Quando o cinema começou a dar errado? 
Por Redação Lumine
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24.jul.2025
Midle Dot

São tempos difíceis para a sétima arte. Não é preciso ser cinéfilo para sentir que algo importante se perdeu. Basta trinta minutos diante da tela para perceber que a experiência de ver um filme tornou-se repetitiva, previsível e, muitas vezes, vazia.  Mesmo com orçamentos bilionários e tecnologias de ponta, o que resta é a impressão de que já vimos tudo aquilo antes.

Vivemos uma era de remakes incessantes, franquias prolongadas até a exaustão e superproduções entregues como produtos de consumo em massa. Mas o problema do cinema atual não é apenas a falta de criatividade. Há algo mais profundo em jogo: uma mudança na maneira como se enxerga a arte, a realidade e o ser humano.

Então, quando o cinema começou a dar errado?

Para responder a essa pergunta, é preciso voltar no tempo e compreender os três períodos fundamentais que marcaram a história do cinema: Narrativo Clássico, Moderno e Pós-Moderno

O Cinema Narrativo Clássico (início do século XX – 1950)

O Cinema Narrativo Clássico, desenvolvido em Hollywood a partir do início do século XX, não tinha apenas o objetivo de contar histórias, mas de fazê-lo dentro de uma fórmula específica — uma maneira de organizar imagens e ideias que fosse clara, envolvente e, sobretudo, eficaz. Seu principal interesse não era a realidade como ela é, mas a narrativa como espetáculo. Para isso, o filme precisava funcionar como um mecanismo bem ajustado, onde nada era mostrado por acaso. Cada cena, cada fala, cada corte era cuidadosamente planejado para dar continuidade à trama.

Essa lógica levou à fragmentação técnica das cenas — com planos gerais, médios e fechados — remontados de forma a parecerem uma sequência natural. O espectador não deveria notar a montagem, mas apenas ser conduzido pela história. O que se via na tela não eram fatos brutos da realidade, mas sua interpretação controlada e polida, com significado já determinado. Como escreveu o teórico Christian Metz, o cinema clássico teve que “ter a narratividade no corpo” para conquistar o público — e, por isso, outros usos do cinema, como a contemplação ou a expressão direta da realidade, foram deixados de lado.

Diretores como D.W. Griffith e Edwin Porter definiram a base dessa linguagem, enquanto nomes como Howard Hawks, Alfred Hitchcock e Cecil B. DeMille consolidaram sua força. DeMille, por exemplo, com seus épicos religiosos repletos de efeitos, exemplificou como Hollywood moldava até os temas mais espirituais à lógica do espetáculo. Entre 1905 e meados do século XX, praticamente toda a produção hollywoodiana foi orientada por esse formalismo narrativo. Seus personagens eram idealizados, suas histórias tinham começo, meio e fim bem definidos, e o espectador era convidado a esquecer o mundo real por algumas horas — para viver uma experiência controlada.

O Cinema Moderno: quando a realidade se torna o palco 

O cinema moderno ganhou forma definitiva na Itália do pós-guerra, quando Roberto Rossellini deu voz a uma forma de filmar, que buscava capturar a realidade nua e crua. Antes dele, vários cineastas já experimentavam aproximações realistas, mas suas obras ainda carregavam influências diversas, que misturavam estilos e intenções distintas. Com Roma, Cidade Aberta, Rossellini não só avançou nesse caminho, mas estabeleceu uma linguagem clara e coerente, fundada numa visão fenomenológica que passou a guiar o cinema moderno: mostrar o mundo tal como ele é, sem artifícios ou manipulações. Essa nova maneira de filmar abriu espaço para que outros diretores explorassem o cotidiano e as pessoas comuns, transformando o cinema numa experiência mais verdadeira e menos idealista. 

A importância desse marco vai além da técnica; ele redefiniu a relação entre cineasta, personagem e espectador. Em vez de contar histórias idealizadas, o cinema moderno passou a valorizar a experiência humana em sua complexidade e imperfeição. Isso exigiu uma mudança no modo de filmar: os planos longos, o uso de cenários vivos, com cenas filmadas na agitação das ruas, e a preferência por atores não profissionais criaram uma sensação de imediatismo e autenticidade que aproximava o público da tela. Com isso, o cinema deixou de ser apenas entretenimento para se tornar uma forma de reflexão sobre a vida cotidiana, abrindo caminho para abordagens éticas e filosóficas, que continuam influentes até hoje.

O Cinema Pós-Moderno: a ruptura 

O Cinema Pós-Moderno surge a partir dos anos 1960 como uma linha estética bastante diferente do cinema moderno original. Enquanto o cinema moderno buscava captar a realidade de forma fiel e profunda, ancorado em uma ética clara e em uma visão espiritual, o pós-moderno prefere desconstruir essa realidade, questionando a ideia de uma verdade única ou definitiva. Essa nova estética, nascida em um período de contestação cultural e filosófica, valoriza o jogo, a ironia e a fragmentação, rompendo com o fio contemplativo que guiava os filmes anteriores. O resultado é uma obra que se volta para si mesma, deixando de ser uma janela para o mundo para se tornar um espelho que reflete suas próprias referências.

Entre o cinema moderno e esse movimento pós-moderno, existe um momento de transição que os críticos chamam de “cinema moderno doente” ou “em crise”. Os filmes dessa época são marcados pelo vazio existencial e pela sensação de incomunicabilidade, embora ainda usem algumas técnicas do cinema moderno, como o plano-sequência. Diretores como Fellini, Antonioni e Bergman vivem esse momento de crise, abandonando gradualmente a clareza ética do passado para explorar temas mais ambíguos, oníricos e até pessimistas, refletindo a inquietação de uma época em transformação.

Essa passagem entre modernidade e pós-modernidade não foi apenas uma mudança de estilo, mas uma mudança profunda na maneira de pensar o cinema e a própria realidade que ele busca representar. A ética, a espiritualidade e o compromisso com a verdade, que estruturavam o cinema moderno, dão lugar a um cinema mais fragmentado, autorreferencial e experimental. Ainda assim, mesmo nesse cenário de ruptura, permanecem cineastas que tentam resgatar a sensibilidade e o olhar atento do cinema moderno, mostrando que a busca por sentido e verdade na arte cinematográfica continua viva, mesmo em tempos de dúvida e incerteza.

Um convite para ver além

Como dito a princípio, esses feitos são ainda maiores na atualidade. O cinema, hoje, sequer se preocupa em se autorreferenciar. O que vemos, em vez disso, é a entrega quase total à lógica do lucro.

Mas engana-se quem pensa que uma simples dose de originalidade bastaria para curar esse cinema adoecido

Se os problemas parecem muitos, as teorias que buscam resolvê-los são ainda maiores e profundas. 

Se você deseja mergulhar no assunto, A Conversão do Olhar é o próximo passo natural dessa jornada. 

Mais do que um livro, trata-se de um projeto ousado: quase dez anos de pesquisas que culminam na primeira obra sobre cinema católico no Brasil. 

A obra é composta por dois volumes, com acabamento editorial primoroso, e acompanhada de um curso completo em vídeo, ministrado pelo autor, Rômulo Cyríaco — cineasta e pesquisador cuja trajetória une arte, pensamento e tradição cristã. 

O livro é um verdadeiro tesouro que revela as verdades por trás da história do cinema, para quem deseja entender os grandes filmes sob a luz do catolicismo. 

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São tempos difíceis para a sétima arte. Não é preciso ser cinéfilo para sentir que algo importante se perdeu. Basta trinta minutos diante da tela para perceber que a experiência de ver um filme tornou-se repetitiva, previsível e, muitas vezes, vazia.  Mesmo com orçamentos bilionários e tecnologias de ponta, o que resta é a impressão de que já vimos tudo aquilo antes.

Vivemos uma era de remakes incessantes, franquias prolongadas até a exaustão e superproduções entregues como produtos de consumo em massa. Mas o problema do cinema atual não é apenas a falta de criatividade. Há algo mais profundo em jogo: uma mudança na maneira como se enxerga a arte, a realidade e o ser humano.

Então, quando o cinema começou a dar errado?

Para responder a essa pergunta, é preciso voltar no tempo e compreender os três períodos fundamentais que marcaram a história do cinema: Narrativo Clássico, Moderno e Pós-Moderno

O Cinema Narrativo Clássico (início do século XX – 1950)

O Cinema Narrativo Clássico, desenvolvido em Hollywood a partir do início do século XX, não tinha apenas o objetivo de contar histórias, mas de fazê-lo dentro de uma fórmula específica — uma maneira de organizar imagens e ideias que fosse clara, envolvente e, sobretudo, eficaz. Seu principal interesse não era a realidade como ela é, mas a narrativa como espetáculo. Para isso, o filme precisava funcionar como um mecanismo bem ajustado, onde nada era mostrado por acaso. Cada cena, cada fala, cada corte era cuidadosamente planejado para dar continuidade à trama.

Essa lógica levou à fragmentação técnica das cenas — com planos gerais, médios e fechados — remontados de forma a parecerem uma sequência natural. O espectador não deveria notar a montagem, mas apenas ser conduzido pela história. O que se via na tela não eram fatos brutos da realidade, mas sua interpretação controlada e polida, com significado já determinado. Como escreveu o teórico Christian Metz, o cinema clássico teve que “ter a narratividade no corpo” para conquistar o público — e, por isso, outros usos do cinema, como a contemplação ou a expressão direta da realidade, foram deixados de lado.

Diretores como D.W. Griffith e Edwin Porter definiram a base dessa linguagem, enquanto nomes como Howard Hawks, Alfred Hitchcock e Cecil B. DeMille consolidaram sua força. DeMille, por exemplo, com seus épicos religiosos repletos de efeitos, exemplificou como Hollywood moldava até os temas mais espirituais à lógica do espetáculo. Entre 1905 e meados do século XX, praticamente toda a produção hollywoodiana foi orientada por esse formalismo narrativo. Seus personagens eram idealizados, suas histórias tinham começo, meio e fim bem definidos, e o espectador era convidado a esquecer o mundo real por algumas horas — para viver uma experiência controlada.

O Cinema Moderno: quando a realidade se torna o palco 

O cinema moderno ganhou forma definitiva na Itália do pós-guerra, quando Roberto Rossellini deu voz a uma forma de filmar, que buscava capturar a realidade nua e crua. Antes dele, vários cineastas já experimentavam aproximações realistas, mas suas obras ainda carregavam influências diversas, que misturavam estilos e intenções distintas. Com Roma, Cidade Aberta, Rossellini não só avançou nesse caminho, mas estabeleceu uma linguagem clara e coerente, fundada numa visão fenomenológica que passou a guiar o cinema moderno: mostrar o mundo tal como ele é, sem artifícios ou manipulações. Essa nova maneira de filmar abriu espaço para que outros diretores explorassem o cotidiano e as pessoas comuns, transformando o cinema numa experiência mais verdadeira e menos idealista. 

A importância desse marco vai além da técnica; ele redefiniu a relação entre cineasta, personagem e espectador. Em vez de contar histórias idealizadas, o cinema moderno passou a valorizar a experiência humana em sua complexidade e imperfeição. Isso exigiu uma mudança no modo de filmar: os planos longos, o uso de cenários vivos, com cenas filmadas na agitação das ruas, e a preferência por atores não profissionais criaram uma sensação de imediatismo e autenticidade que aproximava o público da tela. Com isso, o cinema deixou de ser apenas entretenimento para se tornar uma forma de reflexão sobre a vida cotidiana, abrindo caminho para abordagens éticas e filosóficas, que continuam influentes até hoje.

O Cinema Pós-Moderno: a ruptura 

O Cinema Pós-Moderno surge a partir dos anos 1960 como uma linha estética bastante diferente do cinema moderno original. Enquanto o cinema moderno buscava captar a realidade de forma fiel e profunda, ancorado em uma ética clara e em uma visão espiritual, o pós-moderno prefere desconstruir essa realidade, questionando a ideia de uma verdade única ou definitiva. Essa nova estética, nascida em um período de contestação cultural e filosófica, valoriza o jogo, a ironia e a fragmentação, rompendo com o fio contemplativo que guiava os filmes anteriores. O resultado é uma obra que se volta para si mesma, deixando de ser uma janela para o mundo para se tornar um espelho que reflete suas próprias referências.

Entre o cinema moderno e esse movimento pós-moderno, existe um momento de transição que os críticos chamam de “cinema moderno doente” ou “em crise”. Os filmes dessa época são marcados pelo vazio existencial e pela sensação de incomunicabilidade, embora ainda usem algumas técnicas do cinema moderno, como o plano-sequência. Diretores como Fellini, Antonioni e Bergman vivem esse momento de crise, abandonando gradualmente a clareza ética do passado para explorar temas mais ambíguos, oníricos e até pessimistas, refletindo a inquietação de uma época em transformação.

Essa passagem entre modernidade e pós-modernidade não foi apenas uma mudança de estilo, mas uma mudança profunda na maneira de pensar o cinema e a própria realidade que ele busca representar. A ética, a espiritualidade e o compromisso com a verdade, que estruturavam o cinema moderno, dão lugar a um cinema mais fragmentado, autorreferencial e experimental. Ainda assim, mesmo nesse cenário de ruptura, permanecem cineastas que tentam resgatar a sensibilidade e o olhar atento do cinema moderno, mostrando que a busca por sentido e verdade na arte cinematográfica continua viva, mesmo em tempos de dúvida e incerteza.

Um convite para ver além

Como dito a princípio, esses feitos são ainda maiores na atualidade. O cinema, hoje, sequer se preocupa em se autorreferenciar. O que vemos, em vez disso, é a entrega quase total à lógica do lucro.

Mas engana-se quem pensa que uma simples dose de originalidade bastaria para curar esse cinema adoecido

Se os problemas parecem muitos, as teorias que buscam resolvê-los são ainda maiores e profundas. 

Se você deseja mergulhar no assunto, A Conversão do Olhar é o próximo passo natural dessa jornada. 

Mais do que um livro, trata-se de um projeto ousado: quase dez anos de pesquisas que culminam na primeira obra sobre cinema católico no Brasil. 

A obra é composta por dois volumes, com acabamento editorial primoroso, e acompanhada de um curso completo em vídeo, ministrado pelo autor, Rômulo Cyríaco — cineasta e pesquisador cuja trajetória une arte, pensamento e tradição cristã. 

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