“Conversando com Ozu”: o legado atemporal do mestre japonês
Por Leandro Costa
|
23.maio.2025
Midle Dot

Considerado um dos grandes mestres da arte do cinema, o japonês Yasujiro Ozu construiu uma das obras mais coerentes da história, marcada por um estilo inconfundível e uma visão de mundo profundamente singular.

Roteirista e diretor, Ozu assinou 54 produções durante sua vida. A primeira em 1927 — ainda na era do cinema silencioso — e a última em 1962, um ano antes de seu falecimento.

A partir da década de 60, pela influência da crítica e dos estudos acadêmicos, houve um aumento considerável do interesse do público do Ocidente pelo cinema clássico japonês como um todo. Criou-se, então, um pequeno cânone de cineastas, composto pelo próprio Ozu e por cineastas como Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi e Mikio Naruse.

Assim, cresceu a divulgação e a distribuição dos filmes japoneses nos países ocidentais. De modo que esses cineastas “canônicos” passaram a exercer grande influência para além de seu contexto de origem.

No cinema, a década de 60 foi marcada por grandes transformações formais e tecnológicas. Foi a época das chamadas “novas ondas”: a “Nouvelle vague” francesa, o “Cinema novo” brasileiro e seus correspondentes surgidos em outros contextos e países — como Alemanha, Finlândia, Tchecoslováquia, no próprio Japão, etc.

Surgiam novas gerações de cineastas, que passariam a estabelecer um diálogo com tudo o que havia sido produzido até então. Um diálogo que, ao mesmo tempo em que assimilava as qualidades dos cinemas ditos “clássicos”, também se opunha a muitas de suas características, propondo novas formas de expressão e novas abordagens de temas.

Mesmo com essas constantes transformações da arte do cinema, Yasujiro Ozu se manteve como um dos principais pontos de referência. Ele influenciou várias gerações de cineastas — dos seus contemporâneos da “era clássica” do cinema aos cineastas que nasceram quando ele já era idoso, e até mesmo aqueles que nasceram depois de seu falecimento.

Em 1993, por ocasião dos 90 anos de Ozu, houve uma série de comemorações pelo mundo todo: mostras, exibições, restaurações de filmes, documentários em homenagem ao cineasta.

Uma dessas produções é Conversando com Ozu, documentário criado por iniciativa do famoso estúdio Shochiku, do qual Ozu foi um dos fundadores. O filme apresenta entrevistas com grandes diretores de diferentes países. Cineastas que estavam em evidência na década de 90, muitos dos quais iniciaram as suas carreiras durante o período das “novas ondas”.

São cineastas que apresentam estilos, visões de mundo e filiações completamente diferentes — nomes como o finlandês Aki Kaurismaki, a francesa Claire Denis, o taiwanês Hou Hsiao-Hsien e o alemão Wim Wenders. Contudo, todos eles têm algo em comum: a grande admiração pelo cinema de Ozu e o reconhecimento da sua importância para a história do cinema.

Embora as entrevistas sejam breves, é possível perceber o amor que esses cineastas sentem pelo universo pessoal de Ozu; é possível reconhecer o quanto ele foi, de fato, importante na vida de cada um deles. Como podemos ver no belo depoimento de Wim Wenders — ele mesmo autor de um documentário sobre Ozu, Tokyo-Ga, produzido em 1985, e de Dias perfeitos, produção recente de muito sucesso que teve seus temas principais e seu estilo inspirados na obra de Ozu:

Konichiwa. Meu nome é Wim Wenders. Sou um cineasta de Berlim. Eu tenho uma foto de Yasujiro Ozu aqui na minha frente e eu gostaria de falar um pouco sobre ele e para ele. Se você pegar o trem de Yokosuka para Shinagawa em direção a Kita-Kamakura, você vai se deparar com um grande cemitério. Ao chegar ao templo Engakuji, virará à direita e subirá a colina e, então, finalmente, você encontrará um túmulo. É o túmulo do cineasta japonês Ozu, que nasceu cerca de 90 anos atrás e morreu no mesmo dia de seu aniversário, há quase exatos 30 anos. É o túmulo de um cineasta que, na minha opinião — e só posso falar subjetivamente — levou o filme, essa forma de arte do século XX, a atingir a sua mais bela forma. Uma forma que não pode ser imitada ou repetida. Para mim, seu trabalho é como um templo cinematográfico. Por essa razão, visitar seu túmulo é como uma peregrinação para mim.

Para quem está familiarizado com o cinema de Ozu, é facilmente perceptível que, ao lado da observação profundamente poética da vida cotidiana, o segundo tema primordial em seus filmes é o diálogo entre as diferentes gerações do povo japonês. Essa relação entre gerações também é um dos temas de Conversando com Ozu. Ao mesmo tempo que o filme é uma homenagem ao cineasta e uma síntese de sua obra, ele também é um belo relato histórico que revela o poder de permanência da arte de Ozu. Uma arte que ainda continua a encantar os mais variados artistas e públicos — um legado verdadeiramente atemporal.


O documentário Conversando com Ozu e os maiores filmes do cineasta japonês estão disponíveis na Lumine. Assine a plataforma e tenha acesso a estes e a centenas de grandes filmes inspiradores.

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Considerado um dos grandes mestres da arte do cinema, o japonês Yasujiro Ozu construiu uma das obras mais coerentes da história, marcada por um estilo inconfundível e uma visão de mundo profundamente singular.

Roteirista e diretor, Ozu assinou 54 produções durante sua vida. A primeira em 1927 — ainda na era do cinema silencioso — e a última em 1962, um ano antes de seu falecimento.

A partir da década de 60, pela influência da crítica e dos estudos acadêmicos, houve um aumento considerável do interesse do público do Ocidente pelo cinema clássico japonês como um todo. Criou-se, então, um pequeno cânone de cineastas, composto pelo próprio Ozu e por cineastas como Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi e Mikio Naruse.

Assim, cresceu a divulgação e a distribuição dos filmes japoneses nos países ocidentais. De modo que esses cineastas “canônicos” passaram a exercer grande influência para além de seu contexto de origem.

No cinema, a década de 60 foi marcada por grandes transformações formais e tecnológicas. Foi a época das chamadas “novas ondas”: a “Nouvelle vague” francesa, o “Cinema novo” brasileiro e seus correspondentes surgidos em outros contextos e países — como Alemanha, Finlândia, Tchecoslováquia, no próprio Japão, etc.

Surgiam novas gerações de cineastas, que passariam a estabelecer um diálogo com tudo o que havia sido produzido até então. Um diálogo que, ao mesmo tempo em que assimilava as qualidades dos cinemas ditos “clássicos”, também se opunha a muitas de suas características, propondo novas formas de expressão e novas abordagens de temas.

Mesmo com essas constantes transformações da arte do cinema, Yasujiro Ozu se manteve como um dos principais pontos de referência. Ele influenciou várias gerações de cineastas — dos seus contemporâneos da “era clássica” do cinema aos cineastas que nasceram quando ele já era idoso, e até mesmo aqueles que nasceram depois de seu falecimento.

Em 1993, por ocasião dos 90 anos de Ozu, houve uma série de comemorações pelo mundo todo: mostras, exibições, restaurações de filmes, documentários em homenagem ao cineasta.

Uma dessas produções é Conversando com Ozu, documentário criado por iniciativa do famoso estúdio Shochiku, do qual Ozu foi um dos fundadores. O filme apresenta entrevistas com grandes diretores de diferentes países. Cineastas que estavam em evidência na década de 90, muitos dos quais iniciaram as suas carreiras durante o período das “novas ondas”.

São cineastas que apresentam estilos, visões de mundo e filiações completamente diferentes — nomes como o finlandês Aki Kaurismaki, a francesa Claire Denis, o taiwanês Hou Hsiao-Hsien e o alemão Wim Wenders. Contudo, todos eles têm algo em comum: a grande admiração pelo cinema de Ozu e o reconhecimento da sua importância para a história do cinema.

Embora as entrevistas sejam breves, é possível perceber o amor que esses cineastas sentem pelo universo pessoal de Ozu; é possível reconhecer o quanto ele foi, de fato, importante na vida de cada um deles. Como podemos ver no belo depoimento de Wim Wenders — ele mesmo autor de um documentário sobre Ozu, Tokyo-Ga, produzido em 1985, e de Dias perfeitos, produção recente de muito sucesso que teve seus temas principais e seu estilo inspirados na obra de Ozu:

Konichiwa. Meu nome é Wim Wenders. Sou um cineasta de Berlim. Eu tenho uma foto de Yasujiro Ozu aqui na minha frente e eu gostaria de falar um pouco sobre ele e para ele. Se você pegar o trem de Yokosuka para Shinagawa em direção a Kita-Kamakura, você vai se deparar com um grande cemitério. Ao chegar ao templo Engakuji, virará à direita e subirá a colina e, então, finalmente, você encontrará um túmulo. É o túmulo do cineasta japonês Ozu, que nasceu cerca de 90 anos atrás e morreu no mesmo dia de seu aniversário, há quase exatos 30 anos. É o túmulo de um cineasta que, na minha opinião — e só posso falar subjetivamente — levou o filme, essa forma de arte do século XX, a atingir a sua mais bela forma. Uma forma que não pode ser imitada ou repetida. Para mim, seu trabalho é como um templo cinematográfico. Por essa razão, visitar seu túmulo é como uma peregrinação para mim.

Para quem está familiarizado com o cinema de Ozu, é facilmente perceptível que, ao lado da observação profundamente poética da vida cotidiana, o segundo tema primordial em seus filmes é o diálogo entre as diferentes gerações do povo japonês. Essa relação entre gerações também é um dos temas de Conversando com Ozu. Ao mesmo tempo que o filme é uma homenagem ao cineasta e uma síntese de sua obra, ele também é um belo relato histórico que revela o poder de permanência da arte de Ozu. Uma arte que ainda continua a encantar os mais variados artistas e públicos — um legado verdadeiramente atemporal.


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