Santa Dulce e a fundação do Cine Roma: o santuário que já foi o camarim das maiores estrelas do nordeste
Por Redação Lumine
|
14.ago.2025
Midle Dot

Santa Dulce dos Pobres, conhecida em vida como “o anjo bom da Bahia”, é uma daquelas figuras raras que marcam não apenas a vida de uma cidade, mas de um país inteiro. Sendo a primeira santa nascida no Brasil, sua história se desenrola no coração de Salvador, em pleno século XX. 

Ao caminhar pelas ruas estreitas da capital baiana, vestida com seu hábito simples e o sorriso discreto, Irmã Dulce carregava um coração capaz de acolher a todos, sem distinção. Mas o reflexo da sua missão vai além do acolhimento. Ela sabia que amar não bastava: era preciso sustentar esse amor, dar-lhe meios para continuar. E foi assim que um de seus sonhos mais curiosos e ousados ganhou vida: juntando seu amor pelos pobres ao apreço pela sétima arte, ela usou o cinema para fazer dinheiro. 

Mas, antes de entender como o santuário de uma santa já foi o palco dos maiores artistas do nordeste, conheça o passado do coração mais generoso do nosso país: 

Quem foi Santa Dulce dos Pobres? 

Nascida Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, em 26 de maio de 1914, na cidade de Salvador, Santa Dulce cresceu em um lar simples, mas enraizado na fé católica e no serviço ao próximo. Órfã de mãe aos sete anos, encontrou na devoção e no exemplo paterno a inspiração para se dedicar aos mais pobres. Ainda adolescente, percorria as regiões mais carentes da capital baiana levando remédios, alimentos e palavras de esperança. Aos 19 anos, ingressou na Congregação das Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, assumindo o nome de Irmã Dulce e iniciando uma trajetória marcada por coragem, renúncia e uma determinação incansável para sustentar sua missão.

Aos longos dos anos, seu trabalho ultrapassou a mera caridade monástica e se tornou relevante a nível social: ela criou um verdadeiro sistema de assistência a quem estivesse em situação de abandono, que unia atendimento médico, abrigos para idosos, escolas e centros de recuperação. Sua lógica era simples e firme — ninguém poderia ser rejeitado, independentemente da miséria ou fragilidade em que chegasse.

Santa Dulce faleceu em 13 de março de 1992, deixando um legado que a Bahia e o Brasil jamais esqueceriam. Sua fama de santidade se espalhou rapidamente, atraindo devotos e peregrinos. Em 2011, foi beatificada após a comprovação de um milagre atribuído à sua intercessão: a recuperação inexplicável de uma mulher que, após uma hemorragia pós-parto e uma grave complicação respiratória, foi curada de forma súbita e total. Em 2019, o Papa Francisco reconheceu um segundo milagre — a cura instantânea e cientificamente inexplicável de um homem com cegueira e problemas graves de visão — e a proclamou oficialmente Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil. 

Como o Cine Roma entra nesta história? 

A ideia de construir um cinema nasceu nos anos 1950, quando Irmã Dulce já cuidava de centenas de doentes, idosos e crianças diariamente, mas via seus recursos financeiros cada vez mais escassos. Ao lado de benfeitores e amigos próximos — entre eles comerciantes do bairro Roma, médicos voluntários e famílias influentes de Salvador que apoiavam sua causa —, ela concebeu um projeto que unia fé e arte: levantar um cinema cuja bilheteria manteria vivas suas obras de caridade. 

Inaugurado em 1958, a qualidade do espaço impressionava. Com capacidade para 1850 espectadores, poltronas confortáveis e uma acústica considerada avançada para a época, o Cine Roma logo se tornou referência entre os soteropolitanos. Não era apenas um ponto de exibição de filmes: era um ponto de encontro, capaz de reunir, na mesma sala, moradores humildes e membros da elite baiana. Sua programação variava de grandes sucessos de Hollywood a clássicos do cinema europeu, passando por produções nacionais que despertavam orgulho. 

Uma obra de caridade que se tornou o templo do rock baiano 

O prestígio do local fez com que figuras importantes passassem por suas portas. Músicos como Raul Seixas, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, atores de teatro e cinema, como Grande Otelo e Procópio Ferreira, além de grupos culturais da Bahia, se apresentaram ou prestigiaram eventos ali. Era comum que as estreias e pré-estreias se transformassem em verdadeiras celebrações, com direito a apresentações musicais e discursos de apoio à obra de Irmã Dulce.

Para a população mais pobre, o Cine Roma tinha um significado ainda mais profundo: era muitas vezes o primeiro contato com a sétima arte, um momento raro de acesso à cultura e à beleza. Havia quem entrasse sem pagar, autorizado pela própria Irmã Dulce, que acreditava que ninguém deveria ser privado da experiência por falta de dinheiro. Assim, cada sessão carregava duplo valor: o encantamento do filme e a certeza de que aquela noite de diversão ajudaria a manter um hospital funcionando ou um prato de comida chegando a quem passava fome.

Com o passar dos anos, o Cine Roma acabou encerrando sua atividade comercial. Mas o prédio não caiu no abandono. O antigo cinema hoje é parte do complexo do Santuário de Santa Dulce dos Pobres, acolhendo peregrinos, devotos e curiosos que desejam conhecer mais de perto a história dessa mulher que transformou a caridade em obra duradoura

Se você quer se emocionar ainda mais com essa trajetória, assista ao filme Mãos Carinhosas – Os Dias de Irmã Dulce, disponível na Lumine. Uma obra que vai além da biografia, revelando a força, a ternura e a fé que fizeram da “santa dos pobres” um exemplo para o Brasil inteiro.

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Santa Dulce dos Pobres, conhecida em vida como “o anjo bom da Bahia”, é uma daquelas figuras raras que marcam não apenas a vida de uma cidade, mas de um país inteiro. Sendo a primeira santa nascida no Brasil, sua história se desenrola no coração de Salvador, em pleno século XX. 

Ao caminhar pelas ruas estreitas da capital baiana, vestida com seu hábito simples e o sorriso discreto, Irmã Dulce carregava um coração capaz de acolher a todos, sem distinção. Mas o reflexo da sua missão vai além do acolhimento. Ela sabia que amar não bastava: era preciso sustentar esse amor, dar-lhe meios para continuar. E foi assim que um de seus sonhos mais curiosos e ousados ganhou vida: juntando seu amor pelos pobres ao apreço pela sétima arte, ela usou o cinema para fazer dinheiro. 

Mas, antes de entender como o santuário de uma santa já foi o palco dos maiores artistas do nordeste, conheça o passado do coração mais generoso do nosso país: 

Quem foi Santa Dulce dos Pobres? 

Nascida Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, em 26 de maio de 1914, na cidade de Salvador, Santa Dulce cresceu em um lar simples, mas enraizado na fé católica e no serviço ao próximo. Órfã de mãe aos sete anos, encontrou na devoção e no exemplo paterno a inspiração para se dedicar aos mais pobres. Ainda adolescente, percorria as regiões mais carentes da capital baiana levando remédios, alimentos e palavras de esperança. Aos 19 anos, ingressou na Congregação das Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, assumindo o nome de Irmã Dulce e iniciando uma trajetória marcada por coragem, renúncia e uma determinação incansável para sustentar sua missão.

Aos longos dos anos, seu trabalho ultrapassou a mera caridade monástica e se tornou relevante a nível social: ela criou um verdadeiro sistema de assistência a quem estivesse em situação de abandono, que unia atendimento médico, abrigos para idosos, escolas e centros de recuperação. Sua lógica era simples e firme — ninguém poderia ser rejeitado, independentemente da miséria ou fragilidade em que chegasse.

Santa Dulce faleceu em 13 de março de 1992, deixando um legado que a Bahia e o Brasil jamais esqueceriam. Sua fama de santidade se espalhou rapidamente, atraindo devotos e peregrinos. Em 2011, foi beatificada após a comprovação de um milagre atribuído à sua intercessão: a recuperação inexplicável de uma mulher que, após uma hemorragia pós-parto e uma grave complicação respiratória, foi curada de forma súbita e total. Em 2019, o Papa Francisco reconheceu um segundo milagre — a cura instantânea e cientificamente inexplicável de um homem com cegueira e problemas graves de visão — e a proclamou oficialmente Santa Dulce dos Pobres, a primeira santa nascida no Brasil. 

Como o Cine Roma entra nesta história? 

A ideia de construir um cinema nasceu nos anos 1950, quando Irmã Dulce já cuidava de centenas de doentes, idosos e crianças diariamente, mas via seus recursos financeiros cada vez mais escassos. Ao lado de benfeitores e amigos próximos — entre eles comerciantes do bairro Roma, médicos voluntários e famílias influentes de Salvador que apoiavam sua causa —, ela concebeu um projeto que unia fé e arte: levantar um cinema cuja bilheteria manteria vivas suas obras de caridade. 

Inaugurado em 1958, a qualidade do espaço impressionava. Com capacidade para 1850 espectadores, poltronas confortáveis e uma acústica considerada avançada para a época, o Cine Roma logo se tornou referência entre os soteropolitanos. Não era apenas um ponto de exibição de filmes: era um ponto de encontro, capaz de reunir, na mesma sala, moradores humildes e membros da elite baiana. Sua programação variava de grandes sucessos de Hollywood a clássicos do cinema europeu, passando por produções nacionais que despertavam orgulho. 

Uma obra de caridade que se tornou o templo do rock baiano 

O prestígio do local fez com que figuras importantes passassem por suas portas. Músicos como Raul Seixas, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, atores de teatro e cinema, como Grande Otelo e Procópio Ferreira, além de grupos culturais da Bahia, se apresentaram ou prestigiaram eventos ali. Era comum que as estreias e pré-estreias se transformassem em verdadeiras celebrações, com direito a apresentações musicais e discursos de apoio à obra de Irmã Dulce.

Para a população mais pobre, o Cine Roma tinha um significado ainda mais profundo: era muitas vezes o primeiro contato com a sétima arte, um momento raro de acesso à cultura e à beleza. Havia quem entrasse sem pagar, autorizado pela própria Irmã Dulce, que acreditava que ninguém deveria ser privado da experiência por falta de dinheiro. Assim, cada sessão carregava duplo valor: o encantamento do filme e a certeza de que aquela noite de diversão ajudaria a manter um hospital funcionando ou um prato de comida chegando a quem passava fome.

Com o passar dos anos, o Cine Roma acabou encerrando sua atividade comercial. Mas o prédio não caiu no abandono. O antigo cinema hoje é parte do complexo do Santuário de Santa Dulce dos Pobres, acolhendo peregrinos, devotos e curiosos que desejam conhecer mais de perto a história dessa mulher que transformou a caridade em obra duradoura

Se você quer se emocionar ainda mais com essa trajetória, assista ao filme Mãos Carinhosas – Os Dias de Irmã Dulce, disponível na Lumine. Uma obra que vai além da biografia, revelando a força, a ternura e a fé que fizeram da “santa dos pobres” um exemplo para o Brasil inteiro.

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