Revi, dias atrás, a cena de La Dolce Vita, de Federico Fellini, que mostra Jesus de helicóptero. As cenas iniciais são tão significativas, já apresentando e formulando o tema do filme, antes mesmo de começar a contar uma história, que não resisti e resolvi tentar fazer aqui, por escrito, um dos exercícios de atenção que costumo fazer em aula.
Caso não seja assinante, há o início do filme no YouTube, que colo abaixo e serve para nosso propósito aqui. Assista primeiro, depois leia o que segue:
A primeira imagem é vista da perspectiva do chão mirando o céu, contendo ruínas antigas espalhadas entre um e outro. Aos poucos, dois helicópteros surgem ao fundo, fazendo um contraste entre a antiguidade das ruínas e a modernidade da máquina (o filme é de 1960).
Preso a uma das aeronaves, balançando no ar, está uma estátua de Jesus Cristo, com os braços abertos, em posição de bênção.
Depois de passar sobre essas ruínas antigas, restos do Império Romano, o helicóptero cruza áreas de construção civil moderna, prédios sendo erguidos, sinal do progresso, da construção do novo.
No trajeto se faz uma pausa quando, ao sobrevoar um desses edifícios terminados, vê-se um grupo de mulheres em trajes de banho, tomando sol numa cobertura. Os tripulantes do helicóptero acenam e tentam flertar com as mulheres, que respondem, enquanto a estátua continua suspensa, tendo servido de curiosidade para as mulheres terem dado atenção.
Eles seguem adiante e o voo se encerra pela aproximação do Vaticano, lugar para onde aparentemente a estátua é levada.
Ao todo, essas imagens não duram 3 minutos.
O filme não explica nada: apenas mostra as imagens em sequência, confiando que o espectador será capaz de perceber as conexões, sentir os contrastes e pensar nos significados.
O helicóptero e a estátua juntos formam um símbolo poderoso: o sagrado agora aparece de forma dessacralizada, como parte do cotidiano secular, não conduzindo os homens, mas sendo transportado por eles.
O que antes era o centro de todas as coisas, agora parece ser apenas algo mais em meio a todas as coisas, talvez sem conexão com elas, salvo como curiosidade, como na cena das mulheres.
Somado ao passar por sobre as ruínas, a cena parece construir o sentido de uma suposta superioridade do moderno. As ruínas e a estátua de Jesus seriam apenas lembranças de um passado, até glorioso, mas terminado, sendo substituído pelo novo que se constrói por toda parte.
A cena do flerte dos homens no helicóptero com as mulheres de biquíni reforça essa perspectiva. Assim, Fellini introduz o tema do filme, que pode ser expresso de várias maneiras, mas que é percebido através de alguns pontos bem claros:
Estaria Fellini querendo dizer que somos herdeiros de um passado grandioso, vivendo entre ruínas e novidades, mas tendo perdido a centralidade do sagrado, que paira acima de nós como referência suspensa, deslocada, decorativa, talvez esperando para ser redescoberta, não como adorno, mas uma presença viva?
O filme será uma crítica aberta, retratando uma sociedade hedonista, marcada pela superficialidade e incomunicabilidade?
Ou, ao contrário, será uma ode à vida moderna?
Para descobrir a resposta, só assistindo o filme por inteiro, é claro. Já disse que está disponível na Lumine, não?
Assine a plataforma para ter acesso a esses e a centenas de outros filmes inspiradores.
Revi, dias atrás, a cena de La Dolce Vita, de Federico Fellini, que mostra Jesus de helicóptero. As cenas iniciais são tão significativas, já apresentando e formulando o tema do filme, antes mesmo de começar a contar uma história, que não resisti e resolvi tentar fazer aqui, por escrito, um dos exercícios de atenção que costumo fazer em aula.
Caso não seja assinante, há o início do filme no YouTube, que colo abaixo e serve para nosso propósito aqui. Assista primeiro, depois leia o que segue:
A primeira imagem é vista da perspectiva do chão mirando o céu, contendo ruínas antigas espalhadas entre um e outro. Aos poucos, dois helicópteros surgem ao fundo, fazendo um contraste entre a antiguidade das ruínas e a modernidade da máquina (o filme é de 1960).
Preso a uma das aeronaves, balançando no ar, está uma estátua de Jesus Cristo, com os braços abertos, em posição de bênção.
Depois de passar sobre essas ruínas antigas, restos do Império Romano, o helicóptero cruza áreas de construção civil moderna, prédios sendo erguidos, sinal do progresso, da construção do novo.
No trajeto se faz uma pausa quando, ao sobrevoar um desses edifícios terminados, vê-se um grupo de mulheres em trajes de banho, tomando sol numa cobertura. Os tripulantes do helicóptero acenam e tentam flertar com as mulheres, que respondem, enquanto a estátua continua suspensa, tendo servido de curiosidade para as mulheres terem dado atenção.
Eles seguem adiante e o voo se encerra pela aproximação do Vaticano, lugar para onde aparentemente a estátua é levada.
Ao todo, essas imagens não duram 3 minutos.
O filme não explica nada: apenas mostra as imagens em sequência, confiando que o espectador será capaz de perceber as conexões, sentir os contrastes e pensar nos significados.
O helicóptero e a estátua juntos formam um símbolo poderoso: o sagrado agora aparece de forma dessacralizada, como parte do cotidiano secular, não conduzindo os homens, mas sendo transportado por eles.
O que antes era o centro de todas as coisas, agora parece ser apenas algo mais em meio a todas as coisas, talvez sem conexão com elas, salvo como curiosidade, como na cena das mulheres.
Somado ao passar por sobre as ruínas, a cena parece construir o sentido de uma suposta superioridade do moderno. As ruínas e a estátua de Jesus seriam apenas lembranças de um passado, até glorioso, mas terminado, sendo substituído pelo novo que se constrói por toda parte.
A cena do flerte dos homens no helicóptero com as mulheres de biquíni reforça essa perspectiva. Assim, Fellini introduz o tema do filme, que pode ser expresso de várias maneiras, mas que é percebido através de alguns pontos bem claros:
Estaria Fellini querendo dizer que somos herdeiros de um passado grandioso, vivendo entre ruínas e novidades, mas tendo perdido a centralidade do sagrado, que paira acima de nós como referência suspensa, deslocada, decorativa, talvez esperando para ser redescoberta, não como adorno, mas uma presença viva?
O filme será uma crítica aberta, retratando uma sociedade hedonista, marcada pela superficialidade e incomunicabilidade?
Ou, ao contrário, será uma ode à vida moderna?
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