John Ford é conhecido por ter dirigido alguns dos maiores faroestes da história do cinema.
Filmes como Rastros de Ódio, O homem que matou o facínora, Legião Invencível e vários outros.
Embora ele também tenha dirigido filmes de outros gêneros, como o romance Depois do Vendaval e o drama de guerra Fomos os sacrificados, seu nome acabaria por se transformar quase em um sinônimo do faroeste.
Além disso, Ford foi responsável por revolucionar o gênero, fazendo com que ele passasse a ser considerado com mais seriedade pelo público e pela crítica. Boa parte dessa “revolução” se deve a No tempo das diligências, filme produzido em 1939 e integrante da lista de filmes recomendados pelo Vaticano.
Embora o faroeste seja um gênero que se confunde com a própria história do cinema, até os anos 30 ele não tinha o prestígio que viria a adquirir depois, quando a crítica passou a reconhecer o valor artístico de filmes de diretores como Ford, Howard Hawks e Raoul Walsh.
O faroeste era considerado um gênero de categoria inferior — as grandes estrelas não queriam participar dessas produções, os orçamentos que os estúdios liberavam para produzi-los era mais restrito quando comparados aos de outros gêneros e, com poucas exceções no meio do grande número de títulos, os próprios filmes não apresentavam um nível de complexidade artística que justificasse uma maior consideração por eles.
No tempo das diligências mudaria esse cenário.
Além de se transformar em um modelo para o gênero, o filme viria a ser reconhecido como um dos grandes clássicos da história do cinema, cuja influência pode ser percebida mesmo em grandes produções da atualidade.
Mas o que faz do filme de Ford um clássico? Quais são as qualidades responsáveis pelo seu grande poder de influência?
A primeira grande qualidade que podemos encontrar no filme de Ford é a complexidade de suas personagens.
Na história da diligência que precisa atravessar o perigoso território dos índios Apache, Ford reuniu uma série de personagens arquetípicos do faroeste, como o protagonista Ringo Kid (vivido por John Wayne), que encarna o tipo do herói marginal dentro da sociedade; o médico que, apesar de sua competência, vive alcoolizado; a prostituta que demonstra nobreza de alma; o golpista de bom coração, etc. Mas essas personagens estereotipadas não são previsíveis nem simplistas: são indivíduos complexos, psicologicamente ricos, que apresentam um caráter surpreendente e um grande valor humano.
Como disse o crítico André Bazin: “Admirável ilustração dramática da parábola do fariseu e do publicano, No Tempo das Diligências, de John Ford, nos mostra que uma prostituta pode ser mais respeitável do que os beatos que a expulsaram da cidade e tanto quanto a mulher de um oficial; que um jogador perdido pode saber morrer com uma dignidade de aristocrata; que um médico bêbado pode praticar seu ofício com competência e abnegação; que um fora da lei perseguido pode dar provas de lealdade, generosidade, coragem e delicadeza, enquanto que um banqueiro de boa reputação foge com todo o dinheiro do seu caixa”.
A segunda grande qualidade de No tempo das diligências é a direção de Ford. Além da rica construção de personagens, o filme apresenta grandes sequências de ação e um modo de explorar o espaço que seria imitado por inúmeros outros cineastas.
Orson Welles, por exemplo, quando estava produzindo o seu famoso clássico Cidadão Kane (que também viria a ser considerado como um dos grandes filmes da história), assistiu a No tempo das diligências todos os dias durante quarenta dias seguidos.
Welles desejava compreender todas as nuances da direção de Ford: como ele conduzia as sequências, em que momento ele cortava de uma cena para outra, como ele dirigia os atores, em que posição estava a câmera em determinado momento, etc.
A direção de No tempo das diligências é tão modelar que serve de referência até os dias de hoje.
Um bom exemplo é Mad Max: Estrada da Fúria, produzido em 2015. O filme foi um sucesso de público e de crítica e é nítida nele a influência do filme de Ford, basta considerarmos algumas características para perceber isso: uma história que gira em torno de uma perseguição no meio de uma terra inóspita; vários personagens circunscritos a um espaço limitado que vão se transformando espiritualmente durante a jornada; cenas estruturadas em torno de um único veículo — a diligência no filme de Ford, a “máquina de guerra” em Mad Max.
Mas, além de tudo isso, quando comparamos algumas cenas do filme de Ford com algumas cenas de Estrada da Fúria, é possível perceber uma grande semelhança no ritmo, na estrutura e até mesmo em enquadramentos particulares:
À maneira de No tempo das diligências, Mad Max: Estrada da fúria também é um filme que parte de uma abordagem original do seu gênero para se revelar como um estudo complexo das relações e dos sentimentos humanos. Mas este é apenas um exemplo de muitos outros que poderiam ser citados.
Consolidação da importância do faroeste, complexidade dramática, direção primorosa e contínuo poder de influência. Todas essas características fazem de No tempo das diligências um clássico imperdível. Uma das obras-primas do gênero do faroeste e da história do cinema como um todo.
*
Assine a Lumine e tenha acesso a No tempo das diligências e centenas de outros filmes clássicos do cinema mundial.
John Ford é conhecido por ter dirigido alguns dos maiores faroestes da história do cinema.
Filmes como Rastros de Ódio, O homem que matou o facínora, Legião Invencível e vários outros.
Embora ele também tenha dirigido filmes de outros gêneros, como o romance Depois do Vendaval e o drama de guerra Fomos os sacrificados, seu nome acabaria por se transformar quase em um sinônimo do faroeste.
Além disso, Ford foi responsável por revolucionar o gênero, fazendo com que ele passasse a ser considerado com mais seriedade pelo público e pela crítica. Boa parte dessa “revolução” se deve a No tempo das diligências, filme produzido em 1939 e integrante da lista de filmes recomendados pelo Vaticano.
Embora o faroeste seja um gênero que se confunde com a própria história do cinema, até os anos 30 ele não tinha o prestígio que viria a adquirir depois, quando a crítica passou a reconhecer o valor artístico de filmes de diretores como Ford, Howard Hawks e Raoul Walsh.
O faroeste era considerado um gênero de categoria inferior — as grandes estrelas não queriam participar dessas produções, os orçamentos que os estúdios liberavam para produzi-los era mais restrito quando comparados aos de outros gêneros e, com poucas exceções no meio do grande número de títulos, os próprios filmes não apresentavam um nível de complexidade artística que justificasse uma maior consideração por eles.
No tempo das diligências mudaria esse cenário.
Além de se transformar em um modelo para o gênero, o filme viria a ser reconhecido como um dos grandes clássicos da história do cinema, cuja influência pode ser percebida mesmo em grandes produções da atualidade.
Mas o que faz do filme de Ford um clássico? Quais são as qualidades responsáveis pelo seu grande poder de influência?
A primeira grande qualidade que podemos encontrar no filme de Ford é a complexidade de suas personagens.
Na história da diligência que precisa atravessar o perigoso território dos índios Apache, Ford reuniu uma série de personagens arquetípicos do faroeste, como o protagonista Ringo Kid (vivido por John Wayne), que encarna o tipo do herói marginal dentro da sociedade; o médico que, apesar de sua competência, vive alcoolizado; a prostituta que demonstra nobreza de alma; o golpista de bom coração, etc. Mas essas personagens estereotipadas não são previsíveis nem simplistas: são indivíduos complexos, psicologicamente ricos, que apresentam um caráter surpreendente e um grande valor humano.
Como disse o crítico André Bazin: “Admirável ilustração dramática da parábola do fariseu e do publicano, No Tempo das Diligências, de John Ford, nos mostra que uma prostituta pode ser mais respeitável do que os beatos que a expulsaram da cidade e tanto quanto a mulher de um oficial; que um jogador perdido pode saber morrer com uma dignidade de aristocrata; que um médico bêbado pode praticar seu ofício com competência e abnegação; que um fora da lei perseguido pode dar provas de lealdade, generosidade, coragem e delicadeza, enquanto que um banqueiro de boa reputação foge com todo o dinheiro do seu caixa”.
A segunda grande qualidade de No tempo das diligências é a direção de Ford. Além da rica construção de personagens, o filme apresenta grandes sequências de ação e um modo de explorar o espaço que seria imitado por inúmeros outros cineastas.
Orson Welles, por exemplo, quando estava produzindo o seu famoso clássico Cidadão Kane (que também viria a ser considerado como um dos grandes filmes da história), assistiu a No tempo das diligências todos os dias durante quarenta dias seguidos.
Welles desejava compreender todas as nuances da direção de Ford: como ele conduzia as sequências, em que momento ele cortava de uma cena para outra, como ele dirigia os atores, em que posição estava a câmera em determinado momento, etc.
A direção de No tempo das diligências é tão modelar que serve de referência até os dias de hoje.
Um bom exemplo é Mad Max: Estrada da Fúria, produzido em 2015. O filme foi um sucesso de público e de crítica e é nítida nele a influência do filme de Ford, basta considerarmos algumas características para perceber isso: uma história que gira em torno de uma perseguição no meio de uma terra inóspita; vários personagens circunscritos a um espaço limitado que vão se transformando espiritualmente durante a jornada; cenas estruturadas em torno de um único veículo — a diligência no filme de Ford, a “máquina de guerra” em Mad Max.
Mas, além de tudo isso, quando comparamos algumas cenas do filme de Ford com algumas cenas de Estrada da Fúria, é possível perceber uma grande semelhança no ritmo, na estrutura e até mesmo em enquadramentos particulares:
À maneira de No tempo das diligências, Mad Max: Estrada da fúria também é um filme que parte de uma abordagem original do seu gênero para se revelar como um estudo complexo das relações e dos sentimentos humanos. Mas este é apenas um exemplo de muitos outros que poderiam ser citados.
Consolidação da importância do faroeste, complexidade dramática, direção primorosa e contínuo poder de influência. Todas essas características fazem de No tempo das diligências um clássico imperdível. Uma das obras-primas do gênero do faroeste e da história do cinema como um todo.
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