Tudo o que você precisa saber sobre o Oscar
Por Redação Lumine
|
27.fev.2025
Midle Dot

O Oscar é um dos prêmios mais cobiçados pelos membros da indústria cinematográfica mundial.

Concedido anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos em um evento repleto de glamour, o prêmio mobiliza a atenção do mundo inteiro.

Para além da maior ou menor relevância dos filmes premiados — e das diversas controvérsias que envolvem a premiação —, o Oscar acabou por se tornar um verdadeiro símbolo cultural.

Mas por que esse prêmio chama a atenção de tantas pessoas? Como são escolhidos os filmes indicados e premiados? Quem os escolhe e quais são os critérios empregados nas premiações? Abordaremos estas e outras questões neste artigo.

O “prêmio da Academia”

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é uma instituição honorária, que veio a ficar reconhecida justamente por causa da premiação do Oscar. Ela foi fundada em 1927 por alguns membros importantes da indústria do cinema. Em sua fundação, a instituição dizia ter os seguintes objetivos: “divulgar e aperfeiçoar a arte cinematográfica”, “reconhecer as realizações excepcionais do cinema”, “propiciar melhores condições técnicas para essas realizações” e “proporcionar um ambiente de debate para os profissionais das mais diferentes áreas envolvidas na criação de um filme”.

A Academia surgiu em um ambiente de grande tensão social. Nos anos 1920, Hollywood começava a se estabelecer como a maior indústria cinematográfica do mundo, mas todo esse sucesso tinha um custo humano que ainda não havia sido calculado: os trabalhadores não tinham um sistema de trabalho bem organizado nem direitos bem estabelecidos, o que culminou numa série de protestos sindicais contra os grandes estúdios.

Louis B. Mayer em seu escritório da MGM

Nesse cenário, Louis B. Mayer — então chefe da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) — desempenhou um papel fundamental na criação da Academia. Mayer pretendia defender os interesses dos estúdios e, com o intuito de fazer com que os trabalhadores não aderissem aos protestos sindicais, propôs a fundação da Instituição, pois ele alegava que, por meio dela, os trabalhadores do cinema poderiam atingir as melhorias que estavam buscando.

Com o passar do tempo, a Academia passou a desenvolver uma série de outras atividades relacionadas ao cinema — como importantes iniciativas educativas e de preservação de filmes, por exemplo —, mas a sua maior notoriedade se deve ao Oscar.

Como surgiu o Oscar

De acordo com o seu objetivo de “reconhecer as realizações excepcionais” do cinema, desde a sua fundação a Academia passou a conceder um prêmio anual contemplando algumas categorias profissionais relacionadas à produção dos filmes, como, por exemplo, “melhor filme”, “melhor diretor”, “melhor fotografia”, “melhor ator”, “melhor atriz”, etc.

Não há uma fonte segura a respeito da marca registrada “Oscar”, que passou a ser adotada oficialmente pela Academia nos anos 30 para se referir ao prêmio. Há várias teorias a respeito do nome, mas nenhuma delas é aceita de modo definitivo. Independentemente de sua origem, o nome acabou se estabelecendo e foi sob este título que o prêmio se popularizou.

A primeira cerimônia de premiação ocorreu no dia 16 de maio de 1929, e contou com cerca de 250 convidados. Foram anunciados vencedores em 12 categorias. O filme Asas, de William A. Wellman, foi o contemplado como o primeiro vencedor da história na categoria de Melhor Filme. Janet Gaynor e Emil Jannings foram consagrados como o Melhor Atriz e Melhor Ator, respectivamente. A cerimônia foi muito diferente do evento grandioso que ocorre hoje. Todos os prêmios foram anunciados em menos de 20 minutos, sem muito suspense e, no resto da noite, os convidados jantaram, dançaram e confraternizaram.

Registro da primeira cerimônia do Oscar

Contudo, alguns anos depois o Oscar já havia se transformado em um dos eventos mais importantes da indústria do cinema. Em 1931, a cerimônia foi transmitida pelo rádio e, em 1953, aconteceu a primeira transmissão televisiva do evento. Com o passar do tempo, o prêmio foi crescendo em visibilidade e interesse, atraindo a atenção dos veículos de mídia e mobilizando profissionais do mundo inteiro.

Atualmente, a cerimônia tem a duração média de quatro horas e, além da revelação dos premiados, conta com várias atrações individuais, como breves números de comédia e apresentações musicais.

Como funciona a premiação

A Academia é organizada a partir de 14 áreas diferentes, que representam diferentes ocupações dentro da indústria cinematográfica (atores, diretores, produtores, roteiristas, técnicos de som, de efeitos visuais, etc.). Só é possível se tornar membro da Academia por meio de indicação, a qual deve ser feita por pelo menos dois outros membros da mesma área (diretores indicam diretores, roteiristas indicam roteiristas, e assim por diante). As indicações também são anuais e são analisadas pelo conselho de diretores da Academia. O Conselho é formado por três representantes de cada área específica e tem outras atribuições além dessas, como a definição das políticas da Instituição e a supervisão de suas atividades.

As indicações para o Oscar seguem um processo rigoroso. Os votos são virtuais e secretos, e são auditados pela empresa PWC. Como ocorre na indicação dos membros, cada um vota dentro de sua própria categoria: diretores indicam diretores, roteiristas indicam roteiristas, etc. Mas há algumas exceções: todos os membros da Academia votam na categoria de Melhor Filme e há regras específicas para os prêmios de Melhor Filme Internacional e de Documentário.

Clint Eastwood recebe os prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor pelo filme Os imperdoáveis, em 1993

Por exemplo: para ser indicado na categoria de Melhor Filme Internacional, além de atender a alguns critérios específicos dos filmes produzidos nos EUA (exibição por pelo menos uma semana em cinemas de Los Angeles, ter sido lançado em uma data limite), um filme também precisa ser indicado por uma comissão formada por profissionais de cinema de cada país. A cada ano, a Academia só aceita uma indicação por país. A comissão analisa os filmes nacionais produzidos durante o ano e escolhe um para possivelmente ficar entre os cinco finalistas na categoria de Melhor Filme Internacional.

Além da indicação deste ano para Ainda Estou Aqui, quatro filmes brasileiros já concorreram ao prêmio: O Pagador de Promessas, em 1963, O Quatrilho, em 1996, O que é isso, companheiro?, em 1998 e Central do Brasil, em 1999.

Embora seja raro, pode acontecer de um filme que não é falado em inglês ser indicado na categoria principal de Melhor Filme (com indicados escolhidos diretamente pelos membros da Academia) e também na categoria de Melhor Filme Internacional (que passa pelas comissões nacionais), como foi o caso de Parasita, de Jong Bon-Hoo e, no Oscar 2025, o caso do filme brasileiro Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

A equipe do filme Central do Brasil na cerimônia do Oscar em 1999

Pode também acontecer de a Academia indicar um filme falado em outro idioma para a categoria de Melhor Filme e a comissão nacional indicar outro filme para o prêmio de Melhor Filme Internacional, como ocorreu em 2024: a Academia americana indicou o filme francês Anatomia de uma queda, de Justine Triet, para o prêmio de Melhor Filme e, para concorrer na categoria de Filme Internacional, a comissão francesa indicou o filme O sabor da vida, de Anh Hung Tran, que acabou não ficando entre os cinco finalistas.

Atualmente, o Oscar conta com 23 categorias principais. Além destas, a Academia também concede prêmios honorários como o prêmio Jean Hersholt, destinado a figuras da indústria que realizaram algum trabalho filantrópico; o prêmio Irving G. Thalberg, destinado a produtores que obtiveram um consistente padrão de qualidade durante um período considerável de tempo; e outros prêmios especiais por inovações técnicas e pelo conjunto da obra.

Controvérsias e Críticas

Apesar de toda a sua visibilidade — e do poder de aumentar consideravelmente a publicidade de um filme indicado ou vencedor do prêmio —, o Oscar não está imune a críticas.

Há profissionais que desprezam a premiação por princípios individuais: curiosamente, alguns artistas “recordistas” do Oscar, como Woody Allen — premiado três vezes na categoria de Melhor Roteiro Original e uma vez na categoria de Melhor Diretor — e Katherine Hepburn — até hoje a atriz mais premiada na categoria de Melhor Atriz, com quatro estatuetas — nunca compareceram à cerimônia quando foram premiados. Quando foi indicada pela primeira vez, Hepburn declarou: “Os prêmios são insignificantes. O verdadeiro prêmio é o meu trabalho”.

Para além desse “desprezo” devido a princípios individuais, há críticas à política da Academia e à ideologia que estaria implícita nas escolhas da Instituição, que não seriam significativamente representativas de algumas minorias — tais críticas desencadearam protestos de grupos específicos.

O primeiro protesto significativo ocorreu em 1973, quando o ator Marlon Brando, premiado por sua atuação no filme O poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, não compareceu à cerimônia e enviou a atriz indígena Sacheen Littlefeather para fazer um discurso contra o modo como era feita a representação dos nativos americanos em Hollywood. Esse tipo de crítica se estendeu para outros grupos alegadamente minoritários: até 2005, por exemplo, apenas duas mulheres haviam sido indicadas ao prêmio de Melhor Diretor, e nenhuma tinha vencido.

Sacheen Littlefeather recusa o Oscar oferecido a Marlon Brando em 1973

Tais protestos levaram a Academia a adotar, em 2024, algumas diretrizes de Inclusão e de Representação, principalmente para a categoria de Melhor Filme. Por exemplo: para concorrer nesta categoria, um filme precisa atender a dois dos quatro critérios a seguir: 1) o protagonista deve pertencer a alguma minoria (mulheres, grupos étnicos e raciais específicos, integrantes do grupo LGBT+, pessoas com deficiência, etc.); caso este primeiro subcritério não seja atendido, pelo menos 30% do elenco deve pertencer a alguma dessas minorias; ou ainda: o tema principal do filme deve tocar em algum assunto referente a tais minorias. 2) Dois profissionais importantes (diretor, produtor, diretor executivo, roteirista, etc.) da produção do filme devem fazer parte de alguma minoria; ou seis profissionais de funções menores (operador de som, assistente de direção, etc.); e pelo menos 30% de toda a equipe do filme deve fazer parte de alguma minoria. 3) A produção do filme ofereceu algum tipo de estágio ou treinamento para integrantes dos grupos minoritários. 4) O estúdio que está produzindo ou distribuindo o filme tem pelo menos dois integrantes de minorias em cargos executivos.

Esse tipo de política suscitou críticas quanto às preocupações artísticas da Academia, pois, embora seja relativamente fácil atender aos critérios estabelecidos — e, considerando a oferta de oportunidades dentro da indústria, algumas dessas políticas sejam mesmo desejáveis —, tais critérios poderiam ser limitantes e não refletiriam exatamente o estado atual da indústria cinematográfica de cada ano. Por exemplo: se considerarmos um índice como o do site Rotten Tomatoes, é possível encontrar inúmeras produções de 2024 com notas muito maiores — tanto do público quanto da crítica — do que as notas atribuídas a algumas das produções indicadas aos prêmios da Academia.

O diretor e os produtores do filme O senhor dos anéis: o retorno do rei posam com as suas estatuetas

Se apenas a nota do público for considerada, o contraste é ainda maior: o filme Emilia Pérez, por exemplo — que está concorrendo com o brasileiro Ainda estou aqui na categoria de Melhor Filme Internacional e também na categoria de Melhor Filme —, é o segundo filme da história com mais indicações ao Oscar, ao lado de O Senhor dos Aneis: o retorno do Rei. Contudo, o filme obteve uma nota geral de 16/100. Já um filme como O Jurado nº 2, de Clint Eastwood, está com a nota geral de 91/100 — e 94/100 por parte da crítica. Embora Eastwood seja uma figura historicamente bem-vista pela Academia, o seu último filme foi completamente ignorado pela premiação deste ano. Este é apenas um exemplo de inúmeros outros que poderiam ser citados.

Outras críticas à premiação dizem respeito às chamadas “campanhas do Oscar”. Para que um filme possa ser considerado pela Academia, ele precisa chamar a atenção dos membros da instituição. Para isso, o produtor ou o distribuidor precisa investir pesadamente em publicidade, o que excluiria produções independentes que não conseguem parcerias com grandes distribuidores e, consequentemente, seria um reflexo de uma preocupação mais mercadológica do que necessariamente artística.

Conclusão

De toda forma, o Oscar continua a ser um evento que atrai a atenção do mundo inteiro. A mera indicação ao prêmio pode fazer com que o impacto cultural de um filme seja consideravelmente aumentado.

Embora as críticas ao Oscar sejam pertinentes, a atenção que ele suscita anualmente demonstra a sua relevância dentro da cultura popular e mostra porque a premiação continua a ser a mais cobiçada dentro da indústria cinematográfica mundial.


Quer se aprofundar um pouco mais neste assunto? No segundo episódio da nossa série Crítica Cultural, Francisco Escorsim fala da relevância do Oscar e comenta vários filmes indicados e premiados. Assine a Lumine e assista a todos os episódios da série e a centenas de outros filmes e séries inspiradores.

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O Oscar é um dos prêmios mais cobiçados pelos membros da indústria cinematográfica mundial.

Concedido anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos em um evento repleto de glamour, o prêmio mobiliza a atenção do mundo inteiro.

Para além da maior ou menor relevância dos filmes premiados — e das diversas controvérsias que envolvem a premiação —, o Oscar acabou por se tornar um verdadeiro símbolo cultural.

Mas por que esse prêmio chama a atenção de tantas pessoas? Como são escolhidos os filmes indicados e premiados? Quem os escolhe e quais são os critérios empregados nas premiações? Abordaremos estas e outras questões neste artigo.

O “prêmio da Academia”

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é uma instituição honorária, que veio a ficar reconhecida justamente por causa da premiação do Oscar. Ela foi fundada em 1927 por alguns membros importantes da indústria do cinema. Em sua fundação, a instituição dizia ter os seguintes objetivos: “divulgar e aperfeiçoar a arte cinematográfica”, “reconhecer as realizações excepcionais do cinema”, “propiciar melhores condições técnicas para essas realizações” e “proporcionar um ambiente de debate para os profissionais das mais diferentes áreas envolvidas na criação de um filme”.

A Academia surgiu em um ambiente de grande tensão social. Nos anos 1920, Hollywood começava a se estabelecer como a maior indústria cinematográfica do mundo, mas todo esse sucesso tinha um custo humano que ainda não havia sido calculado: os trabalhadores não tinham um sistema de trabalho bem organizado nem direitos bem estabelecidos, o que culminou numa série de protestos sindicais contra os grandes estúdios.

Louis B. Mayer em seu escritório da MGM

Nesse cenário, Louis B. Mayer — então chefe da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) — desempenhou um papel fundamental na criação da Academia. Mayer pretendia defender os interesses dos estúdios e, com o intuito de fazer com que os trabalhadores não aderissem aos protestos sindicais, propôs a fundação da Instituição, pois ele alegava que, por meio dela, os trabalhadores do cinema poderiam atingir as melhorias que estavam buscando.

Com o passar do tempo, a Academia passou a desenvolver uma série de outras atividades relacionadas ao cinema — como importantes iniciativas educativas e de preservação de filmes, por exemplo —, mas a sua maior notoriedade se deve ao Oscar.

Como surgiu o Oscar

De acordo com o seu objetivo de “reconhecer as realizações excepcionais” do cinema, desde a sua fundação a Academia passou a conceder um prêmio anual contemplando algumas categorias profissionais relacionadas à produção dos filmes, como, por exemplo, “melhor filme”, “melhor diretor”, “melhor fotografia”, “melhor ator”, “melhor atriz”, etc.

Não há uma fonte segura a respeito da marca registrada “Oscar”, que passou a ser adotada oficialmente pela Academia nos anos 30 para se referir ao prêmio. Há várias teorias a respeito do nome, mas nenhuma delas é aceita de modo definitivo. Independentemente de sua origem, o nome acabou se estabelecendo e foi sob este título que o prêmio se popularizou.

A primeira cerimônia de premiação ocorreu no dia 16 de maio de 1929, e contou com cerca de 250 convidados. Foram anunciados vencedores em 12 categorias. O filme Asas, de William A. Wellman, foi o contemplado como o primeiro vencedor da história na categoria de Melhor Filme. Janet Gaynor e Emil Jannings foram consagrados como o Melhor Atriz e Melhor Ator, respectivamente. A cerimônia foi muito diferente do evento grandioso que ocorre hoje. Todos os prêmios foram anunciados em menos de 20 minutos, sem muito suspense e, no resto da noite, os convidados jantaram, dançaram e confraternizaram.

Registro da primeira cerimônia do Oscar

Contudo, alguns anos depois o Oscar já havia se transformado em um dos eventos mais importantes da indústria do cinema. Em 1931, a cerimônia foi transmitida pelo rádio e, em 1953, aconteceu a primeira transmissão televisiva do evento. Com o passar do tempo, o prêmio foi crescendo em visibilidade e interesse, atraindo a atenção dos veículos de mídia e mobilizando profissionais do mundo inteiro.

Atualmente, a cerimônia tem a duração média de quatro horas e, além da revelação dos premiados, conta com várias atrações individuais, como breves números de comédia e apresentações musicais.

Como funciona a premiação

A Academia é organizada a partir de 14 áreas diferentes, que representam diferentes ocupações dentro da indústria cinematográfica (atores, diretores, produtores, roteiristas, técnicos de som, de efeitos visuais, etc.). Só é possível se tornar membro da Academia por meio de indicação, a qual deve ser feita por pelo menos dois outros membros da mesma área (diretores indicam diretores, roteiristas indicam roteiristas, e assim por diante). As indicações também são anuais e são analisadas pelo conselho de diretores da Academia. O Conselho é formado por três representantes de cada área específica e tem outras atribuições além dessas, como a definição das políticas da Instituição e a supervisão de suas atividades.

As indicações para o Oscar seguem um processo rigoroso. Os votos são virtuais e secretos, e são auditados pela empresa PWC. Como ocorre na indicação dos membros, cada um vota dentro de sua própria categoria: diretores indicam diretores, roteiristas indicam roteiristas, etc. Mas há algumas exceções: todos os membros da Academia votam na categoria de Melhor Filme e há regras específicas para os prêmios de Melhor Filme Internacional e de Documentário.

Clint Eastwood recebe os prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor pelo filme Os imperdoáveis, em 1993

Por exemplo: para ser indicado na categoria de Melhor Filme Internacional, além de atender a alguns critérios específicos dos filmes produzidos nos EUA (exibição por pelo menos uma semana em cinemas de Los Angeles, ter sido lançado em uma data limite), um filme também precisa ser indicado por uma comissão formada por profissionais de cinema de cada país. A cada ano, a Academia só aceita uma indicação por país. A comissão analisa os filmes nacionais produzidos durante o ano e escolhe um para possivelmente ficar entre os cinco finalistas na categoria de Melhor Filme Internacional.

Além da indicação deste ano para Ainda Estou Aqui, quatro filmes brasileiros já concorreram ao prêmio: O Pagador de Promessas, em 1963, O Quatrilho, em 1996, O que é isso, companheiro?, em 1998 e Central do Brasil, em 1999.

Embora seja raro, pode acontecer de um filme que não é falado em inglês ser indicado na categoria principal de Melhor Filme (com indicados escolhidos diretamente pelos membros da Academia) e também na categoria de Melhor Filme Internacional (que passa pelas comissões nacionais), como foi o caso de Parasita, de Jong Bon-Hoo e, no Oscar 2025, o caso do filme brasileiro Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

A equipe do filme Central do Brasil na cerimônia do Oscar em 1999

Pode também acontecer de a Academia indicar um filme falado em outro idioma para a categoria de Melhor Filme e a comissão nacional indicar outro filme para o prêmio de Melhor Filme Internacional, como ocorreu em 2024: a Academia americana indicou o filme francês Anatomia de uma queda, de Justine Triet, para o prêmio de Melhor Filme e, para concorrer na categoria de Filme Internacional, a comissão francesa indicou o filme O sabor da vida, de Anh Hung Tran, que acabou não ficando entre os cinco finalistas.

Atualmente, o Oscar conta com 23 categorias principais. Além destas, a Academia também concede prêmios honorários como o prêmio Jean Hersholt, destinado a figuras da indústria que realizaram algum trabalho filantrópico; o prêmio Irving G. Thalberg, destinado a produtores que obtiveram um consistente padrão de qualidade durante um período considerável de tempo; e outros prêmios especiais por inovações técnicas e pelo conjunto da obra.

Controvérsias e Críticas

Apesar de toda a sua visibilidade — e do poder de aumentar consideravelmente a publicidade de um filme indicado ou vencedor do prêmio —, o Oscar não está imune a críticas.

Há profissionais que desprezam a premiação por princípios individuais: curiosamente, alguns artistas “recordistas” do Oscar, como Woody Allen — premiado três vezes na categoria de Melhor Roteiro Original e uma vez na categoria de Melhor Diretor — e Katherine Hepburn — até hoje a atriz mais premiada na categoria de Melhor Atriz, com quatro estatuetas — nunca compareceram à cerimônia quando foram premiados. Quando foi indicada pela primeira vez, Hepburn declarou: “Os prêmios são insignificantes. O verdadeiro prêmio é o meu trabalho”.

Para além desse “desprezo” devido a princípios individuais, há críticas à política da Academia e à ideologia que estaria implícita nas escolhas da Instituição, que não seriam significativamente representativas de algumas minorias — tais críticas desencadearam protestos de grupos específicos.

O primeiro protesto significativo ocorreu em 1973, quando o ator Marlon Brando, premiado por sua atuação no filme O poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, não compareceu à cerimônia e enviou a atriz indígena Sacheen Littlefeather para fazer um discurso contra o modo como era feita a representação dos nativos americanos em Hollywood. Esse tipo de crítica se estendeu para outros grupos alegadamente minoritários: até 2005, por exemplo, apenas duas mulheres haviam sido indicadas ao prêmio de Melhor Diretor, e nenhuma tinha vencido.

Sacheen Littlefeather recusa o Oscar oferecido a Marlon Brando em 1973

Tais protestos levaram a Academia a adotar, em 2024, algumas diretrizes de Inclusão e de Representação, principalmente para a categoria de Melhor Filme. Por exemplo: para concorrer nesta categoria, um filme precisa atender a dois dos quatro critérios a seguir: 1) o protagonista deve pertencer a alguma minoria (mulheres, grupos étnicos e raciais específicos, integrantes do grupo LGBT+, pessoas com deficiência, etc.); caso este primeiro subcritério não seja atendido, pelo menos 30% do elenco deve pertencer a alguma dessas minorias; ou ainda: o tema principal do filme deve tocar em algum assunto referente a tais minorias. 2) Dois profissionais importantes (diretor, produtor, diretor executivo, roteirista, etc.) da produção do filme devem fazer parte de alguma minoria; ou seis profissionais de funções menores (operador de som, assistente de direção, etc.); e pelo menos 30% de toda a equipe do filme deve fazer parte de alguma minoria. 3) A produção do filme ofereceu algum tipo de estágio ou treinamento para integrantes dos grupos minoritários. 4) O estúdio que está produzindo ou distribuindo o filme tem pelo menos dois integrantes de minorias em cargos executivos.

Esse tipo de política suscitou críticas quanto às preocupações artísticas da Academia, pois, embora seja relativamente fácil atender aos critérios estabelecidos — e, considerando a oferta de oportunidades dentro da indústria, algumas dessas políticas sejam mesmo desejáveis —, tais critérios poderiam ser limitantes e não refletiriam exatamente o estado atual da indústria cinematográfica de cada ano. Por exemplo: se considerarmos um índice como o do site Rotten Tomatoes, é possível encontrar inúmeras produções de 2024 com notas muito maiores — tanto do público quanto da crítica — do que as notas atribuídas a algumas das produções indicadas aos prêmios da Academia.

O diretor e os produtores do filme O senhor dos anéis: o retorno do rei posam com as suas estatuetas

Se apenas a nota do público for considerada, o contraste é ainda maior: o filme Emilia Pérez, por exemplo — que está concorrendo com o brasileiro Ainda estou aqui na categoria de Melhor Filme Internacional e também na categoria de Melhor Filme —, é o segundo filme da história com mais indicações ao Oscar, ao lado de O Senhor dos Aneis: o retorno do Rei. Contudo, o filme obteve uma nota geral de 16/100. Já um filme como O Jurado nº 2, de Clint Eastwood, está com a nota geral de 91/100 — e 94/100 por parte da crítica. Embora Eastwood seja uma figura historicamente bem-vista pela Academia, o seu último filme foi completamente ignorado pela premiação deste ano. Este é apenas um exemplo de inúmeros outros que poderiam ser citados.

Outras críticas à premiação dizem respeito às chamadas “campanhas do Oscar”. Para que um filme possa ser considerado pela Academia, ele precisa chamar a atenção dos membros da instituição. Para isso, o produtor ou o distribuidor precisa investir pesadamente em publicidade, o que excluiria produções independentes que não conseguem parcerias com grandes distribuidores e, consequentemente, seria um reflexo de uma preocupação mais mercadológica do que necessariamente artística.

Conclusão

De toda forma, o Oscar continua a ser um evento que atrai a atenção do mundo inteiro. A mera indicação ao prêmio pode fazer com que o impacto cultural de um filme seja consideravelmente aumentado.

Embora as críticas ao Oscar sejam pertinentes, a atenção que ele suscita anualmente demonstra a sua relevância dentro da cultura popular e mostra porque a premiação continua a ser a mais cobiçada dentro da indústria cinematográfica mundial.


Quer se aprofundar um pouco mais neste assunto? No segundo episódio da nossa série Crítica Cultural, Francisco Escorsim fala da relevância do Oscar e comenta vários filmes indicados e premiados. Assine a Lumine e assista a todos os episódios da série e a centenas de outros filmes e séries inspiradores.

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