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O Presépio de São Francisco de Assis: a noite em que Greccio se tornou a nova Belém
Por Maria Tolentino
|
24.nov.2025
Midle Dot

No inverno gelado de 1223, a pequena aldeia de Greccio, na Itália, viveu uma noite que mudaria para sempre a forma como celebramos o Natal. Ali, em uma gruta simples entre as montanhas, São Francisco de Assis criou o primeiro presépio da história, não como uma mera decoração, mas como um gesto de fé profundamente poético, que aproximou o povo do mistério da Encarnação.

O que Francisco fez não foi uma apresentação teatral nem um objeto devocional. Foi uma catequese viva, uma forma de encenar o Evangelho para que as pessoas pudessem ver, ouvir e sentir aquilo que, muitas vezes, ficava distante: o Deus que se fez pequeno, acessível, pobre.

Este artigo mergulha no contexto, nos detalhes e no legado espiritual do primeiro presépio. 

Por que Greccio se tornou a Nova Belém?

Para entender Greccio, é preciso primeiro entender Belém. Pouco tempo antes, em 1219, São Francisco havia feito uma peregrinação à Terra Santa. Ele visitou os locais sagrados e, o mais importante, esteve na gruta da Natividade em Belém.

Aquela experiência o marcou profundamente. Ele tocou o lugar onde, segundo a tradição, o Verbo se fez carne. São Francisco de Assis  ficou comovido não com a glória, mas com a humildade e a pobreza daquele evento. 

Ao retornar à Itália, ele carregava no coração uma inquietação: como partilhar com o povo simples, que jamais poderia peregrinar à Terra Santa, a emoção que sentiu? Como fazer o Evangelho se tornar palpável, no aqui e no agora?

O seu biógrafo, Tomé de Celano, captura o desejo de Francisco:

“Desejo celebrar a memória daquele Menino que nasceu em Belém, e ver com os olhos do corpo, o mais possível, os desconfortos da sua infância, como Ele foi reclinado no presépio e como, entre o boi e o burro, repousou sobre o feno.”

O foco de Francisco era “ver com os olhos do corpo”. Ele queria uma experiência sensorial da Encarnação.

A Noite de Greccio: como nasceu o primeiro presépio

Quinze dias antes do Natal de 1223, Francisco chamou um homem local de Greccio, um nobre chamado João Velita, conhecido por sua fé e amizade com o santo.

Francisco lhe fez um pedido específico: “Quero que prepares uma gruta, tragas feno, um boi e um jumento, exatamente como foi em Belém.”

João Velita prontamente atendeu ao pedido. Na noite de Natal, frades e camponeses das redondezas vieram em procissão, segurando tochas e velas que iluminavam a noite escura. A cena, descrita por Celano, era de uma alegria transbordante. O bosque ressoava com cânticos, e a rocha da gruta parecia exultar.

Dentro da gruta, tudo estava preparado: o feno no cocho (a manjedoura) e os animais vivos, cuja respiração criava vapor no ar frio.

São Francisco, que era diácono (e não sacerdote), não celebrou a Missa, mas proclamou o Evangelho com uma voz tão comovida que, segundo os relatos, fazia o povo chorar de ternura. Ele pregou sobre o “Rei Pobre” e, ao falar o nome “Jesus”, dizia-se que ele “lambia os lábios”, como se saboreasse a doçura daquele nome.

O significado do presépio de São Francisco: a manjedoura como altar

O gesto mais genial e teologicamente profundo do presépio de São Francisco de Assis naquela noite foi a união de dois mistérios: o Natal e a Eucaristia.

Ele pediu que um altar fosse montado sobre a manjedoura. Ali, em cima do cocho de feno, foi celebrada a Santa Missa. Com isso, São Francisco criou uma imagem viva de um dos títulos de Jesus: o Pão da Vida. O mesmo Jesus que nasceu em Beit Lehem (que em hebraico significa “Casa do Pão”) e foi deitado no cocho (lugar de alimentar os animais), é o mesmo Pão Eucarístico que alimenta a alma dos fiéis no Altar.

A manjedoura tornou-se o primeiro altar de Belém, e em Greccio, o altar tornou-se a manjedoura. Francisco uniu o início da vida de Cristo (o Nascimento) ao centro da vida da Igreja (a Eucaristia). Ele mostrou que o bebê no presépio é o mesmo Deus que se dá em comunhão.

Entenda mais a fundo o significado de cada símbolo do presépio

O legado do primeiro presépio de São Francisco de Assis

A tradição franciscana conta que, durante a Missa, o próprio João Velita teve uma visão. No cocho, que antes parecia vazio (pois não havia uma imagem do menino, apenas o feno), ele viu um bebê deitado, como que adormecido, que despertou com a proximidade de Francisco.

Essa visão simbólica captura perfeitamente o legado de Greccio: a fé no mistério de Cristo estava “adormecida” nos corações, e São Francisco, com sua simplicidade e amor, a “despertou”.

A partir daquela noite, o povo de Greccio levou para casa palhas daquele feno, que, segundo relatos, tinham poder de cura. Mais do que isso, levaram uma nova forma de rezar. 

O que São Francisco de Assis inaugurou em Greccio não foi apenas uma decoração. O presépio de São Francisco de Assis foi, e continua sendo, um novo olhar sobre Deus. Ele nos ensinou que, para encontrar o Criador do universo, não precisamos olhar para cima, para a riqueza ou para o poder, mas para baixo: para a simplicidade do feno, para a vulnerabilidade de uma criança e para a humildade de uma manjedoura.

*** 

A noite de Greccio ganha vida em uma animação pensada para os pequenos.

Estreia em dezembro, na Lumine.

Assista ao filme infantil São Francisco e o Primeiro Presépio — mais um Original Lumine para celebrar o Natal em família.

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No inverno gelado de 1223, a pequena aldeia de Greccio, na Itália, viveu uma noite que mudaria para sempre a forma como celebramos o Natal. Ali, em uma gruta simples entre as montanhas, São Francisco de Assis criou o primeiro presépio da história, não como uma mera decoração, mas como um gesto de fé profundamente poético, que aproximou o povo do mistério da Encarnação.

O que Francisco fez não foi uma apresentação teatral nem um objeto devocional. Foi uma catequese viva, uma forma de encenar o Evangelho para que as pessoas pudessem ver, ouvir e sentir aquilo que, muitas vezes, ficava distante: o Deus que se fez pequeno, acessível, pobre.

Este artigo mergulha no contexto, nos detalhes e no legado espiritual do primeiro presépio. 

Por que Greccio se tornou a Nova Belém?

Para entender Greccio, é preciso primeiro entender Belém. Pouco tempo antes, em 1219, São Francisco havia feito uma peregrinação à Terra Santa. Ele visitou os locais sagrados e, o mais importante, esteve na gruta da Natividade em Belém.

Aquela experiência o marcou profundamente. Ele tocou o lugar onde, segundo a tradição, o Verbo se fez carne. São Francisco de Assis  ficou comovido não com a glória, mas com a humildade e a pobreza daquele evento. 

Ao retornar à Itália, ele carregava no coração uma inquietação: como partilhar com o povo simples, que jamais poderia peregrinar à Terra Santa, a emoção que sentiu? Como fazer o Evangelho se tornar palpável, no aqui e no agora?

O seu biógrafo, Tomé de Celano, captura o desejo de Francisco:

“Desejo celebrar a memória daquele Menino que nasceu em Belém, e ver com os olhos do corpo, o mais possível, os desconfortos da sua infância, como Ele foi reclinado no presépio e como, entre o boi e o burro, repousou sobre o feno.”

O foco de Francisco era “ver com os olhos do corpo”. Ele queria uma experiência sensorial da Encarnação.

A Noite de Greccio: como nasceu o primeiro presépio

Quinze dias antes do Natal de 1223, Francisco chamou um homem local de Greccio, um nobre chamado João Velita, conhecido por sua fé e amizade com o santo.

Francisco lhe fez um pedido específico: “Quero que prepares uma gruta, tragas feno, um boi e um jumento, exatamente como foi em Belém.”

João Velita prontamente atendeu ao pedido. Na noite de Natal, frades e camponeses das redondezas vieram em procissão, segurando tochas e velas que iluminavam a noite escura. A cena, descrita por Celano, era de uma alegria transbordante. O bosque ressoava com cânticos, e a rocha da gruta parecia exultar.

Dentro da gruta, tudo estava preparado: o feno no cocho (a manjedoura) e os animais vivos, cuja respiração criava vapor no ar frio.

São Francisco, que era diácono (e não sacerdote), não celebrou a Missa, mas proclamou o Evangelho com uma voz tão comovida que, segundo os relatos, fazia o povo chorar de ternura. Ele pregou sobre o “Rei Pobre” e, ao falar o nome “Jesus”, dizia-se que ele “lambia os lábios”, como se saboreasse a doçura daquele nome.

O significado do presépio de São Francisco: a manjedoura como altar

O gesto mais genial e teologicamente profundo do presépio de São Francisco de Assis naquela noite foi a união de dois mistérios: o Natal e a Eucaristia.

Ele pediu que um altar fosse montado sobre a manjedoura. Ali, em cima do cocho de feno, foi celebrada a Santa Missa. Com isso, São Francisco criou uma imagem viva de um dos títulos de Jesus: o Pão da Vida. O mesmo Jesus que nasceu em Beit Lehem (que em hebraico significa “Casa do Pão”) e foi deitado no cocho (lugar de alimentar os animais), é o mesmo Pão Eucarístico que alimenta a alma dos fiéis no Altar.

A manjedoura tornou-se o primeiro altar de Belém, e em Greccio, o altar tornou-se a manjedoura. Francisco uniu o início da vida de Cristo (o Nascimento) ao centro da vida da Igreja (a Eucaristia). Ele mostrou que o bebê no presépio é o mesmo Deus que se dá em comunhão.

Entenda mais a fundo o significado de cada símbolo do presépio

O legado do primeiro presépio de São Francisco de Assis

A tradição franciscana conta que, durante a Missa, o próprio João Velita teve uma visão. No cocho, que antes parecia vazio (pois não havia uma imagem do menino, apenas o feno), ele viu um bebê deitado, como que adormecido, que despertou com a proximidade de Francisco.

Essa visão simbólica captura perfeitamente o legado de Greccio: a fé no mistério de Cristo estava “adormecida” nos corações, e São Francisco, com sua simplicidade e amor, a “despertou”.

A partir daquela noite, o povo de Greccio levou para casa palhas daquele feno, que, segundo relatos, tinham poder de cura. Mais do que isso, levaram uma nova forma de rezar. 

O que São Francisco de Assis inaugurou em Greccio não foi apenas uma decoração. O presépio de São Francisco de Assis foi, e continua sendo, um novo olhar sobre Deus. Ele nos ensinou que, para encontrar o Criador do universo, não precisamos olhar para cima, para a riqueza ou para o poder, mas para baixo: para a simplicidade do feno, para a vulnerabilidade de uma criança e para a humildade de uma manjedoura.

*** 

A noite de Greccio ganha vida em uma animação pensada para os pequenos.

Estreia em dezembro, na Lumine.

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