Lançado em 1943, A Canção de Bernadette se consolidou como uma das grandes obras da Hollywood Clássica. Baseado no livro homônimo do escritor austríaco Franz Werfel, o filme foi vencedor de quatro prêmios Oscar — incluindo o de Melhor Atriz para a protagonista Jennifer Jones — e recebeu o Globo de Ouro nas categorias de melhor filme e melhor diretor. Além de sua inegável qualidade cinematográfica, é uma das raras produções hollywoodianas que abordam o tema da fé de uma forma ao mesmo tempo franca e formalmente bem acabada.
Franz Werfel era um judeu de língua alemã que nasceu na cidade Praga, em 1890. Na década de 30, quando morava em Viena, Werfel se notabilizou por suas peças em que satirizava os nazistas, o que fez com que ele se transformasse em um alvo para o regime.
Quando a Alemanha anexou a Áustria, em 1938, Werfel e a esposa fugiram para Paris. Contudo, quando a França foi invadida em 1940, o casal precisou buscar abrigo em um lugar mais discreto, pois as principais cidades estavam tomadas pelos soldados alemães e por pessoas que trabalhavam para eles.
Werfel e a esposa acabaram refugiando-se em Lourdes, cidade conhecida pelas aparições marianas e pelos milagres atribuídos a Nossa Senhora. O casal foi acolhido por famílias locais, que compartilharam com Werfel a história de Bernadette Sobirous. Profundamente tocado com a história e com a espiritualidade daquelas pessoas, o escritor fez uma promessa: caso conseguisse escapar em segurança daquela situação, ele escreveria um romance contando a história de Bernadette.
Em 1942, quando conseguiu fugir para os Estados Unidos, Werfel cumpriu a sua promessa e publicou o livro A canção de Bernadette, o qual rapidamente se tornou um best-seller.
A adaptação foi feita pelo diretor Henry King, um dos grandes cineastas da Hollywood clássica. Embora King não seja tão lembrado quanto outros diretores — como Ford, Hawks, Welles e Hitchcock, por exemplo — sua filmografia conta com alguns filmes lapidares, como é o caso deste A canção de Bernadette, que o próprio King considerava como um dos melhores de sua obra.
King estruturou sua adaptação a partir de três pontos centrais: a sinceridade da devoção de Bernadette; o drama dessa jovem que, “do dia para a noite”, torna-se, simultaneamente, alguém a quem são dirigidas a mais profunda admiração e a mais aguda hostilidade; e a intensa experiência espiritual da jovem, que transforma completamente a sua vida e a ajuda a ser perseverante nos conflitos que precisa enfrentar.
A narrativa acompanha o desenvolvimento espiritual de santa Bernadette, mas, além disso, cria um contexto social que é determinante para a verossimilhança e para o efeito dramático do filme. Desde o início, em que acompanhamos as dificuldades financeiras da família da santa, até o final, quando Bernadette vai morar no convento de Nevers, sua fé é confrontada por diversas forças diferentes: sua própria família, as autoridades locais e até os próprios líderes religiosos. Ela vai vencendo cada um desses obstáculos, tocando a vida das pessoas com as quais convive e aprofundando-se cada vez mais em sua própria fé.
A forma do filme acompanha esse desenvolvimento. Se nas primeiras partes da narrativa Henry King privilegia os planos gerais, destacando o contexto social da história e os ambientes espaciais, a última parte, quando acompanhamos a vida de Bernadette no convento — e, particularmente, a sua agonia —, privilegia os planos fechados, principalmente no rosto da santa, pois, aí, a sua trajetória de vida atingiu um grande nível de despojamento e de sacrifício, que são expressos pelas feições da protagonista. Assim, essa mudança de perspectiva intensifica a introspecção e impacto emocional do desfecho.
Premiada com o Oscar de melhor atriz, a performance de Jennifer Jones é um dos principais elementos pelos quais o espectador se envolve com o filme. O modo como Jones representa santa Bernadette ilustra todas as inflexões de sua alma, com sentimentos como alegria, tristeza, compaixão e serenidade.
Além da atuação de Jones, há outros elementos que se destacam, como a trilha sonora, que cria a atmosfera mística das aparições marianas; a cinematografia, que cria uma dinâmica de luz e sombras, o que faz com que os quadros sejam sempre dramáticos e visualmente interessantes; e a direção de arte, aparentemente simples, mas que apresenta uma detalhada reconstrução da França do século XIX.
A Canção de Bernadette é uma pérola dos filmes clássicos. As produções de Hollywood são geralmente conhecidas por seu secularismo e até mesmo por sua hostilidade à religião, principalmente ao catolicismo. O filme de King, ao contrário, se destaca pela forma ao mesmo tempo profunda e respeitosa com que descreve a experiência de Bernadette e sua espiritualidade.
Embora o filme seja francamente dogmático, seu impacto vai muito além da fé católica. Para além de sua premissa sobrenatural, A canção de Bernadette é um filme emocionante, que tem o poder de tocar espectadores das mais diferentes crenças, pois o modo como as situações são retratadas e os seus elementos formais — roteiro, direção, montagem — não o transformam em uma obra apologética.
Obviamente, para o público católico o filme apresenta um interesse particular, pois as aparições de Lourdes são um dos fatos mais extraordinários da história da Igreja Católica, um dos maiores testemunhos da sua verdade sobrenatural — e uma grande fonte de graças para os seus fiéis.
A canção de Bernadette consegue retratar essa dimensão espiritual como poucos, a partir de uma abordagem simples e direta, mas ao mesmo tempo sensível, poética e universal. Um dos grandes filmes da história sobre um dos seus mais belos acontecimentos. Uma obra de arte sublime.
***
Assine a Lumine e assista hoje mesmo ao filme A canção de Bernadette e a centenas de outros filmes clássicos e inspiradores!
Lançado em 1943, A Canção de Bernadette se consolidou como uma das grandes obras da Hollywood Clássica. Baseado no livro homônimo do escritor austríaco Franz Werfel, o filme foi vencedor de quatro prêmios Oscar — incluindo o de Melhor Atriz para a protagonista Jennifer Jones — e recebeu o Globo de Ouro nas categorias de melhor filme e melhor diretor. Além de sua inegável qualidade cinematográfica, é uma das raras produções hollywoodianas que abordam o tema da fé de uma forma ao mesmo tempo franca e formalmente bem acabada.
Franz Werfel era um judeu de língua alemã que nasceu na cidade Praga, em 1890. Na década de 30, quando morava em Viena, Werfel se notabilizou por suas peças em que satirizava os nazistas, o que fez com que ele se transformasse em um alvo para o regime.
Quando a Alemanha anexou a Áustria, em 1938, Werfel e a esposa fugiram para Paris. Contudo, quando a França foi invadida em 1940, o casal precisou buscar abrigo em um lugar mais discreto, pois as principais cidades estavam tomadas pelos soldados alemães e por pessoas que trabalhavam para eles.
Werfel e a esposa acabaram refugiando-se em Lourdes, cidade conhecida pelas aparições marianas e pelos milagres atribuídos a Nossa Senhora. O casal foi acolhido por famílias locais, que compartilharam com Werfel a história de Bernadette Sobirous. Profundamente tocado com a história e com a espiritualidade daquelas pessoas, o escritor fez uma promessa: caso conseguisse escapar em segurança daquela situação, ele escreveria um romance contando a história de Bernadette.
Em 1942, quando conseguiu fugir para os Estados Unidos, Werfel cumpriu a sua promessa e publicou o livro A canção de Bernadette, o qual rapidamente se tornou um best-seller.
A adaptação foi feita pelo diretor Henry King, um dos grandes cineastas da Hollywood clássica. Embora King não seja tão lembrado quanto outros diretores — como Ford, Hawks, Welles e Hitchcock, por exemplo — sua filmografia conta com alguns filmes lapidares, como é o caso deste A canção de Bernadette, que o próprio King considerava como um dos melhores de sua obra.
King estruturou sua adaptação a partir de três pontos centrais: a sinceridade da devoção de Bernadette; o drama dessa jovem que, “do dia para a noite”, torna-se, simultaneamente, alguém a quem são dirigidas a mais profunda admiração e a mais aguda hostilidade; e a intensa experiência espiritual da jovem, que transforma completamente a sua vida e a ajuda a ser perseverante nos conflitos que precisa enfrentar.
A narrativa acompanha o desenvolvimento espiritual de santa Bernadette, mas, além disso, cria um contexto social que é determinante para a verossimilhança e para o efeito dramático do filme. Desde o início, em que acompanhamos as dificuldades financeiras da família da santa, até o final, quando Bernadette vai morar no convento de Nevers, sua fé é confrontada por diversas forças diferentes: sua própria família, as autoridades locais e até os próprios líderes religiosos. Ela vai vencendo cada um desses obstáculos, tocando a vida das pessoas com as quais convive e aprofundando-se cada vez mais em sua própria fé.
A forma do filme acompanha esse desenvolvimento. Se nas primeiras partes da narrativa Henry King privilegia os planos gerais, destacando o contexto social da história e os ambientes espaciais, a última parte, quando acompanhamos a vida de Bernadette no convento — e, particularmente, a sua agonia —, privilegia os planos fechados, principalmente no rosto da santa, pois, aí, a sua trajetória de vida atingiu um grande nível de despojamento e de sacrifício, que são expressos pelas feições da protagonista. Assim, essa mudança de perspectiva intensifica a introspecção e impacto emocional do desfecho.
Premiada com o Oscar de melhor atriz, a performance de Jennifer Jones é um dos principais elementos pelos quais o espectador se envolve com o filme. O modo como Jones representa santa Bernadette ilustra todas as inflexões de sua alma, com sentimentos como alegria, tristeza, compaixão e serenidade.
Além da atuação de Jones, há outros elementos que se destacam, como a trilha sonora, que cria a atmosfera mística das aparições marianas; a cinematografia, que cria uma dinâmica de luz e sombras, o que faz com que os quadros sejam sempre dramáticos e visualmente interessantes; e a direção de arte, aparentemente simples, mas que apresenta uma detalhada reconstrução da França do século XIX.
A Canção de Bernadette é uma pérola dos filmes clássicos. As produções de Hollywood são geralmente conhecidas por seu secularismo e até mesmo por sua hostilidade à religião, principalmente ao catolicismo. O filme de King, ao contrário, se destaca pela forma ao mesmo tempo profunda e respeitosa com que descreve a experiência de Bernadette e sua espiritualidade.
Embora o filme seja francamente dogmático, seu impacto vai muito além da fé católica. Para além de sua premissa sobrenatural, A canção de Bernadette é um filme emocionante, que tem o poder de tocar espectadores das mais diferentes crenças, pois o modo como as situações são retratadas e os seus elementos formais — roteiro, direção, montagem — não o transformam em uma obra apologética.
Obviamente, para o público católico o filme apresenta um interesse particular, pois as aparições de Lourdes são um dos fatos mais extraordinários da história da Igreja Católica, um dos maiores testemunhos da sua verdade sobrenatural — e uma grande fonte de graças para os seus fiéis.
A canção de Bernadette consegue retratar essa dimensão espiritual como poucos, a partir de uma abordagem simples e direta, mas ao mesmo tempo sensível, poética e universal. Um dos grandes filmes da história sobre um dos seus mais belos acontecimentos. Uma obra de arte sublime.
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