Arte e civilidade: você precisa ler isso
Por Matheus Bazzo
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13.set.2024
Midle Dot

“A arte é essencial. A razão, sozinha, tal como é expressa pelas ciências, não pode ser uma resposta completa do homem para a realidade, pois ela não consegue expressar tudo o que o homem pode, quer e precisa expressar. Penso que Deus colocou essas coisas dentro homem. A ciência e a arte são os maiores presentes que Deus deu aos homens.” papa Bento XVI

É inegável que o brasileiro tem uma tendência tribal de defender fanaticamente seu próprio grupo social em detrimento de outros grupos. Convivendo com católicos e cristãos de outros lugares do mundo, noto que essa tendência é ainda mais acentuada nos grupos que compõem a Igreja no Brasil.

Digo no Brasil porque até hoje não notei um fanatismo tão grande em outros lugares, principalmente entre italianos e americanos com quem já convivi. Por que dentro do grupo religioso que supostamente deveria conviver em maior harmonia notamos uma tendência ao julgamento condenatório fanático? Não estou falando de pessoas que estão competindo socialmente ou que tem interesses antagônicos. Grupos com interesses em comum facilmente entram em conflito simplesmente por não concordar com as diferenças formais insignificantes dos outros grupos.

Atribuo essa dificuldade que o brasileiro tem de lidar com a diferença à baixíssima experiência que temos da arte e da cultura. Isso porque a arte trata fundamentalmente de diferenças formais. As esculturas, por exemplo, se diferenciam menos pela matéria de que são feitas do que pela forma com que foram construídas. Uma escultura de Apolo feita de bronze, de mármore ou de madeira terá poucas diferenças em termos de representação simbólica por causa das diferentes opções de matéria.

Ou seja, a matéria, o conteúdo de que são feitas as estátuas, é praticamente o mesmo, o que as diferencia é a forma como a matéria é modelada. O mesmo vale para a pintura, cinema, arquitetura, música, etc. Basta pensar quantas músicas diferentes foram compostas até hoje somente com a mesma escala pentatônica.

As diferenças materiais não comprometem tanto o resultado final de uma obra. Esse resultado é determinado pela sua concepção formal. O indivíduo que consome arte compreende que existem infinitas maneiras de representar a beleza utilizando a mesma matéria. Ou seja, dentro do campo da beleza, existem inúmeras formas de representar o que é sublime. Repare que nenhuma igreja é igual a outra, assim como nenhum quadro é igual a outro.

É possível perceber essa diferença com muita facilidade no campo artístico, porém é possível fazer a mesma relação no campo moral. Dentro das opções moralmente viáveis, há inúmeras formas de agir. Algumas formas de agir são imorais, portanto estão fora das possibilidades do campo moral. Mas dentro do que é correto e bom de ser feito, existem inúmeras possibilidades de ação. Mesmo no bom agir existem diferentes maneiras de se comportar. O que se nota é que no Brasil as pessoas têm muita dificuldade de compreender essas nuances: em um objetivo bom e comum existem diferenças formais. Essas diferenças, portanto, não podem ser tratadas como uma imoralidade ou um escândalo.

Santa Teresinha dizia que um jardim feio é aquele onde todas as flores são iguais. É preciso que exista diferentes formas de expressão do bem para que haja beleza e harmonia na sociedade. Noto que entre os brasileiros não há essa compreensão básica sobre a ação humana. A ideia de que grupos com interesse em comum podem e devem agir de maneira diferente para conquistar objetivos semelhantes.

Isso não acontece somente entre católicos. Essa dificuldade de percepção está espalhada por todos os meios. Dentro de empresas isso é extremamente comum. Mesmo sendo evidente que o objetivo de uma empresa deveria ser o mesmo para todos os funcionários e colaboradores, muitas vezes vemos a formação de pequenos grupos internos que criticam cegamente um ao outro.

“Jesus aceitou instruir-me a respeito desse mistério, pôs diante dos meus olhos o livro da natureza, e compreendi que todas as flores que Ele criou são belas, que o brilho da rosa e a alvura do lírio não impedem o perfume da pequena violeta ou a simplicidade encantadora da margarida… Compreendi que se todas as florezinhas quisessem ser rosas a natureza perderia seu adorno primaveril, os campos não seriam mais salpicados de florezinhas… Assim é no mundo das almas, o jardim de Jesus.” — Santa Teresinha do Menino Jesus

O fanatismo tribal é fruto da falta de civilidade. E o baixo nível de percepção artística indica justamente essa falta. Compreender que existem diferenças de nuance, de hierarquia, de delicadeza, de ênfase é próprio da educação artística. Como a experiência estética no Brasil é muito pobre, eu noto que as pessoas facilmente adotam esse tipo de comportamento idiota. A capacidade de discernir diferenças formais é fundamental para compreender as diferenças na escala da hierarquia moral.

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“A arte é essencial. A razão, sozinha, tal como é expressa pelas ciências, não pode ser uma resposta completa do homem para a realidade, pois ela não consegue expressar tudo o que o homem pode, quer e precisa expressar. Penso que Deus colocou essas coisas dentro homem. A ciência e a arte são os maiores presentes que Deus deu aos homens.” papa Bento XVI

É inegável que o brasileiro tem uma tendência tribal de defender fanaticamente seu próprio grupo social em detrimento de outros grupos. Convivendo com católicos e cristãos de outros lugares do mundo, noto que essa tendência é ainda mais acentuada nos grupos que compõem a Igreja no Brasil.

Digo no Brasil porque até hoje não notei um fanatismo tão grande em outros lugares, principalmente entre italianos e americanos com quem já convivi. Por que dentro do grupo religioso que supostamente deveria conviver em maior harmonia notamos uma tendência ao julgamento condenatório fanático? Não estou falando de pessoas que estão competindo socialmente ou que tem interesses antagônicos. Grupos com interesses em comum facilmente entram em conflito simplesmente por não concordar com as diferenças formais insignificantes dos outros grupos.

Atribuo essa dificuldade que o brasileiro tem de lidar com a diferença à baixíssima experiência que temos da arte e da cultura. Isso porque a arte trata fundamentalmente de diferenças formais. As esculturas, por exemplo, se diferenciam menos pela matéria de que são feitas do que pela forma com que foram construídas. Uma escultura de Apolo feita de bronze, de mármore ou de madeira terá poucas diferenças em termos de representação simbólica por causa das diferentes opções de matéria.

Ou seja, a matéria, o conteúdo de que são feitas as estátuas, é praticamente o mesmo, o que as diferencia é a forma como a matéria é modelada. O mesmo vale para a pintura, cinema, arquitetura, música, etc. Basta pensar quantas músicas diferentes foram compostas até hoje somente com a mesma escala pentatônica.

As diferenças materiais não comprometem tanto o resultado final de uma obra. Esse resultado é determinado pela sua concepção formal. O indivíduo que consome arte compreende que existem infinitas maneiras de representar a beleza utilizando a mesma matéria. Ou seja, dentro do campo da beleza, existem inúmeras formas de representar o que é sublime. Repare que nenhuma igreja é igual a outra, assim como nenhum quadro é igual a outro.

É possível perceber essa diferença com muita facilidade no campo artístico, porém é possível fazer a mesma relação no campo moral. Dentro das opções moralmente viáveis, há inúmeras formas de agir. Algumas formas de agir são imorais, portanto estão fora das possibilidades do campo moral. Mas dentro do que é correto e bom de ser feito, existem inúmeras possibilidades de ação. Mesmo no bom agir existem diferentes maneiras de se comportar. O que se nota é que no Brasil as pessoas têm muita dificuldade de compreender essas nuances: em um objetivo bom e comum existem diferenças formais. Essas diferenças, portanto, não podem ser tratadas como uma imoralidade ou um escândalo.

Santa Teresinha dizia que um jardim feio é aquele onde todas as flores são iguais. É preciso que exista diferentes formas de expressão do bem para que haja beleza e harmonia na sociedade. Noto que entre os brasileiros não há essa compreensão básica sobre a ação humana. A ideia de que grupos com interesse em comum podem e devem agir de maneira diferente para conquistar objetivos semelhantes.

Isso não acontece somente entre católicos. Essa dificuldade de percepção está espalhada por todos os meios. Dentro de empresas isso é extremamente comum. Mesmo sendo evidente que o objetivo de uma empresa deveria ser o mesmo para todos os funcionários e colaboradores, muitas vezes vemos a formação de pequenos grupos internos que criticam cegamente um ao outro.

“Jesus aceitou instruir-me a respeito desse mistério, pôs diante dos meus olhos o livro da natureza, e compreendi que todas as flores que Ele criou são belas, que o brilho da rosa e a alvura do lírio não impedem o perfume da pequena violeta ou a simplicidade encantadora da margarida… Compreendi que se todas as florezinhas quisessem ser rosas a natureza perderia seu adorno primaveril, os campos não seriam mais salpicados de florezinhas… Assim é no mundo das almas, o jardim de Jesus.” — Santa Teresinha do Menino Jesus

O fanatismo tribal é fruto da falta de civilidade. E o baixo nível de percepção artística indica justamente essa falta. Compreender que existem diferenças de nuance, de hierarquia, de delicadeza, de ênfase é próprio da educação artística. Como a experiência estética no Brasil é muito pobre, eu noto que as pessoas facilmente adotam esse tipo de comportamento idiota. A capacidade de discernir diferenças formais é fundamental para compreender as diferenças na escala da hierarquia moral.

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