e ao pó voltaremos”. Um morto não possui bens terrenos, e um monge deve fazer o mesmo, entregando-se numa tal dimensão que só o abandono em Deus os capacita para isso.

Outro monge, o Irmão Paulus, por um certo período da vida deixou a vida monástica para viver com uma mulher. Ele ignorou o seu chamado durante seis anos. Até que, finalmente, decidiu viver a sua vocação de forma plena. E aí pode encontrar aquela felicidade própria de quem conhece o seu lugar no mundo. 

Já o Irmão Jelke cita o Evangelho de São Lucas: “Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão”. E então diz: “Foi isso o que Deus fez comigo. Eu era uma destas pedras, tinha um coração de pedra.” Porém, mesmo esse coração de pedra abriu-se sem reservas à graça, e também decidiu aceitar o seu chamado pessoal.

Uma nova luz

A ilha dos monges também reflete sobre o papel dos religiosos na sociedade. Restando tão poucos deles na Abadia de Sion, muitas pessoas podem se perguntar: afinal, qual o propósito de levar uma vida assim? Ao que o Irmão Paulus responde com clareza: “Nosso papel é estarmos aqui. Para muitas pessoas isso representa um grande sinal. De que não devemos desistir de rezar. De que Deus permanece vivo na sociedade, de que não deve ser lançado fora ou escondido. Porque Ele continua aqui. Mesmo para as pessoas que não tenham percebido isso em suas vidas. Nesse sentido, não ser mais do que um sinal de Deus é mais do que suficiente para mim”.

Durante o documentário, várias vezes a câmera registra os monges caminhando por vastas paisagens desertas e frias, símbolo das dificuldades que enfrentam sem desistir. Também é constante a imagem do farol da ilha, que corta em intervalos a paisagem escura, de forma silenciosa, sem chamar muito a atenção, tal como a vida daqueles homens simples e piedosos em meio a uma sociedade na qual a descrença parece reinar.

Assim, longe de representar uma derrota, o novo mosteiro de Schiermonnikoog pode ser o estopim para que mais vocações surjam e para que as pessoas voltem a se lembrar de Deus, simplesmente por acompanharem de perto a existência desses monges, verdadeiros guardiões de um tesouro. Aqueles homens estão destinados a ser a Luz que ilumina a sociedade, vivendo para ser um sinal Dele. Em qualquer lugar que seja necessário.

Ilha dos monges está disponível na Lumine

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