O que está acontecendo na Nicarágua?

Entrevista com o professor Edmilson Cruz

No dia 19 de Agosto de 2022, o mundo recebeu a notícia da prisão do bispo Rolando Álvarez pelo regime de Daniel Ortega, ditador da Nicarágua. Esse fato expôs a escalada de violência no país, despertando toda sorte de sentimentos: apreensão, indignação e revolta.

Diante disso, busca-se entender os caminhos que conduziram o país à triste situação atual. Na conversa abaixo, o professor Edmilson Cruz, mestre em história, traz alguns esclarecimentos a respeito da situação política da Nicarágua e traça perspectivas futuras a respeito do desenrolar dos fatos.

Quem é Daniel Ortega, o ditador da Nicarágua? Quais as ideias que o orientam?

Daniel Ortega é fruto do movimento sandinista, que ocorreu em meados do século XX, durante a guerra fria. O ditador da Nicarágua vem com uma visão marxista-leninista para a implementação de um regime totalmente socialista na Nicarágua. Quando ele assume, em 1990, pela primeira vez, a presidência da Nicarágua, ele tenta implementar suas ideias, mas acaba saindo do poder, e volta, então, no ano de 2006. De lá para cá, ele está no poder.

Já fazem cerca de 14 anos, o que nunca poderia ter acontecido, porque a política do país defende que alguém só pode ser eleito uma vez, durante sete anos, sem reeleição. Porém ele burlou todas as regras, inventou um monte de fraudes e mentiras, prendeu seus opositores, tudo isso para se perpetuar no poder. Assim ele iniciou um avanço radical do socialismo.

A perseguição à Igreja Católica na Nicarágua é algo recente ou acontece há mais tempo? Que fatores levaram o país a situação atual?

Como o regime socialista é um regime ateu, sua implementação na Nicarágua bateu de frente com a Igreja, que é e sempre foi contra o comunismo, condenando-o desde a década de 50 do século XIX, desde Pio IX.

O problema é o seguinte: a revolução sandinista foi apoiada na época por alguns membros da Igreja, que não eram católicos, mas usavam da estrutura da igreja para disseminar as ideias socialistas, como o caso do padre Ernesto Cardenal, que tinha largado a batina para lutar na revolução sandinista. Quando São João Paulo II foi visitar a região, esse padre se ajoelhou em frente ao papa e foi repreendido. Depois ele foi excomungado. A revolução sandinista e a teologia da libertação levaram o país à situação que existe hoje, infelizmente.

A perseguição à Igreja está de acordo com a opinião pública do povo da Nicarágua ou ela é feita a partir de atos impositivos?

Não temos como saber isso porque as informações não chegam até nós. Em um regime socialista, não temos como saber a verdade. O que sabemos é que vários bispos e sacerdotes foram presos e podem estar sendo torturados, executados, mas não sabemos de maneira segura o que acontece. Provavelmente a opinião pública está em desacordo com isso, mas o medo é o que rege um regime como esse.

Além da Igreja Católica, que outros grupos protestam contra o governo e são perseguidos?

Embora não haja informações exatas e oficiais devido ao controle do regime, sabemos que há sim vários grupos protestando contra o governo do Daniel Ortega. Inclusive a sua grande opositora política, a Cristiane Chamorro, foi presa e está detida. Provavelmente há outros grupos, mas todos estão sendo reprimidos.

Por que a Igreja Católica é alvo de regimes totalitários? O que podemos esperar desses episódios?

O que podemos esperar é, cada vez mais, o aumento da perseguição e da destruição contra a fé, a verdade e a liberdade, que é o que sempre ocorre nos regimes comunistas. A Igreja Católica é a força moral e espiritual que impede o avanço das ideias demoníacas e satanistas do comunismo.

Por isso ela foi perseguida na Rússia, em Cuba, no Vietnã, e está sendo perseguida na China, na Nicarágua, e em qualquer regime comunista, porque em toda sua teologia, doutrina social, cosmovisão, a Igreja é contra o comunismo. Não há compatibilidade entre o comunismo e a Igreja Católica, então é por causa disso que ela é perseguida por esses regimes totalitários.

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Cartaz do filme "A salvação de um continente" - São João Paulo II e a queda do comunismo.

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